Já que o assunto é racismo contra “pretos”

* Por Levon Nascimento

Coisa de pretoSe você pensa que não é racista, mas ainda usa expressões como “cabelo ruim” para se referir ao tipo comum de cabelo de pessoas afrodescendentes, repense suas frases e suas posturas. Não há cabelo melhor do que outro. Existe um padrão de beleza perverso, imposto culturalmente pela colonização europeia, e que precisa ser combatido com educação, para que a diversidade humana seja apreciada e valorizada em toda a sua extensão.

Caso você tenha dificuldade em falar qual é a sua cor de pele ou a de outra pessoa, preferindo eufemismos como morena, escurinha ou cor-de-chocolate, ao invés de dizer preta ou negra, também repense sua postura. Não há nenhum problema em ser negro, dizer que alguém é negro ou que tem aparência negra. A etnia negra é uma das várias que compõem a diversidade humana. Ser negro ou reconhecer que alguém é negro não pode significar um tabu, muitos menos rebaixamento. É tão natural quanto ser oriental (amarelo), indígena, árabe ou caucasiano (branco).

O defeito está em classificar o que é negro como negativo, inferior ou ruim, ou pior, retirar direitos, explorar e destruir a dignidade das pessoas por conta de sua cor de pele, cultura ou tipo de cabelo.

Também não diga que os movimentos que propõem a tomada de consciência negra ou políticas afirmativas para negros são eles próprios racistas, que estão de “mimimi” e que no fundo buscam privilégios para apenas uma parte da sociedade. Não é verdade. Não fossem esses grupos e políticas, estaríamos numa situação de maior atraso nas questões de igualdade racial. Infelizmente, pesquisas apontam que quanto mais a gradação de pele e o fenótipo corporal avançam para a etnia negra, menores são os salários, piores as ocupações e mais sujeitas a vulnerabilidades sociais, como as violências e a pobreza, estão as pessoas. São resquícios da escravidão de 350 anos no Brasil.

Tomar consciência negra não é só para negros, é para toda a sociedade. Políticas afirmativas não geram privilégios, corrigem distorções sociais e quitam dívidas históricas.
Com relação aos negros, são vítimas, além do preconceito, de uma estrutura histórica que nos coloca em situação de desvantagem social devido ao último meio milênio em que africanos foram sequestrados em seu continente e transformados em escravos, propriedades de outras pessoas, em diferentes lugares do mundo, principalmente nos países da América. Desses, o Brasil foi o que mais recebeu homens e mulheres da etnia negra.

Combater o racismo é tarefa complexa e difícil. Começa por quem é descendente de africanos se reconhecer como negro, sentir orgulho e se autoafirmar. Passa pelo respeito das demais pessoas e das instituições de Estado e se conclui com a superação de todas as estruturas sociais e econômicas que promovem as diferentes formas de exploração sobre os seres humanos.

* Levon Nascimento é professor de História, sociólogo e mestrando em Políticas Públicas.

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