Serão de prazeres

Por Valdir Barbosa

Olhei em volta postado na varanda até onde a vista alcança observando as luzes das casas e apartamentos cintilando. Acima, na abóboda celeste, estrelas também reluziam e abaixo, na praça, a dança das águas bailando nas fontes luminosas, sob as arvores seculares do Campo Grande coloriam o ambiente.

A cidade adormecia, após a primeira segunda-feira do mês de junho que findava e eu, normalmente entregue ao sono nesta hora testemunhava o chegar da meia noite, a natureza mudando de turno, outro dia nascendo, nova terça-feira vindo para cumprir este movimento permanente que compõe a vida. Esta incrível vida, onde as coisas parecem se repetir, mas, na verdade, palco onde tudo muda a cada segundo cumprindo seu desiderato de ir em frente, sem recuos.

Do mar que circunda a cidade por todos os lados, seja no prolongamento da Ondina, Amaralina, Pituba, Itapuã adiante, cujas nesgas posso ver nos dias claros, conseguia divisar suas águas agora escuras, ao lado oposto da sacada, adornado pelos refletores da ilha, em frente ao Corredor da Vitória, pelas lâmpadas que dele emergem desde a Marina seguindo o quebra mar, o forte de São Marcelo e findam ao longe, na Colina Sagrada do Senhor do Bonfim.

Enquanto admirava tais belezas, refletia sobre os segredos da existência revelados nestas pequenas coisas, as quais, muitas vezes não paramos para admirar e entender suas mensagens resolvi sorver uma dose de velho par, “on the rocks”, me pondo a registrar na tela do velho HP infestado de vírus cibernéticos indesejáveis, estas sensações, mesmo porque, muito a comemorar.

Ao final de maio avancei à casa dos sessenta e sete, no primeiro dia deste mês corrente, embalada num oceano de alegrias, por que não dizer juvenis, a responsável pela minha vinda a esta vida, se põe a doze luas dos noventa, meu caçula, nos braços de morfeu, bem perto de onde me acho, figura que ontem dormia no meu colo, em poucos meses alcançará duas dezenas de anos.

Porém, razão deveras especial autoriza este serão de prazeres. Contemplando, “drink” aos lábios, meditando e escrevendo, enquanto a noite avança e nova manhã se avizinha deixo o lugar onde rabisco – teclo -, para ver minha consorte ressonando em nossa alcova. A janela do quarto deixa entrar uma brisa leve, pois, mesmo já tendo aportado o mês de junho, ainda perduram as temperaturas próprias do verão soteropolitano, assim, mesmo na penumbra consigo ver sua silhueta envolta numa coberta fina, reveladora dos seus belos contornos.

Explico o motivo particular do prazeroso plantão, assim como eu, Dona Valneide e João à frente, Roberta hoje avança mais um ano na sua vida, neste quatro de junho se comemora sua data natalícia, anos atrás, não direi quantos, muitos poucos em relação a eternidade, Dona Maria Milda, sua mãe extremosa lhe coloca no mundo.

Não falarei aqui de suas virtudes, de sua beleza, dos seus predicados irretocáveis – nos papéis de mãe, filha, esposa, tia, amiga -, na condição de estudiosa dedicada, desde as letras médias, graduação, pós-graduação, especializações e mestrado, na atuação como profissional já reconhecida, na dedicação ao estudo e práticas da doutrina espírita.

Por isto, o encantamento de poder tê-la reencontrado nestes tempos de então, na razão de cumprir sinas cósmicas reservadas a cada um de nós; por isto orgulho de tê-la como companheira de todas as horas, nestes anos que voaram; por isto a vontade de escrever estas linhas; por isto o desejo de me manter aceso até madrugada, no intuito de ser o primeiro a lhe desejar parabéns e votos de felicidades.

Sorvo a segunda rodada de Old Parr do dia e brindo comigo mesmo à efeméride. Enquanto degusto volto a ver as mesmas imagens que permitiram escrevesse esta homenagem e agradeço a Deus por tudo que tenho. Termino a dose, findo a escrita e sigo para deitar ao lado da aniversariante. Torno a agradecer.

FELIZ ANIVERSÁRIO QUERIDA!

Salvador, 4 de junho de 2019

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