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A sociedade brasileira e o abismo do fanático mundo partidário

Por Leandro Flores

Sou do tipo que não se enquadra em nenhum tipo de “encaixotamento” político, religioso ou ideológico. Simplesmente não consigo fechar os meus olhos, escolher um lado e achar que quem não concorda comigo (ou que quem escolheu o outro lado no qual eu não me encontro) esteja errado e que eu deva combater veementemente até convencê-lo de seus equívocos… Não. Não, não sou o dono da verdade. Até porque a verdade, muitas das vezes é relativa. Vai depender do ângulo de observação.

Quando se trata de política então, a coisa fica mais relativa do que nunca. Quem em sã consciência intelectual ou cultural vá afirmar categoricamente que o que se passa atualmente com o nosso país seja apenas um objeto de POSICIONAMENTO POLÍTICO? Que quem seja a favor de uma determinada lógica política esteja completamente com a razão e que o outro lado seja o usurpador, o alienado ou o ladrão da história?

Passamos por uma turbulência que certamente será histórica e decisiva para o futuro de nossa tão estimada “Pátria amada”. O Brasil vive uma crise que ultrapassa a área econômica, financeira, política, ética, moral… É uma crise existencial. Não podemos escolher um lado do galho e ficar jogando pedra em quem está do outro lado, buscando o mesmo objetivo. É preciso que haja respeito e tolerância se quisermos encontrar realmente um caminho para se sair da beirada do precipício. Continue lendo

PENA DE MORTE E RELIGIÃO CRISTÃ

Levon Nascimento

A julgar pelos números da última pesquisa Datafolha (08/01/2018) e forçando uma interpretação “sui generis”, 63% dos católicos brasileiros seriam favoráveis à condenação de Jesus à morte na cruz por parte dos poderes públicos do período em que ele viveu, seguidos com o apoio de 50% dos evangélicos para o mesmo fim. Já entre os ateus, mais de 50% seriam contrários.

Observações:
1) Tempos estranhos: a maioria daqueles que seguem o livro que tem como um dos mandamentos “Não matarás” (Êxodo 20,13), defendendo a violência e desejando assassinar através das mãos do Estado.

2) Ateus “mais temerosos a Deus” do que “cristãos”!?

3) Onde ficam os ensinamentos de CRISTO sobre “amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (João 15,12) ou “perdoai até setenta vezes sete” (Mateus 18,32) para os que se declaram CRISTÃOS?

Enfim, especialistas em ciências sociais afirmam que em momentos de crise, como o de agora, o desejo por violência e sangue costuma aflorar nas sociedades. As pessoas, especialmente as mais pobres, sentem na pele a violência econômica, do Estado e da marginalidade em suas vidas, com maior intensidade do que as classes ricas. O perigo é que espertalhões da política se apropriem desse sentimento e aproveitem para implantar o terror, como fez Hitler na Alemanha dos anos 1930, o que só viria a agravar ainda mais a situação violenta. Inclusive, já temos um candidato a Hitler no Brasil. Fiquemos mais espertos e prudentes do que as serpentes (Mateus 10,16).

Para fechar, veja o que Jesus disse diretamente às pessoas que se julgavam muito religiosas na época em que ele viveu na Terra: “Em verdade vos digo: os publicanos [cobradores de impostos] e as meretrizes [prostitutas] vos precedem [entram primeiro] no Reino de Deus!” (Mateus 21,31b).

 

A caminho do brejo

Por Cora Ronái

CORA                                          A sociedade dá de ombros, vencida pela inércia
Um país não vai para o brejo de um momento para o outro — como se viesse andando na estradinha, qual vaca, cruzasse uma cancela e, de repente, saísse do barro firme e embrenhasse pela lama. Um país vai para o brejo aos poucos, construindo a sua desgraça ponto por ponto, um tanto de corrupção aqui, um tanto de demagogia ali, safadeza e impunidade de mãos dadas. Há sinais constantes de perigo, há abundantes evidências de crime por toda a parte, mas a sociedade dá de ombros, vencida pela inércia e pela audácia dos canalhas.
Aquelas alegres viagens do então governador Sérgio Cabral, por exemplo, aquele constante ir e vir de helicópteros. Aquela paixão do Lula pelos jatinhos. Aquelas comitivas imensas da Dilma, hospedando-se em hotéis de luxo. Aquele aeroporto do Aécio, tão bem localizado. Aqueles jantares do Cunha. Aqueles planos de saúde, aqueles auxílios moradia, aqueles carros oficiais. Aquelas frotas sempre renovadas, sem que se saiba direito o que acontece com as antigas. Aqueles votos secretos. Aquelas verbas para “exercício do mandato”. Aquelas obras que não acabam nunca. Aqueles estádios da Copa. Aqueles superfaturamentos.
Aquelas residências oficiais. Aquelas ajudas de custo. Aquelas aposentadorias. Aquelas vigas da perimetral. Aquelas diretorias da Petrobras.
A lista não acaba.
Um país vai para o brejo quando políticos lutam por cargos em secretarias e ministérios não porque tenham qualquer relação com a área, mas porque secretarias e ministérios têm verbas — e isso é noticiado como fato corriqueiro da vida pública.
Um país vai para o brejo quando representantes do povo deixam de ser povo assim que são eleitos, quando se criam castas intocáveis no serviço público, quando esses brâmanes acreditam que não precisam prestar contas a ninguém — e isso é aceito como normal por todo mundo.
Um país vai para o brejo quando as suas escolas e os seus hospitais públicos são igualmente ruins, e quando os seus cidadãos perdem a segurança para andar nas ruas, seja por medo de bandido, seja por medo de polícia.
Um país vai para o brejo quando não protege os seus cidadãos, não paga aos seus servidores, esfola quem tem contracheque e dá isenção fiscal a quem não precisa.
Um país vai para o brejo quando os seus poderosos têm direito a foro privilegiado.
Um país vai para o brejo quando se divide, e quando os seus habitantes passam a se odiar uns aos outros; um país vai para o brejo quando despenca nos índices de educação, mas a sua população nem repara porque está muito ocupada se ofendendo mutuamente nas redes sociais. Enquanto isso tem gente nas ruas estourando fogos pelos times de futebol!

 

 

Brumado: Professor e Doutor do Curso de Direito escreve artigo sobre julgamento de Lula

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Professor Dr. João Batista de Castro Júnior

O professor João Batista de Castro Júnior escreveu um artigo bombástico com o título: “O que esperar do julgamento de Lula”. O documento foi publicado no site da Probus, entidade associativa beneficente de direito privado, de utilidade pública e sem fins lucrativos, com autonomia administrativa e financeira, constituída por tempo indeterminado por docentes e discentes da Universidade do Estado da Bahia (Uneb). “Filhos da deficiente formação acadêmica, todos esses atores jurídicos permanecem cegos ao dano colossal em tirar Lula da cena da disputa democrática através de artifícios legais, dando lugar ao nascimento de sombrio e vergonhoso horizonte político, além de estarem condenando a magistratura a um estigma social ainda mais odioso do aquele que já ostenta”, disse o professor no texto. João Batista de Castro Júnior é Professor Doutor do Curso de Direito da Universidade do Estado da Bahia, Uneb /Campus XX, em Brumado. Continue lendo

A MARGARINA, O GALO E OS PARDAIS

Por: José Lima Santana

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                                                           Padre José Lima Santana

O sujeito saiu de casa, no fim da tarde, para comprar margarina. Margarina. Puxa vida! Como foi que a mulher deixou faltar margarina em casa? Saiu na bronca. Além do mais, um amigo lhe disse que margarina era quase uma matéria plástica. Um horror! Mas, a sogra dele só comia margarina. Margarina! Era terrível deixar a caminhada em torno da quadra do prédio para ir comprar margarina. Enfrentar o trânsito no fim da tarde. Enfrentar a fila no caixa do mercadinho. Tudo isso para comprar um mísero pote de margarina.
JLSA MARGARINA, O GALO E OS PARDAIS – Imagem: byfafah

Não tinha jeito. Pegou o carro. Saiu. A caminho do mercadinho, voltou o pensamento para a família, no interior. Nunca mais tinha ido à cidade natal. Achou-se um filho ingrato. Se já não tinha mais pai e mãe vivos, tinha irmãos, sobrinhos, tios e tias. Não custava dar uma esticada, fazer uma visita. A vida na capital asfixiava. Naquele momento, por exemplo, ele precisava de ar. De ar interiorano. De um lugar bucólico onde pudesse passar ao menos uns bons momentos. Sentiu-se ainda mais um filho ingrato. A sua cidade poderia lhe dar aqueles bons momentos. Continue lendo

Viva a Vida

Por Valdir Barbosa

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Valdir Barbosa

Dizem que o tempo passa rápido, na verdade ele, o tempo, não caminha rápido nem devagar, sua dinâmica se basta por si mesma, induvidosamente viaja na velocidade certa, perfeita e acabada. A ansiedade do ser humano é quem responde por estas situações que dão a algo tão justo, uma feição destorcida. Seres capazes de meditar, mergulhar nas nuances escondidas no espírito atemporal vivo em cada uma das criaturas, sabem disto.
Ontem decidi voltar no tempo, da forma como faço vez em quando e mergulhei nas praias dos meus primeiros banhos profissionais. Assim também o fiz na direção da realidade onde plantei uma das sementes amorosas, dentre tantas deste meu viver um tanto alucinado e renasci no relicário das memórias.
Netos, filha e genro amorosos cuidaram de fazer, entre pessoas muito caras, um banquete para mim, então, fui recebido como rei, no canto onde são hoje estes descendentes, tudo quanto não seria capaz de entender assim seriam, desde quando as coisas viajam em progressão, tal qual círculos concêntricos. O cenário aparentemente igual revela uma espiral ascendente imponderável, aos que disto não entendem, capaz de continuar na sua evolução irreversível. Continue lendo

Artigo: Minhas memórias

Por Levon NascimentoLevonEm janeiro de 1985 – com oito anos de idade – vi pela TV, sem entender direito, a eleição indireta no Congresso que elegeu Tancredo Neves e pôs fim à ditadura militar (1964-1985).

Em 1986, a professora da 3ª série trabalhou uma revista em quadrinhos publicada pelo Governo de Minas Gerais que falava sobre Democracia, Assembleia Constituinte e Constituição. Encantei-me com as três expressões e elas nunca mais saíram de minha vida.

Depois fui compreendendo mais, diferenciando “ditadura” de “democracia”, da 5ª à 8ª série, com uma excelente professora de História.

O Ensino Médio e a militância na Pastoral da Juventude me ajudaram a consolidar as intenções democráticas e as utopias da participação política e da igualdade social.

A graduação em Ciências Sociais me deu fundamentos para o caminho. Continue lendo

Discurso de Ulisses Guimarães, Pres. da Assembléia Nacional Constituinte

Antonio Novais Torres

antonio-novais-torresUlysses Guimarães – Exmo. Sr. Presidente da República, José Sarney; Exmo. Sr. Presidente do Senado Federal, Humberto Lucena; Exmo. Sr. Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Rafael Mayer; Srs. membros da Mesa da Assembleia Nacional Constituinte; eminente Relator Bernardo Cabral; preclaros Chefes do Poder Legislativo de nações amigas; insignes Embaixadores, saudados no decano D. Carlo Furno; Exmos. Srs. Ministros de Estado; Exmos. Srs. Governadores de Estado; Exmos. Srs. Presidentes de Assembleias Legislativas; dignos Líderes partidários; autoridades civis, militares e religiosas, registrando o comparecimento do Cardeal D. José Freire Falcão, Arcebispo de Brasília, e de D. Luciano Mendes de Almeida, Presidente da CNBB; prestigiosos Srs. Presidentes de confederações, Sras. e Srs. Constituintes;
Minhas senhoras e meus senhores:
Estatuto do Homem, da Liberdade, da Democracia. Dois de fevereiro de 1987: “Ecoam nesta sala as reivindicações das ruas. A Nação quer mudar, a Nação deve mudar, a Nação vai mudar.” São palavras constantes do discurso de posse como Presidente da Assembleia Nacional Constituinte.
Hoje, 5 de outubro de 1988, no que tange à Constituição, a Nação mudou.
A Constituição mudou na sua elaboração, mudou na definição dos poderes, mudou restaurando a Federação, mudou quando quer mudar o homem em cidadão, e só é cidadão quem ganha justo e suficiente salário, lê e escreve, mora, tem hospital e remédio, lazer quando descansa. Num país de 30.401.000 analfabetos, afrontosos 25% da população, cabe advertir: a cidadania começa com o alfabeto. Continue lendo

Artigo: Qual é o problema do Brasil?

SEGUNDA-FEIRA, 11 DE SETEMBRO DE 2017
O povo brasileiro                                                        Os operário (1933), de Tarsila Amaral
* Levon Nascimento

Levadas pela overdose patrocinada pela mídia comercial, as pessoas pensam que o principal problema do Brasil é a corrupção. É “a tolice da inteligência brasileira ou como o país se deixa manipular pela elite”, título de um dos estudos basilares do pensador social brasileiro e ex-presidente do IPEA Jessé Souza. Mais adiante ele diz: “a classe média é feita de imbecil pela elite”.

A corrupção, mesmo grave e escandalosa, é consequência de um problema muito maior, histórico e estrutural: a desigualdade social.

Sim, o Brasil é campeão em desigualdade social. Herança dos quase quatrocentos anos de escravidão.

Muitos poderão dizer que houve escravidão em outros países e que eles não são tão desiguais ou corruptos quanto o Brasil e estarão falando a verdade. Mas a nossa escravidão teve algumas particularidades bem decisivas e cruéis. Continue lendo

Artigo: Os pingos nos is

José Rodrigues de Novais Alegre Condeúba Barra do Rio Zona Rural BahiaA casa de Arlinda e Zeca

Vi hoje uma casa abandonada na roça, no sertão da Bahia, divisa com Minas, de pessoas que eu conheci quando criança, que já partiram do planeta. Fica na Barra do Rio, perto do Distrito do Alegre, Condeúba.

Sem demagogia, deu pra sentir na prática que ninguém é dono de nada.

A propriedade privada, se é que existe, é da Terra sobre nós. O inverso, jamais.

Artigo: Os pingos nos is

* Levon Nascimento

Taiobeiras cobrança custeio iluminação pública zona ruralCoisa mais comum é a sociedade organizada divulgar nomes e retratos de deputados e senadores que votam contra ou a favor de medidas de grande repercussão para a vida das pessoas.

Agora mesmo, listas de quem salvou Michel Temer de ser investigado pelos crimes dos quais é acusado, pulam em nossas vistas nas redes sociais.

É assim que funciona o Estado Democrático de Direito. Se é que ainda temos um.

Espantoso é que alguns vereadores e ex-vereadores acionaram a polícia contra o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Taiobeiras porque a entidade fez um banner com as fotos dos parlamentares que, em 2016, aprovaram a cobrança de contribuição de custeio de iluminação pública para quem mora na roça, onde não existe iluminação pública em frente das casas.

Coisa feia! Com tanta criminalidade atormentando a vida do povo taiobeirense, esses políticos foram chamar a polícia para a representação dos trabalhadores, gente honesta, que luta dia e noite para por comida saudável na mesa de quem mora na cidade. Lembrando que são alguns. Não todos.

Cobrar iluminação pública onde não tem iluminação pública, mais uma chicotada no lombo de quem trabalha. “Ah, mas o pessoal da roça vem para a cidade à noite, onde tem poste na rua, por isso tem que pagar”: devem pensar os responsáveis por essa insensatez. Como são esquisitos os nossos liberais meritocratas!

Provavelmente dizem que o Sindicato está fazendo política. Estranho seria se não estivesse. Se até uma mãe ou um pai ao dizer um não ou proibir os filhos de realizarem qualquer coisa estão agindo politicamente, usando do pátrio-poder, por que uma entidade de classe não poderia pressionar os políticos para defender os seus associados? Errado seria se não fosse assim.

Eu vi o banner com a lista dos que aprovaram cobrar contribuição de custeio de iluminação pública de quem não a tem. Não há calúnia, porque não acusa nenhum dos listados de ter praticado crime. Não possui difamação contra eles, pois não afirma que cometeram algum ato desonroso. Também não é injúria, pois mostra o que é verdade, ou seja, o modo como os parlamentares – livre e soberanamente – votaram numa seção da Câmara Municipal. Não é ilegal.

Pelo contrário, a lista é um ato de liberdade democrática que merece aplausos, conforme resguarda o artigo 5º da Constituição brasileira. Ela dá publicidade aos eleitores de como agem as pessoas que eles colocam no poder. Ah, se o nosso povo tivesse mais coragem de exercer assim a sua cidadania, se pressionasse mais os políticos, se participasse mais da vida e dos rumos do Estado e da sociedade! Talvez, seríamos um país melhor e mais avançado.

Que a bronca dos vereadores e ex-vereadores, que não gostaram nenhum pouco da bela ação do Sindicato, seja arquivada de pronto por quem de direito. Afinal, quem paga a conta é o povo trabalhador, que tem o direito de se indignar.

Na terra em que o povo não pode reclamar de seus políticos ou sofre perseguições jurídicas por causa disso, o nome que se dá é ditadura.

* Levon Nascimento é professor de História e mestrando em Estado, Governo e Políticas Públicas.