Junho de 2019: 40 anos da morte de Woquiton Fernandes Teixeira

Por André Koehne

Dr. Woquiton Fernandes Teixeira

O dia 26 de junho de 2019 marca quatro décadas da morte de uma das figuras mais emblemáticas da política caetiteense no final do século XX: o médico Woquiton Fernandes Teixeira.
Nascido no dia 17 de maio de 1934, filho de D. Josefina e Franco Fernandes; dizem que era para ser registrado como “Washington”, mas um erro do escrivão consagrou o neologismo “Woquiton” que o tornava até então único. Formou-se em Medicina em Salvador, cidade onde conheceu a esposa Edelweiss Yeda Nunes, com quem teve três filhos: Hasama, Janssen e Jimena.

Em 1962, ano de sua formatura, Woquiton volta para a Caetité natal onde jazia fechado um hospital erguido durante a gestão do governador Antônio Balbino em parceria com a Diocese de Caetité; graças a ele e outros colegas como Carlos, Lely e Zequinha, as instalações foram finalmente inauguradas e a iniciativa colocava Caetité como pioneira na região ao possuir o primeiro hospital digno desse nome no sertão; aquela novidade também gerou um fluxo de pacientes acima do esperado, como o próprio Woquiton narrava, divertindo-se: ora era uma mulher que se queixava de uma dor que, no exame, revelava ter sentido cinco anos antes; ora um senhor que vinha examinar um ferimento já cicatrizado: todos queriam “experimentar” o hospital e os seus novos doutores…

A cidade já contava com a presença de outros médicos que clinicavam em suas próprias residências – como era o caso dos doutores Clóvis Cunha e Osvaldo Rodrigues Lima, caetiteenses, e o dr. Clarismundo Pontes, trazido de Salvador por convite do chefe político Ovídio Teixeira para fazer frente aos outros dois, seus opositores desde que o dr. Clóvis mudara de partido. O Hospital e Maternidade Senhora Santana logo se converteria em mais uma força política da cidade, trazendo em Woquiton a ambição de um dia governar Caetité.

Assim é que, em oposição ao dr. Ovídio, lançam candidato numa reunião realizada na casa do pai de Woquiton a José Neves Teixeira, seu aparentado e já residente em Guanambi. Apelidado de “Binha”, foi a primeira vitória do grupo de Woquiton na política (Binha viria, mais tarde, a ser também prefeito de Guanambi por duas vezes), selando assim o fim político do velho coronel Ovídio, que entregaria o bastão ao dr. Clarismundo Pontes, figura que rivalizaria com Woquiton a emocionante disputa eleitoral de 1970.

Com uma mentalidade nova e progressista que implantava na gestão da casa de saúde, na campanha de 1970 ele se tornou o “Setentão”; apesar do bipartidarismo a que a ditadura militar impusera, ambos os candidatos eram representantes da mesma corrente governista já então ligada ao caudilho da Bahia, Antônio Carlos Magalhães, de forma que disputavam Arena 1 e Arena 2. Recebeu adesões, como a do já nonagenário Prudêncio de Aroeira que o recebeu com uma “latada” enfeitada com fotografias dele, Woquiton, e de seus representantes deputados Odulfo Domingues e Vilobaldo Freitas, mas nenhum voto na urna daquele lugar. A campanha foi marcada por incidentes e ao final venceu Clarismundo Pontes para um mandato que foi encurtado para dois anos apenas.

Na eleição seguinte teve influência a intercessão de ACM, que não queria ver seus dois aliados engalfinhados em disputas; um acordo foi então celebrado com o seguinte resultado: a Arena 1 de Woquiton indicaria o sucessor de Clarismundo, depois este indicaria o próximo prefeito. Assim foi que Janir Aguiar, um nome que não suscitava invejas, foi indicado pelo seu grupo (houve uma dissidência no grupo de Pontes, com a candidatura isolada do ex-prefeito Zé Ladeia) e sucedido pelo professor Nivaldo Oliveira, do grupo adversário (mais uma vez com a candidatura dissidente dele advinda de Dácio Oliveira).

Foi durante a gestão de Nivaldo que Woquiton, que dirigia o Cerin e mantinha em segredo a doença que identificara e era incurável, que seu quadro de saúde se agravou e ele partiu já sem esperanças para São Paulo, onde morreu no dia 26 de junho de 1979. Seu corpo inerte retornou de avião à terra natal para um sepultamento que causou grande comoção em toda a região, e que contou com a presença do então governador e seu amigo, dr. Roberto Santos.

Seu grupo ficou acéfalo por um bom tempo e foi mais tarde assumido por Dácio Oliveira, que governou a cidade em várias ocasiões. O legado de progresso e protagonismo de Caetité, sobretudo na saúde, que Woquiton representou foi reconhecido com a nomeação de uma de suas principais vias da cidade com o seu nome: a Avenida Woquiton Fernandes Teixeira, que vai do velho hospital até a BR 030, passando pelo Mercado Público. Entre aqueles que o conheceram e partilharam de suas ideias ainda é presente a admiração por sua amizade e liderança, mesclada pela saudade que deixou. No plano político deixou exemplo de carisma e progresso que perdura mesmo após passados quarenta anos de seu falecimento.

Apesar de ele mesmo haver diagnosticado o mal que sofria, não o revelou até o fim. Entre suas coisas foi encontrada uma citação do autor francês Antoine de Saint-Exupéry, a refletir seu drama interior que marcou a história de Caetité: “Em cada pessoa há um grande segredo, uma planície interior com vales de silêncio e com paraísos secretos”.

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