Dia: 10 de janeiro de 2023

Lula sobe o tom com militares após ataques em Brasília e critica tolerância com pedidos de golpe em quartéis

Por Lisandra Paraguassu

Lula e os ministros do Supremo Barroso e Rosa Weber
BRASÍLIA (Reuters) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva subiu o tom e criticou nesta segunda-feira a falta de resposta das Forças Armadas aos acampamentos de bolsonaristas nas portas de quartéis pelo país que pediam uma intervenção ilegal dos militares contra a sua eleição, e disse que “dava a impressão” de que alguns gostavam dos clamores por golpe.

A declaração aconteceu um dia após os ataques de bolsonaristas radicais aos edifícios-sede dos Três Poderes em Brasília durante uma reunião no Planalto com governadores e os presidentes do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF).

“As pessoas estão livremente reivindicando o golpe na frente dos quartéis, e não foi feito nada por nenhum quartel, nenhum general se moveu para dizer que não pode acontecer isso, é proibido pedir isso”, afirmou Lula.

“Dava a impressão de que tinha gente que gostava quando o povo estava clamando pelo golpe”, seguiu o presidente, que depois da reunião partiu em caminhada com os governadores e as demais autoridades presentes para vistoriar a destruição no STF.

Lula criticou não apenas os acampamentos bolsonaristas, mas também integrantes do contingente do Batalhão da Guarda Presidencial, do Exército, responsável pela segurança do Planalto: “Soldado do Exército brasileiro conversando com as pessoas (invasores) como se fossem aliados”, disse Lula, citando imagens do ataque ao principal edifício da presidência.

“Eles querem golpe, e golpe não vai ter”, disse.

O mandatário se reuniu na manhã desta segunda-feira com o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, e com os comandantes do Exército, da Marinha e da Força Aérea, em um encontro realizado a portas fechadas.

Desde o início dos ataques na capital federal na tarde de domingo, Múcio tem se mantido fora dos holofotes, assim como as Forças Armadas, cabendo ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, tomar a frente das ações para restabelecer a ordem.

Na semana passada, Múcio chegou a afirmar que os acampamentos de bolsonaristas nas portas dos quartéis eram democráticos e que tinha até familiares dele que faziam parte do movimento. De acordo com Dino, no entanto, os acampamentos eram “incubadoras de terroristas”.

O principal acampamento bolsonarista, localizado em frente ao quartel-general do Exército em Brasília, foi desmontando nesta segunda-feira após determinação emitida na noite de domingo pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, e cerca de 1.200 bolsonaristas que estavam no local foram levados de ônibus para uma instalação da Polícia Federal. A Polícia Militar do DF e o Exército participaram da desmontagem.

Autoridades afirmam que vários dos envolvidos nos ataques de domingo estavam abrigados ou passaram pelo acampamento, de onde apoiadores de Bolsonaro pedem uma intervenção militar, o que é ilegal, desde a vitória de Lula na eleição presidencial de outubro do ano passado.

O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), disse na reunião dos governadores com Lula que todos os Estados cumpriram a ordem de Moraes de desfazer os acampamentos espalhados pelo país.

Lula disse que não era possível os acampamentos durarem o tempo que duraram sem que houvesse um grande esquema de financiamento, e prometeu que os responsáveis serão identificados e punidos.

“Não vamos dar tregua até descobrirmos os responsáveis. Mais cedo ou mais tarde nos vamos descobrir quem está financiado. Tem gente que financiou e tem gente que apoiou”, afirmou.

Na véspera, Lula culpou diretamente Bolsonaro pelos ataques aos prédios dos Três Poderes. “Esse genocida não só provocou isso, não só estimulou isso, como, quem sabe, está estimulando ainda pelas redes sociais”, afirmou.

A declaração do presidente sobre os militares é uma guinada de posicionamento. Até esta segunda-feira, o presidente vinha se mantendo mais distante do debate sobre as Forças Armadas e havia escolhido Múcio para a Defesa como um nome conciliador para tentar amainar tensões com setores castrenses que participaram em peso do Governo Bolsonaro.

O que Lula e Biden conversaram ao telefone?

Presidente dos Estados Unidos ligou para o presidente brasileiro após atos terroristas de bolsonaristas em Brasília

Joe Biden ligou para Lula para falar sobre terrorismo em Brasília (REUTERS/Henry Romero)
Joe Biden ligou para Lula para falar sobre terrorismo em Brasília (REUTERS/Henry Romero)
Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, ligou para Lula (PT) por conta dos atos terroristas de bolsonaristas em Brasília no último domingo (8). A chamada do mandatário norte-americano dá o tom de como os ataques sofridos pelo Brasil preocupam a comunidade internacional.

O que Biden falou para Lula? Segundo uma nota do governo federal, “o presidente Biden transmitiu o apoio incondicional dos Estados Unidos à democracia do Brasil e à vontade do povo brasileiro, expressa nas últimas eleições do Brasil”.

“O presidente Biden condenou a violência e o ataque às instituições democráticas e à transferência pacífica do poder”

Além dos atos terroristas, reforço para visita. No telefonema, Biden reforçou o convite a Lula para uma visita a Washington, o que foi aceito pelo petista. A viagem, segundo comunicado da Casa Branca, deve ocorrer no começo de fevereiro.

  • As primeiras negociações ligadas ao tema se deram ainda no final do ano passado, para que Lula fosse à capital dos EUA antes mesmo de tomar posse
  • Depois, o presidente brasileiro decidiu que sua primeira viagem seria para a Argentina, entre os dias 23 e 24 deste mês, com mais um dia no Uruguai na sequência

Biden já havia feito declarações sobre ataques. Antes, em meio aos deslocamentos para o México, aonde viajou para uma cúpula de líderes da América do Norte, o democrata tinha dito que a situação no Brasil era “ultrajante”.

Bolsonaro extraditado dos Estados Unidos? O Yahoo Notícias fez uma matéria completa sobre a possível extradição de Bolsonaro que você pode ler aqui. Também explicamos como funciona o esquema de extradição entre Brasil e EUA em outro artigo que você lê clicando aqui.

Pode acontecer uma CPI no Brasil sobre os atos? Sim. E deve acontecer, segundo boa parte de senadores brasileiros. Dos 27 votos necessários, um pedido feito já havia obtido 31. Os ritos devem ser iniciados em fevereiro e você pode entender mais clicando aqui.

‘Golpe não vai ter’, diz Lula

Redação Notícias

Não vamos permitir que a democracia escape das nossas mãos
Não vamos permitir que a democracia escape das nossas mãos”, disse Lula, que classificou como golpe os atos extremistas praticados por bolsonaristas em Brasília. (Foto: MAURO PIMENTEL/AFP via Getty Images)

O presidente Lula (PT) foi firme ao dizer que “golpe não vai ter”, um dia após a invasão de terroristas bolsonaristas aos prédios dos Três Poderes, em Brasília (DF). Ao encerrar a reunião que teve com governadores, nesta segunda-feira (9), Lula apontou negligência da Polícia Militar do DF e acusou os vândalos de golpistas.

“Não vamos permitir que a democracia escape das nossas mãos”, disse Lula.

Na sequência, Lula e os governadores presentes caminharam em direção ao prédio do STF, um dos principais alvos de vandalismo e destruição dos extremistas. Veja a lista completa de obras destruídas nos ataques.

“Estavam reivindicando o quê? Reivindicando melhoria na qualidade de vida das pessoas? Reivindicando mais liberdade? Aumento de salário? Não, eles estavam reivindicando o golpe”, diz Lula sobre acampamentos em quartéis, desmobilizados após ordem do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Alexandre de Moraes.

Lula também classificou como “atitude forte” diante de uma “negligência” da PM a intervenção federal na Segurança do Distrito Federal, decretada por ele ainda no domingo (8). “Tive que tomar uma atitude forte, porque a Polícia Militar de Brasília negligenciou”, diz Lula sobre a intervenção federal na segurança do DF. Para entender ponto a ponto do que muda, clique aqui e confira.

“O que vimos ontem foi coisa que já estava prevista, isso tinha sido anunciado há algum tempo atrás porque pessoas que estavam nas ruas na frente de quartéis não tinham pauta de reivindicação”.

Governadores e representantes dos 27 estados prestaram solidariedade e ofereceram apoio ao governo federal.

Até mesmo aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e do Distrito Federal, Celina Leão (PP), defenderam a democracia e o diálogo para evitar que novas ações deste tipo ocorram.

Tarcísio, que chegou a negar o convite para a reunião, mas voltou atrás horas mais tarde, afirmou o seguinte:

— Era muito importante estar presente no dia de hoje neste ato de solidariedade aos poderes constituídos, ato de solidariedade ao Supremo Tribunal Federal, solidariedade ao Congresso Nacional, a Câmara de Deputados, ao Senado Federal, solidariedade no final das contas à nossa democracia. (…) Essa reunião de hoje significa que a democracia brasileira, depois dos episódios de ontem vai se tornar ainda mais forte —.

Também participaram da reunião ministros do Supremo Tribunal Federal, entre eles a presidente da Corte, a ministra Rosa Weber. O procurador-geral da República, Augusto Aras, também estava presente.

Vieram a Brasília para participar da reunião os governadores ou representantes de todos os 27 estados brasileiros. Segundo o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), apenas não compareceram e, portanto, enviaram representantes:

  • os governadores de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), que passou por cirurgia;
  • o de Rondônia, Marcos Rocha (União Brasil), que está licenciado;
  • além de Gladson Cameli, do Acre e
  • Mauro Mendes, do Mato Grosso.