A volta de um sonho da população brasileira

Por Luiz Carlos Suíca*

A insatisfação é geral e isso está estampado na face de cada militante petista que encontrarmos nas ruas. O retorno do sonho da população brasileira de crescer com autonomia foi desviado. Assim que a direção atual do partido deixou a gestão, dilacerada, e agora é preciso dar um fôlego maior para a sobrevivência do Partido dos Trabalhadores. É preciso se reinventar sem essas mesmas facetas que usam a desculpa de serem esquerdistas, sem esses escândalos, sem essas falsas promessas de reconstruir um sistema, um sistema que faliu. Temos de mudar junto com os movimentos sociais, populares e sindicais. Esses foram esquecidos pela ‘elite nacional petista’ e precisam ter vozes.

Os ‘novos ricos’ seguem tentando salvar esse projeto de governo, mas já foi dilacerado, infelizmente, por esse governo golpista e ditatorial de Michel Temer. Sim, porque o que estão fazendo com a juventude deste país é um absurdo, a reforma do ensino médio irá transformar a geração de jovens em apáticos e acríticos, e a PEC 241 vai estagnar a economia do país, vai congela recursos de saúde, educação e de políticas públicas por 20 anos.

E justamente agora precisamos de uma juventude ativa para mudar o futuro trágico deste país. A direção do PT tem culpa no cartório e deve pagar pelo seus erros. É preciso mudar a forma de fazer política, e voltar a ouvir os movimentos, isso é fundamental. Estagnamos a reforma agrária e o governo de Dilma foi pior que o de FHC para o setor. E aí está o MST para dizer a dificuldade que foi assentar 100 famílias, ou desapropriar irrisórios hectares de terra para assentamentos.

O PT também foi o partido que mais perdeu espaço nas eleições municipais de outubro de 2016. Elegeu apenas 247 prefeitos, enquanto que em 2012 tinha eleito 635. Na Bahia, o número de prefeituras caiu cerca de 58%. Tinha 93 prefeitos desde 2012, e se tornou a legenda que mais perdeu gestores. Em 2017, terá 39 prefeituras. Isso tudo devido à prepotência ou falta de vontade de muitos parlamentares e da própria direção e articulação política do governo estadual. Perdemos em cidades importantes, como Vitória da Conquista, Feira de Santana, que sempre soube que ia perder, Alagoinhas, Salvador, sem falar que reduzimos em muito o espólio eleitoral, nos colocando reféns de partidos da base.

Tudo que falávamos e questionávamos no partido tem acontecido, mas na época que mandaram prender sindicalistas do Sindilimp todo mundo ficou calado, não se ouvia uma voz, pareciam coniventes com tudo isso. Não se ouvia cobrar do cidadão que mandou prender, ninguém defendeu, mas hoje querem a cabeça dele, já descobriram do que ele é capaz. Mas como eu sou um negro e gari, poucos deram atenção ao que contestava. Sou da categoria que eles chamam a base da pirâmide social!

Podemos até ser essa base, mas é uma base que verdadeiramente cuida da saúde das cidades e leva mais qualidade de vida para as pessoas. O PT questionou os governos carlistas e de direita na Bahia pelo uso da violência e está fazendo o mesmo agora. Erros primários comentem ao prender sindicalistas. Outra questão é a que envolve os terceirizados da máquina pública, principalmente os que têm salários atrasados na Secretaria de Educação. Temos o Ministério Público do Trabalho em favor dos trabalhadores, que vem buscando uma saída para resolver a situação.

Sistema político

Vejo esse sistema político do Brasil também com grande preocupação. São inúmeros pontos que precisam ser tratados, sem contar os debates envolvendo caixa 2 e financiamento público e privado de campanhas. Acredito que seja preciso debater com a população uma reforma política que tire os corruptos da jogada e que as leis sejam cumpridas para todos e não apenas para gerar crise e dividir o país, como fizeram agora no Brasil.

Limitar o número de mandatos parlamentares por pessoa seria um passo importante. Outro passo é resolver a posse do prefeito eleito. Não tem como o gestor só assumir três meses depois do pleito. Tem de assumir de imediato, na semana seguinte, ou até mesmo que o prefeito seja afastado para competir de igual para igual com o opositor nas eleições.

O sistema corrompeu as lideranças, os dirigentes e os novos ricos deste país achavam que iam ficar no governo pelo resto da vida. Não debatemos assuntos que poderiam ser estruturais para a sociedade, como melhorar a educação de base e superior, não debatemos a democratização dos meios de comunicação, internet gratuita, pouco fizemos pela transparência administrativa, e não conseguimos taxar as grandes fortunas. Acabamos tomando um golpe, um golpe parlamentar que qualquer político que não dialoga com as bases poderia sofrer em qualquer esfera.

A verdade é que o que o PT passou foi culpa dos seus dirigentes e das vaidades individuais de diferentes correntes. A sigla tem de voltar à sua criação e rever o sonho idealizado pelos trabalhadores quando criaram essa partido. Vamos recriar o partido com jovens e pessoas que tenham o povo como meta principal. É necessário, mais que tudo, recuperar o partido, caso contrário estamos fadados a não conseguir forças para eleger um novo governador em 2018 na Bahia, ou um novo presidente para o Brasil.

*Luiz Carlos Suíca é vereador do PT em Salvador

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