PARTEIRAS

Antônio Novais Torres

A Parteira leiga tradicional, geralmente morava numa cidade pequena e executava os partos que ocorriam no local e na vizinhança. Não havia no local e nem por perto, médico para um atendimento ou procedimento adequado de saúde, só existia mesmo nas grandes cidades ou na capital, porém a classe pobre devido à condição financeira precária não recorria a esses profissionais acadêmicos, a solução para o atendimento era a parteira leiga.

Quando uma mulher ia “despachar”, contava com o apoio das mais experientes que a auxiliavam no trabalho de parto. Eram mulheres leigas que tomavam gosto pelo ofício, fazendo-se presente a todas as parturições que ocorriam no lugar. Diante desse conhecimento prático e de sua disposição passaram a ser chamadas para todos os procedimentos dessa natureza na região.

A fama tornou-se um referencial. Passaram a ser requisitadas em toda a região e eram acatadas como uma pessoa de “boa mão”. Quando surgia algum problema, este era resolvido com mezinhas (raízes e plantas), tratamentos caseiros, que sempre davam bom resultado. O chamado mal de sete dias, ou tétano umbilical, ocorria sempre na zona rural ou na cidade nas camadas pobres e desinformadas por falta de higienização adequada e a devida vacinação.

Com a modernização, surgiram os hospitais, e os obstetras ocuparam o lugar das parteiras leigas. Ocorre que, apesar de toda a parafernália de instrumentos, vacinas antitetânicas à disposição dos médicos, além dos laboratórios que os auxiliam no diagnóstico, ainda persistem as parteiras leigas, principalmente, na zona rural e na periferia.

Há de se relatar que apesar da assistência médica em hospitais e de clínicas especializadas, há mortes tanto dos nascituros como da puérpera. Os obstetras optam pelo parto cesáreo em detrimento do parto natural, por conveniência própria ou desejo da parturiente, o que pode acarretar problemas.

Uma parteira assim se expressou: “Nenhum recém-nascido e nenhuma parturiente que estiveram sob os meus cuidados morreram durante o parto ou mesmo depois”. “Uma quantidade enorme de crianças passou por minhas mãos, sem registro de nenhum problema”. “Muitos são meus afilhados por decisão e reconhecimento da mãe”. Todos me consideram como avó biológica. “Em respeito, me tomam a bênção”.

Por falta de recursos e pela pobreza que impera em muitas regiões, além de não terem conhecimento de seus direitos, atualmente, disponibilizados pelos órgãos de saúde, parturientes pobres, especialmente da zona rural, das periferias e dos lugares que não dispõem de serviços médicos, procuram uma parteira leiga, que certamente não cobra pelos serviços executados, para auxiliá-las no trabalho do parto.

Há de se registrar a importância das parteiras leigas, mulheres cujas experiências são colocadas a serviço da saúde, salvando vidas e levando solidariedade e palavra de incentivo às paridas. Os especialistas costumam condenar essa atividade, pela falta de conhecimentos científicos e métodos adequados de higienização. Têm até certa razão, mas existe a necessidade premente desse procedimento leigo.

Em época de antanho, era praxe a mulher parida se recolher num quarto onde imperava a penumbra e ficava de resguardo por trinta dias, tomando apenas banho de asseio e comendo pirão de galinha, o chamado pirão de parida. Criança, por ser abelhuda, não podia entrar. As “comadres” visitantes tomavam a famosa temperada que, por efeito etílico, comentavam coisas do arco da velha e só Deus sabe o que ocorria nas conversas pecaminosas entre elas.

Há um propósito do CNS (Conselho Nacional de Saúde) de se formarem parteiras com o conhecimento técnico profissional para o exercício da profissão. Assim, o obstetra seria substituído por elas, a não ser, em casos graves que exijam a assistência médica. Tal procedimento legal deve ter a autorização do especialista.

O atendimento domiciliar da gravidez de baixo risco, pela enfermeira-parteira, facilitaria a superlotação hospitalar. Este trabalho tanto em casa quanto no hospital é o mesmo. Essa é uma opção de muitas mulheres que preferem parir no aconchego do lar, sem o medo e o estresse que provoca o hospital e, está em moda atualmente. Tudo depende da autorização médica.

Muitas mulheres têm dificuldades em conseguir vaga na rede pública hospitalar. Sentem-se humilhadas pela inexistência de vagas. A direção desses estabelecimentos alega falta de equipamentos ou de médicos, por não disponibilização pelo Estado ou Município de recursos para suprimento e custeio dessas despesas. Se houvesse a figura da enfermeira-parteira disponível, esse procedimento poderia ser feito na residência da parturiente, desafogando os hospitais. Esse procedimento é uma questão de bom senso e de vontade de servir às pessoas humildes, com dignidade e respeito, pois a vida deve estar em primeiro lugar, independentemente da condição social da pessoa.

Em Brumado, segundo o nosso conhecimento, atuaram como parteiras leigas: Vó Congonha, Carolina – moradora do bairro São Félix, Benvinda, Severina Barbosa (Serva), Zazá – mãe de Beto guarda, Esther Trindade Serra e outras que acudiram muitas mulheres em trabalho de parto e aparou muitas crianças.
Por merecimento e reconhecimento desse trabalho, Vó Congonha foi homenageada pela Vereadora e também parteira Esther Trindade Serra denominando um logradouro com o nome de Vó Congonha.

O Dia Internacional da Parteira, 05 de maio, foi instituído pela Organização Mundial da Saúde em 1991, para salientar a importância do trabalho das parteiras em todo o mundo. Em diversos países, o Dia Internacional da Parteira tem sido comemorado por diversas organizações ligadas à defesa dos direitos da mulher.

Que esse trabalho digno e corajoso dessas mulheres parteiras que se dedicam a cuidar das gestantes sejam regulamentadas com a disponibilização de formação científica, dando a elas o mínimo de conhecimento do assunto, suprindo, dessa forma, as deficiências do sistema de saúde que está a desejar um atendimento humanitário regular e de qualidade.

Antonio Novais Torres
antorres@terra.com.br
Brumado, em abril de 2108.

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