Crônica: Tem dois anos que o mundo acabou por Levon Nascimento

Dá uma tristeza danada quando me recordo de que em janeiro de 2020 minha filha me chamou a atenção para uma pequena nota na imprensa que informava de um surto na China, causado por um novo vírus.

Lembro-me de minha reação despreocupada e xenofóbica – sim, eu confesso – ao proferir, em tom de pilhéria, a seguinte frase:

– Ah, mas esses ‘trem’ só acontecem lá do outro lado do mundo!

O fato é que a potência emergente oriental controlou rapidamente a epidemia, que virou pandemia e se espalhou como rastilho de pólvora pelo pedante Ocidente.

Economias faliram, escolas, igrejas e cidades se fecharam. O virtual substituiu o presencial e as máscaras subiram às faces assombradas.

Mais de 600 mil brasileiros morreram em decorrência da patologia derivada do novo coronavírus, em pouco menos de dois anos.

Nos Estados Unidos, até então donos do mundo, o estrago se somou à irradiação do negacionismo trumpista, que também fez escola por aqui, decorrente de nossa tragédia nacional, de eleger um governo irracional e miliciano em 2018.

Pessoas conhecidas se foram e muitos amigos sofreram pessoalmente de internações e/ou intubações dolorosas. Eu mesmo experimentei dias difíceis patrocinados pela COVID-19, mas sem necessidade de leito hospitalar.

Vacina virou palavra de ordem e conceito em disputa. Quem jamais questionara de que era feito o azulinho da Pfizer, de repente virou especialista em nano-chipes da besta, peremptoriamente contidos nos imunizantes, a fim de por a perder as pias almas cristãs.

A nova peste é sem dúvidas um dos três grandes pesadelos da contemporaneidade, em nada devendo à crise climática e à escandalosa desigualdade econômica que perpetua pouquíssimos ricos e reproduz bilhões de miseráveis mundo a fora. Aliás, as três são amazonas do apocalipse civilizatório da sociedade do capital, parceiras na insensatez e na morte.

Que 2022 não seja um 2020.3!

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