Folha Homenagem: Se estivesse viva completaria 115 anos hoje (15/2) NISE MAGALHÃES DA SILVEIRA

Nise Magalhães da Silveira nasceu em 1905, em Maceió (AL). Filha única de Faustino Magalhães da Silveira, professor e jornalista, e de Maria Lídia da Silveira, pianista, Nise cresceu em um ambiente de muita liberdade, repleto de música, de arte e de poesia. Depois de concluir o curso secundário, aos 15 anos, mudou-se para Salvador onde frequentou a Faculdade de Medicina da Bahia. Na turma estava também seu primo, Mário Magalhães da Silveira – que se transformaria em um dos grandes médicos sanitaristas do Brasil e seu marido. Única mulher da turma, formou-se em 1926 e no ano seguinte, após a morte do pai, foi viver no Rio de Janeiro. Lá, especializou-se em neurologia e psiquiatria sendo aprovada em concurso público para trabalhar no Hospital da Praia Vermelha.

Faculdade de Medicina da Bahia, 1921-1926 – Única mulher numa turma de 158 alunos

Biografia

15 de fevereiro de 1905: Nascia Nise Magalhães da Silveira, em Alagoas. Na foto: Unica mulher numa turma de 157 rapazes, na Faculdade de Medicina da Bahia. Defendeu a tese “Ensaios sobre a criminalidade da mulher no Brasil.” (1926).

Revolucionou a psiquiatria do país, pioneira na terapia ocupacional. Durante a “Intentona Comunista” foi denunciada por uma enfermeira pela posse de livros marxistas. A denúncia levou à sua prisão em 1936, no presídio da Frei Caneca por 18 meses. Em 1944, foi reintegrada ao serviço público e iniciou seu trabalho no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, no Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro, lutando contra as técnicas psiquiátricas que considera agressivas aos pacientes. Após perceber a influencia da pintura, do desenho e da modelagem na psicologia, Nise se identificou com a obra de Jung e desde então o contato dos dois se tornou mais próximo.

Explicaria a Nise que as mandalas de seus pacientes eram uma reação de compensação do inconsciente ao caos que a psicose produzia na consciência. Transformou e inspirou diversas vidas.

Em 1952, fundou o Museu de Imagens do Inconsciente, no Rio de Janeiro, um centro de estudo e pesquisa destinado à preservação dos trabalhos produzidos nos estúdios de modelagem e pintura que criou na instituição. E em 1956 a @casadaspalmeirasbotafogo

Nise escreveu diversos livros e ganhou diversos prêmios. Faleceu no Rio de Janeiro, no dia 30 outubro de 1999.

Análise
O projeto de terapia ocupacional de Nise Silveira ganha repercussão mundial com o Museu de Imagens do Inconsciente. Ele humaniza as práticas psiquiátricas da época (exercidas predominantemente por homens), com resultados clínicos importantes.

Entre 1946 e 1951, o artista plástico Almir Mavignier (1925), que trabalha na área recreativa do Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, sugere e organiza com Nise uma oficina para práticas de música, modelagem, jardinagem e pintura. Essas atividades livres, com orientação apenas técnica, sem aulas, indução ou apresentação de referencial externo, trazem progressos na qualidade dos trabalhos desenvolvidos pelos pacientes.

Duas exposições desses trabalhos são realizadas fora do Brasil e a boa repercussão contribui para a inauguração do Museu de Imagens do Inconsciente. Essa iniciativa inédita impressiona Carl G. Jung, cujo trabalho conceitual serve como embasamento para a prática clínica de Nise. Jung associa a qualidade dos trabalhos ao ambiente acolhedor e afetuoso em que são produzidos. O psicoterapeuta suíço salienta que alguns desenhos representam a tendência de o inconsciente compensar seu estado caótico. As imagens oferecem, portanto, um importante parâmetro para compreensão da esquizofrenia.

Nise entende que a terapia ocupacional que desenvolve possibilita a expressão não verbal de vivências do inconsciente dos pacientes. O fazer artístico é considerado, portanto, meio e instrumento para a cura, com valor próprio, e o estudo das imagens revelam características sobre o estado do paciente. A liberdade de expressão e a relação de confiança e afeto com o terapeuta é fundamental para esse processo. Também a catalogação de padrões arquetípicos, que, dentro do conceito junguiano, são marcas do inconsciente coletivo presentes em toda humanidade.

Para Nise, a produção artística de seus pacientes é, pela qualidade estética, comparável à de artistas socialmente reconhecidos. O curador de arte Nelson Aguilar (1943) identifica semelhanças entre o fazer artístico dos pacientes com o da escola modernista, “na capacidade de ver a formação da obra de arte pela liberdade com a linha e a cor sobre o plano”. A produção vinda do projeto terapêutico de Nise influencia artistas como Abraham Palatinik (1928), que considera que a liberdade de expressão dos pacientes, sem vínculos com teorias ou escolas de arte, potencializa o resultado plástico.

Muitos pacientes ganham projeção, como Albino Braz (1893-1950), Adelina Gomes (1916-1984) e Aurora Cursino dos Santos (1896-1959). Nise, entretanto, proíbe qualquer exploração comercial das obras. O artista que alcança maior destaque nas artes contemporâneas é Arthur Bispo do Rosário (1911-1989). Esquizofrênico, permanece internado durante quase toda a vida. Sua produção evidencia sofisticada lógica de um fazer artístico pautado pela busca da sublimação da alma para atingir o reino dos céus. Em 1995, o manto confeccionado pelo artista para o encontro com Deus no dia do Juízo Final, entre outras obras, representa o Brasil na 46a Bienal de Veneza e em diversas exposições de arte.

Fotos:

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