Estão na mira o ex-presidente, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres e autoridades que atuaram ou se omitiram durante a investida golpista.
As investigações pretendem detalhar como se deram os preparativos e as invasões ao Palácio do Planalto, Congresso e STF (Supremo Tribunal Federal) e miram os golpistas atuantes diretamente na quebradeira, os financiadores e os agentes públicos envolvidos.
A primeira linha de apuração foca os possíveis autores intelectuais dos ataques, e é essa frente que pode chegar a eventual responsabilidade do ex-presidente no fomento das ações radicais.
Bolsonaro já era um dos alvos do inquérito das milícias digitais por causa de sua live de 29 de julho de 2021 –quando levantou sem provas suspeita de fraude nas eleições por meio de falhas nas urnas eletrônicas– e pelo vazamento de inquérito sigiloso sobre um ataque hacker ao Tribunal Superior Eleitoral.
No caso das milícias digitais, cada um dos eventos com participação de Bolsonaro e de seus apoiadores, como a live e os atos antidemocráticos de 2020, são vistos como sendo praticados por organização criminosa que atua para atacar instituições, autoridades e disseminar desinformação.
Agora, com a nova apuração, a PF pretende avançar sobre como as investidas golpistas insuflaram seus apoiadores contra o Estado democrático de Direito e desaguaram nos ataques aos três Poderes.
A segunda linha de apuração vai investir no detalhamento das supostas omissões de agentes públicos durante a movimentação de pessoas para o acampamento no quartel-general do Exército e depois à praça dos Três Poderes.
O ex-ministro Anderson Torres, o governador afastado Ibaneis Rocha (MDB-DF) e integrantes das forças de segurança do Distrito Federal são alvos nessa frente.
Torres está preso desde o dia 14 por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do STF. Durante busca e apreensão em sua casa, a PF encontrou uma minuta (proposta) de decreto para o então presidente Bolsonaro instaurar estado de defesa na sede do TSE.
O decreto golpista previa a criação de uma comissão controlada pelo governo Bolsonaro para fazer uma “apuração da conformidade e legalidade do processo eleitoral” vencido por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e estabelecia as quebras dos “sigilos de correspondência e de comunicação telemática e telefônica” dos membros do TSE.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, o ex-número 2 da Segurança Pública do DF Fernando de Sousa Oliveira afirmou à PF que Torres deixara o país às vésperas do 8 de janeiro sem repassar “diretriz” nem apresentá-lo aos comandantes das forças policiais e a Ibaneis.
Oliveira disse que não tomou conhecimento, por exemplo, do plano operacional da Polícia Militar para as manifestações que ocorreriam nos dias 6, 7 e 8 deste mês.
O governador afastado do DF e Oliveira foram alvos de busca e apreensão na sexta-feira (20) a pedido da Procuradoria-Geral da República.
Vista como mais demorada, a terceira frente tem como objetivo mapear os financiadores dos atos golpistas e os responsáveis pela logística do acampamento e transporte de bolsonaristas para Brasília.
Na última semana, a PF atuou contra possíveis financiadores de golpistas na região norte do Rio de Janeiro. A ação foi batizada de Ulysses e prendeu três suspeitos de organizar e financiar a viagem de bolsonaristas para Brasília.
O objetivo da PF agora é mapear outros financiadores dos atos e do acampamento em frente ao QG do Exército para saber se os atos e ações dos bolsonaristas tiveram alguma estrutura de financiamento e de organização.
Os investigadores estão identificando todos que contrataram e organizaram viagens de ônibus para Brasília, aqueles envolvidos na manutenção dos acampamentos nos QGs do Exército e os que de alguma forma viabilizaram os atos.
A AGU (Advocacia-Geral da União) já pediu o bloqueio de R$ 18,5 milhões em bens de pessoas físicas e empresas suspeitas de envolvimento nos ataques golpistas. A quantia seria uma estimativa de reparação pelos danos causados pelos atos de vandalismo às sedes dos Poderes.
O quarto foco da investigação PF são os vândalos. Os investigadores querem identificar e individualizar a conduta de cada um dos envolvidos na depredação dos prédios históricos.
Nesse caso, a perícia da PF tem atuado com a ajuda de softwares de inteligência artificial para comparar as imagens dos prédios invadidos com a dos presos e também com outros bancos de dados para identificar envolvidos. Foram presos em flagrante 1.459 suspeitos pelos ataques.
Para subsidiar as quatro linhas de apuração, todas as informações que estão sendo coletadas, pelos canais disponibilizados pelo Ministério da Justiça e PF ou em diligências feitas por ordem de Moraes, são analisadas e encaminhadas para os inquéritos abertos.
Segundo a Folha de S.Paulo apurou, o trabalho de triagem tem sido feito pela DIP (Diretoria de Inteligência Policial) e os inquéritos em si conduzidos por delegados de setores da Dicor (Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado).
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