Dia: 2 de março de 2023

Recriação do Bolsa Família tem choro de Lula, Pai-Nosso e repúdio a racismo

O evento do novo Bolsa Família, lançado hoje pelo presidente Lula (PT), teve choro contido do presidente, reza do Pai-Nosso puxada por ministro e críticas ao caso dos trabalhadores resgatados em condições análogas à escravidão em vinícolas do Rio Grande do Sul.

O benefício, que começará a ser pago no dia 20 de março, terá o valor mínimo de R$ 600 por família, com adicionais por filho menor de idade e gestantes. Acompanhado do ministro Wellington Dias (Desenvolvimento Social), Lula fez ainda críticas à distribuição dos lucros da Petrobras, assunto que dominou a semana, e voltou a tratar do compromisso do combate à fome. 

Lula se emocionou com o discurso de uma doutora em biologia, antiga beneficiária do programa.

Com o dinheiro recebido pela família no interior da Bahia, Isamara Mendes pôde ter acesso ao ensino superior por meio de cotas e programas educacionais do governo federal. Conseguiu se formar e, na sequência, concluir o doutorado pela USP (Universidade de São Paulo).

O título de doutora não me define, mas a conquista, sim, pois traz a história dos meus pais, que cresceram na labuta e não tiveram a oportunidade de estudar. De ‘mainha’, que adquiriu independência ao administrar o Bolsa Família e nos empoderou. Nós acreditamos na educação como instrumento de transformação social.“Isamara Mendes, beneficiária do Bolsa Família.

Em sua fala, mais rápida do que a de costume, o presidente até brincou que, depois de Isamara, não havia nada mais a ser dito.

O presidente pediu ainda a fiscalização do cadastro para receber o auxílio, com a atuação da imprensa e do Ministério Público.

Wellington Dias citou passagens bíblicas e puxou uma oração com os presentes.

Emocionado, o ministro pediu que os presentes ficassem em pé e juntassem as mãos, antes de puxar um Pai-Nosso ao final. Em tom de pregação, ele orou pelo fim da pobreza e pelo sucesso do programa social.

Vamos dizer, juntos, assim: eu, hoje, vou me juntar a milhões de brasileiros e, junto ao presidente Lula, vamos tirar o Brasil do Mapa da Fome, vamos tirar o Brasil do mapa da insegurança alimentar e nutricional. Vamos dar as mãos a quem mais precisa e ninguém larga a mão de ninguém.” Wellington Dias, em pregação

O ato, aplaudido pelo salão lotado, causou surpresa entre parte dos presentes. Ações como esta eram mais comuns durante as cerimônias do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A denúncia de casos análogos à escravidão em Bento Gonçalves (RS) também foi lembrada.

Diferentes discursos repudiaram a entidade empresarial que relacionou a exploração descoberta ao recebimento do Bolsa Família e o discurso xenófobo de um vereador do Rio Grande do Sul.

“Programas como esses são importantes para que pessoas como vocês Programas como esses são importantes para que pessoas como vocês não utilizem a pobreza, a miséria e a desigualdade social para produzir escravidão.” Elias de Souza, presidente do Congemas (Colegiado Nacional de Gestores Municipais de Assistência Social).

Como funciona o novo Bolsa Família

Famílias com renda mensal de até R$ 218 por pessoa têm direito ao programa;

O benefício é de R$ 600 por família, no mínimo;

Famílias com crianças até 6 anos recebem extra de R$ 150;

Famílias com crianças e jovens entre 7 e 18 anos incompletos e com gestantes ou mulheres que estejam amamentando recebem adicional de R$ 50;

Vacinas em dia, frequência escolar e acompanhamento pré-natal serão exigidos;

O pagamento começa no dia 20 de março; expectativa é distribuir R$ 13,2 bilhões e atingir 21,8 milhões de famílias.

Em um súbito, recobramos a consciência

Por Edtatoo

Em um súbito, recobramos a consciência, observamos com clareza tudo aquilo que aguça nossos olhos, e sem perceber nos encontramos em uma estrada cheia de espinhos, observando nos muros altos o reflexo de nós mesmos.
As verdades sobre as mentiras que construímos, são de grande valia para quem precisa viver sobre muros empoeirados.
Ao fim de cada etapa que denominamos como processos, aprendemos com êxito o sucesso de cada batalha. Não haverá na vida terrena um ser capaz de brilhar através das estrelas, pois nós somos o universo, e quando conjecturamos sobre o amanhã, nos perdemos nesta grandiosidade divina que recebemos como presente.
Então, amemos a vida e seus detalhes, a perfeição de cada tom que pulsa, nosso sistema vibratório está na capacidade de ouvirmos a síntese daquilo que encanta nossa alma!

Ruy Barbosa 100 anos do seu falecimento

Leandro Flores – editor, jornalista, poeta e advogado

Foi realizada neste dia 01 de março, uma sessão Solene no plenário do Senado Federal, para lembrar os 100 anos de falecimento do grande e inesquecível, nordestino (baiano, diga-se de passagem) Ruy Barbosa (baluarte da justiça, dos valores da advocacia, do jornalismo, da diplomacia e da política).
O evento contou com a presença do Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, da Presidente do STF, Rosa Weber, do Presidente da OAB Nacional, Beto Simonetti e do ex-presidente do Brasil e membro da Academia de Letras, José Sarney, entre outros.
Eu, Leandro Flores, tive o prazer de comparecer também a este evento e pude somar votos, junto com tantos outros advogados e jornalistas a esse tão nobre e intelectual brasileiro.
Ruy Barbosa atuou na defesa do federalismo, da democracia, do abolicionismo e na promoção dos direitos e garantias individuais, sendo um dos principais organizadores e coautor da constituição da Primeira República. Ryu Barbosa foi o primeiro ministro da Fazenda no período republicano. Foi deputado, senador, além de membro e presidente da Academia brasileira de Letras e candidato (inúmeras vezes) à presidência da República.
Ruy era colega de faculdade e amigo pessoal do poeta Castro Alves, inclusive dando-lhe abrigo e apoio moral quando este terminou o relacionamento com a atriz e poetisa Eugênia Câmara. Também foi um grande defensor das causas absabolicionistas, juntamente com Castro e José Bonifácio (o seu professor na faculdade de Direito).
Apesar de ser considerado um dos pais do republicanismo no Brasil, Ruy, em seus últimos momentos de vida, passou a criticar ferozmente o sistema, sendo umas das suas frases mais notáveis, uma critica a república que ajudou a fundar. Dizia ele: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto. Essa foi a obra da República nos últimos anos.” Viva então Ryu Barbosa, viva os grandes e incomparáveis gênios brasileiros, viva o nordeste, viva o sertão, viva a Bahia!

Paramirim: Homem morre após ser atingido por pedra durante trabalho em pedreira

Paramirim: Homem morre após ser atingido por pedra durante trabalho em pedreira
Fabiano Carvalho

Acidente de trabalho

Nesta quarta-feira (01), um homem morreu após ser atingido por uma pedra na comunidade de Saco do Boi, na zona rural de Paramirim. Segundo informou a Polícia Civil, Fabiano Carvalho trabalhava no momento do acidente fatal.

O Departamento de Polícia Técnica (DPT) realizou a perícia no local. O corpo de Fabiano foi encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML) em Brumado. A Polícia Civil instaurou um inquérito e investiga o caso. Carvalho estava noivo e iria se casar nos próximos dias.

Jovem de 25 anos morre após sofrer mal súbito dentro de casa em Livramento de Nossa Senhora

Jovem de 25 anos morre após sofrer mal súbito dentro de casa em Livramento de Nossa Senhora
A jovem Laylane Calmon morreu aos 25 anos de idade

Uma jovem de 25 anos morreu após sofrer um mal súbito em uma residência na cidade de Livramento de Nossa Senhora. Laylane Calmon foi encontrada inconsciente pelo marido, que acionou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

Ao chegar no local, a equipe de socorristas constatou o óbito. O corpo foi encaminhado para Unidade de Pronto Atendimento (UPA 24h) e, posteriormente, para o Instituto Médico Legal (IML) de Brumado. O Departamento de Polícia Técnica foi acionado para investigar as causas da morte. A Polícia Civil investiga o caso.

‘Não temos prefeito’, dizem moradores da Lagoa das Tocadas durante manutenção de estrada

'Não temos prefeito', dizem moradores da Lagoa das Tocadas durante manutenção de estrada Foto: Lay Amorim/Achei Sudoeste

Um vídeo que circula nas redes sociais mostra moradores da comunidade da Lagoa das Tocadas, na zona rural de Brumado, reunidos em um mutirão para tapar os buracos nas estradas vicinais da região. Trabalhadores da lavoura, em sua maioria idosos, se viram obrigados a abandonar os campos para ajudar na manutenção das estradas.

Ao site Achei Sudoeste, os moradores disseram que a prefeitura não faz o patrolamento das estradas há mais de 10 anos e a situação tem prejudicado o escoamento da produção rural e a circulação de veículos. “Não temos prefeito, por isso estamos fazendo o serviço. Era pra ter uma retroescavadeira aqui. Não temos prefeito e nem vereador. É uma vergonha”, falaram.

Haddad indica que irá demitir servidor que devassou dados de desafetos de Bolsonaro

*ARQUIVO* BRASILIA, DF, BRASIL, 28-02-2023, 12h00: O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, durante coletiva de imprensa para anunciar a reoneração dos combustíveis. Na sede do Ministério da Fazenda. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)
*ARQUIVO* BRASILIA, DF, BRASIL, 28-02-2023, 12h00: O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, durante coletiva de imprensa para anunciar a reoneração dos combustíveis. Na sede do Ministério da Fazenda. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), sinalizou a aliados nesta quarta-feira (1) que deve demitir do serviço público o ex-chefe da inteligência da Receita Federal, Ricardo Feitosa, caso fique confirmado que ele quebrou o sigilo de desafetos do clã Bolsonaro.

Nessas conversas, o ministro ponderou que ainda não analisou o caso e que vai se assegurar estar comprovada a violação do sigilo. Haddad também ressaltou que Feitosa terá amplo direito de defesa.

A informação sobre a tendência de demissão foi publicada pelo jornal O Globo e confirmada pela Folha de S.Paulo.

Feitosa acessou e copiou em julho de 2019, primeiro ano da gestão de Jair Bolsonaro (PL), dados fiscais sigilosos do chefe do Ministério Público do Rio e de desafetos do então presidente da República. O caso foi revelado pela Folha de S.Paulo.

Não havia nenhuma investigação formal na Receita contra essas pessoas que justificasse as consultas. Foram acessados dados do coordenador das investigações sobre o suposto esquema das “rachadinhas” –o então procurador-geral de Justiça do Rio Eduardo Gussem– e de dois políticos que haviam rompido com a família presidencial, o empresário Paulo Marinho e o ex-ministro Gustavo Bebianno.

O então chefe da inteligência da Receita ficou no cargo apenas quatro meses. Após a sua saída, a Receita realizou uma investigação que resultou na sugestão de sua suspensão, mas isso foi alterado posteriormente para demissão do serviço público –decisão cuja aplicação ou não é de competência exclusiva do ministro da Fazenda.

Como mostrou a Folha de S.Paulo nesta quarta, o corregedor da Receita Federal, João José Tafner, afirma ter sofrido no ano passado pressão do antigo comando do Fisco para arquivar processo disciplinar aberto contra o então chefe da inteligência do órgão. A antiga direção da Receita nega qualquer ação nesse sentido.

As afirmações, feitas internamente ao atual comando da Receita, resultaram na instauração de uma investigação pela Corregedoria do Ministério da Fazenda, o que foi confirmado pelo Fisco nesta quarta.

Isso se deu após o atual secretário da Receita, Robinson Barreirinhas, transcrever as acusações de Tafner em uma ata e as enviar à corregedoria do Ministério da Fazenda.

De acordo com relatos, Barreirinhas enxergou possível ato de prevaricação, uma vez que Tafner não teria denunciado o caso ou tomado providências à época das supostas pressões.

Essa investigação conteria ainda outra acusação de Tafner, feita contra o próprio Barreirinhas. O corregedor afirma também ter sofrido pressão do atual comando da Receita para renunciar ao seu mandato na corregedoria do Fisco, que termina só em janeiro de 2025.

Na nota desta quarta, a Receita negou haver pressão para renúncia do corregedor.

Tafner participou de atos de campanha bolsonarista em 2018 e chegou a posar para fotos ao lado do então candidato a deputado Eduardo Bolsonaro (hoje no PL) usando camisa da seleção brasileira e adesivo de outro candidato do PSL, partido pelo qual o ex-mandatário foi eleito.

Ele chegou à função após uma longa campanha pública e de bastidores do clã Bolsonaro para emplacar na cadeira alguém alinhado, já que a família afirmava ser perseguida por meio de acessos ilegais de dados e vazamentos de informações sigilosas, em especial os de Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

Múcio diz a comandantes das Forças que não haverá comemoração sobre data do golpe militar

*ARQUIVO* BRASILIA, DF, BRASIL, 20-01-2023, 12h00: O ministro da Defesa José Múcio Monteiro fala com a imprensa após reunião com o presidente Lula e os comandantes do exército, marinha e aeronáutica, no Palácio do Planalto. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)
*ARQUIVO* BRASILIA, DF, BRASIL, 20-01-2023, 12h00: O ministro da Defesa José Múcio Monteiro fala com a imprensa após reunião com o presidente Lula e os comandantes do exército, marinha e aeronáutica, no Palácio do Planalto. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, disse aos comandantes das Forças Armadas que a pasta não divulgará nenhuma ordem do dia em 31 de março sobre a ditadura militar.

Em resposta, os chefes militares fazem sinalizações internas desde janeiro de que o golpe não será celebrado –rompendo um ciclo de quatro anos consecutivos em que, sob Jair Bolsonaro (PL), o governo comemorou a ditadura em comunicados oficiais.

A decisão, segundo relatos de interlocutores de Múcio, foi natural e repassada em conversas informais entre o ministro e os comandantes Tomás Paiva (Exército), Marcelo Damasceno (Aeronáutica) e Marcos Olsen (Marinha).

O general Tomás Paiva, comandante do Exército, cumprimenta o ministro da Defesa, José Múcio, durante solenidade de passagem do comando do Exército. Não haverá nenhuma decisão formal sobre o tema, e a estratégia na cúpula da Defesa é não tocar no assunto, considerado sensível e com poder de desgastar a relação com os militares.

O comandante do Exército, Tomás Paiva, comunicou ao Alto Comando da Força em reunião no fim de janeiro que não deveria haver nenhuma nota oficial dos militares sobre a ditadura militar.

Na visão de oficiais-generais ouvidos pela reportagem, sob reserva, as manifestações sobre o assunto devem ficar restritas aos círculos de militares da reserva, representados por clubes e associações.

Nos quatro anos de governo Bolsonaro, o Ministério da Defesa publicou ordens do dia em celebração ao golpe militar de 1964. A comemoração foi uma ordem dada pelo ex-presidente.

“Nosso presidente já determinou ao Ministério da Defesa que faça as comemorações devidas com relação ao 31 de março de 1964 incluindo a ordem do dia, patrocinada pelo Ministério da Defesa, que já foi aprovada pelo nosso presidente”, disse em 2019 o então porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros.

Desde então, os ministros Fernando Azevedo e Braga Netto divulgaram comunicados sobre o dia, que foram lidos nos quartéis e eventos militares marcados para 31 de março.

Azevedo escreveu que “o Movimento de 1964 é um marco para a democracia brasileira. Muito mais pelo que evitou”.

E completou: “A sociedade brasileira, os empresários e a imprensa entenderam as ameaças daquele momento, se aliaram e reagiram. As Forças Armadas assumiram a responsabilidade de conter aquela escalada, com todos os desgastes previsíveis”.

Braga Netto, depois, foi ainda mais incisivo em sua manifestação. Ele disse que a ditadura militar merece ser “celebrada”.

“O movimento de 1964 é parte da trajetória histórica do Brasil. Assim devem ser compreendidos e celebrados os acontecimentos daquele 31 de março”, finalizou o comunicado.

O Exército chegou a celebrar a ditadura de 1964 em comunicados oficiais, lidos em quartéis, antes do governo Bolsonaro. Nos primeiros mandatos de Lula, o comandante militar escreveu quatro manifestações em comemoração ao aniversário do golpe.

Em 2006, por exemplo, o comandante Francisco Albuquerque emitiu um comunicado para o Exército “orgulhar-se do passado”.

“O 31 de Março insere-se, pois na História pátria e é sob o prisma dos valores imutáveis de nossa Força e da dinâmica conjuntural que o entendemos. É memória, significado à época pelo incontestável apoio popular, e une-se, vigorosamente, aos demais acontecimentos vividos, para alicerçar, em cada brasileiro, a convicção perene de que preservar a democracia é dever nacional.”

À época, o ministro da Defesa Waldir Pires disse que respeitava a posição do comandante do Exército. “Não tenho nada a contestar à posição de quem interprete dessa forma [a exaltação ao golpe militar]. Tenho que respeitar a posição de cada um”, afirmou.

O Exército deixou de divulgar comunicados oficiais em comemoração ao golpe militar em 2007. Nos últimos 16 anos, as únicas citações oficiais foram feitas pelo Ministério da Defesa.

Logo após assumir a Presidência, em 2011, Dilma Rousseff (PT) determinou que as Forças Armadas não citassem a ditadura militar nas ordens do dia. Naquele ano, o Exército chegou a vetar uma palestra do general Augusto Heleno que seria realizada em comemoração ao golpe de 1964.

Neste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deixou para Múcio a definição sobre o que seria feito. O ministro disse a interlocutores que não pretende falar sobre o assunto publicamente e tenta evitar entrevistas, para não dar abertura para novas crises com os militares diante de muitos assuntos sensíveis.

Segundo relatos, Múcio tem se queixado das consecutivas notícias negativas e princípios de crises na caserna, como a situação do tenente-coronel Mauro Cid, a demissão do general Júlio César de Arruda, o vazamento do áudio do comandante Tomás Paiva e a investigação sobre a participação de militares nos atos golpistas de 8 de janeiro.

Apesar do tom conciliador de Múcio, alas do PT têm aconselhado integrantes do governo para que o Ministério da Defesa seja ainda mais incisivo em 31 de março e divulgue um comunicado oficial em repúdio à ditadura militar.

O ministro, porém, tem se mostrado contrário à possibilidade e afirma a auxiliares que somente ignorar a data será suficiente para evitar crises.

A ditadura militar no Brasil teve uma estrutura dedicada a tortura, mortes e desaparecimento.

Os números da repressão são pouco precisos, uma vez que a ditadura nunca reconheceu esses episódios. Auditorias da Justiça Militar receberam 6.016 denúncias de tortura. Estimativas feitas depois apontaram para 20 mil casos.

Presos relataram terem sido pendurados em paus de arara, submetidos a choques elétricos, estrangulamento, tentativas de afogamento, golpes com palmatória, socos, pontapés e outras agressões. Em alguns casos, a sessão de tortura levava à morte.

Em 2014, a Comissão Nacional da Verdade listou 191 mortos e o desaparecimento de 210 pessoas. Outros 33 desaparecidos tiveram seus corpos localizados posteriormente, num total de 434 pessoas.

Saiba quem são os militares que entraram na mira de Alexandre de Moraes por suspeita de envolvimento nos atos golpistas

A remessa é um desdobramento de uma decisão tomada por Moraes anteontem. O magistrado estabeleceu que militares suspeitos de envolvimento nos ataques às sedes dos Três Poderes devem ser julgados pelo Supremo e não pela Justiça Militar. Na mesma ocasião, ele determinou a abertura de um inquérito com essa finalidade.

O MPM vai enviar ao STF dois inquéritos policiais militares (IPM) e uma “notícia de fato” (fase que precede o IPM). Com isso, a apuração desses casos ficará a cargo da Federal.

O principal deles investiga as circunstâncias que levaram os manifestantes a invadirem o Palácio do Planalto. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a dizer que está “convencido” de que as portas do prédio foram abertas para a entrada dos golpistas.

A apuração mira a equipe militar do Batalhão da Guarda Presidencial (BGP) e do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Essas tropas faziam a segurança do local. O então comandante do BGP era o tenente-coronel Jorge Paulo Fernandes Hora, que virou alvo de desconfiança do governo Lula.

Ele saiu do comando do Batalhão em 24 de janeiro e agora ocupa uma função no Estado-Maior do Comando Militar do Planalto. A troca de posto já estava prevista desde 2022, mas foi antecipada após os atos golpistas.

No dia dos ataques, Hora apareceu em um vídeo discutindo com policias militares, enquanto vândalos destruíam o Planalto. — Esse próprio vídeo eu entreguei, porque mandaram para mim, e está sendo investigado — declarou o ministro da Defesa, José Múcio, em janeiro.

Em outro IPM, o alvo é o coronel da reserva do Exército José Placídio Matias dos Santos, que ocupou um cargo no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) durante o governo Bolsonaro, entre 2019 e 2022.

Em postagem feita no dia 8 de janeiro, o militar defendeu abertamente um golpe de Estado. Segundo ele, a “agitação” em Brasília seria uma “excelente oportunidade para as Forças Armadas entrarem no jogo, desta vez do lado certo”. “Onde estão os briosos coronéis com tropa na mão?”, escreveu.

Placídio desempenhava a função de chefe militar da Assessoria Especial de Planejamento e Assuntos Estratégicos da Secretaria Executiva do GSI na gestão do general Augusto Heleno.

Neste caso, o MPM já havia se manifestado favoravelmente ao envio das informações para o Supremo.

Já a notícia de fato se refere às “circunstâncias relativas a supostas ações ou omissões de oficiais generais com relação aos atos de 8 de janeiro”, segundo o MPM. O procedimento tramita em sigilo e não há o detalhamento de quais oficiais são investigados.

Em decisão tomada na última segunda, Moraes atendeu a um pedido da PF para investigar militares sob o argumento de que o Código Militar não distingue “servidores públicos civis ou militares”. Na visão de Moraes, as suspeitas relativas aos ataques tratariam de “crimes de militares” e não de “crimes militares”.

Até agora, a Polícia Federal deflagrou seis fases da Operação Lesa Pátria que visa identificar os executores, financiadores e idealizadores dos atos golpistas. Ao todo, foram cumpridos 24 mandados de prisão preventiva e 54 de busca e apreensão — nenhum deles tinha patente militar.

Outros casos

O despacho de Moraes foi dado a partir de um requerimento em que a Polícia Federal perguntou ao ministro em qual instância iriam tramitar as investigações dos militares. O questionamento ocorreu após suspeitos de participação nos atos implicarem integrantes da caserna em seus depoimentos.

Antes mesmo da resposta de Moraes, porém, alguns militares já constavam entre os investigados em inquéritos abertos pela Suprema Corte. É o caso do ex-comandante da Polícia Militar do Distrito Federal Fabio Augusto Vieira, suspeito de omissão no dia das invasões aos prédios públicos.

O STF não informa se, em situações como essa, o militar será investigado no novo inquérito, que corre em sigilo, ou continuará vinculado ao procedimento do qual virou alvo no primeiro momento.