jovempanEconomia brasileira deve sofrer impactos com o conflito no Leste Europeu
A Rússia avançou sobre o território da Ucrânia nesta quinta-feira, 24, e deflagrou um novo conflito militar na Europa. A mobilização das forças por terra, água e mar derrubou as Bolsas ao redor do mundo e fez o barril de petróleo Brent disparar. O Leste Europeu é referência em produção de commodities energéticas e agrícolas. A Rússia é a maior fornecedora de petróleo no continente europeu, enquanto a Ucrânia desempenha papel fundamental no abastecimento de grãos, como milho e trigo. Diante do iminente avanço das tropas, nesta terça-feira, 22, as maiores potências do Ocidente anunciaram uma série de sanções contra Moscou e empresários russos. A expectativa é que novas restrições sejam impostas nas próximas horas, principalmente pelos Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia.
A instabilidade gerada pelo conflito reverbera em todo o mundo, e no Brasil essas ondas podem levar ao aumento geral de alimentos e combustíveis, o que deve fazer com que a inflação se mantenha pressionada acima dos dois dígitos. Em resposta, o Banco Central (BC) vai ser obrigado a prolongar a escalada dos juros, gerando mais barreiras ao desenvolvimento da economia em um ano já cercado por desafios. Além disso, o país pode ter que enfrentar a quebra de acordos com as nações e a suspensão de exportações e importações, trazendo impactos para as empresas e para os consumidores finais. De um lado, a Rússia poderia, por exemplo, suspender as negociações de fertilizantes, prejudicando a produção de alimentos brasileira. Por outro lado, uma manifestação contrária aos Estados Unidos traria quebras de negociações bilaterais e prejudicaria diretamente a economia.
Aumento dos combustíveis
A eclosão do conflito aberto entre Rússia e Ucrânia fez o barril de petróleo tipo Brent — usado como referência pela Petrobras — disparar 8% e romper a barreira de RS$ 100 pela primeira vez desde 2014. A estatal segue a cotação internacional para formular o preço cobrado das distribuidoras brasileiras, e a escalada do barril pode deflagrar novos reajustes. A cotação do barril de petróleo é um importante mensurador do preço no mercado doméstico, mas não é o único. A conta também passa pela cotação do dólar, já que o valor de compra da commodity é pago na moeda norte-americana. Neste campo, o mercado brasileiro está em vantagem com a recente desvalorização do câmbio, que desde o começo do ano acumula queda de aproximadamente 10%.
Inflação pressionada
Os combustíveis foram os principais vilões que levaram o Índice de Preços aos Consumidores Amplo (IPCA) para 10,06% — quase o dobro do limite máximo — em 2021. O indicador oficial da inflação entrou no ano novo pressionado acima dos dois dígitos e bateu 10,76% em 12 meses encerrados em fevereiro, acima dos 10,2% registrados no período imediatamente anterior. Novos aumentos dos combustíveis podem dar fôlego para a subida do indicador, já que a alta no custo do transporte se reflete em diversas outras áreas da economia. Ao mesmo tempo, os impactos nos alimentos produzidos na Ucrânia deve impulsionar o movimento de estocagem por diversos países e elevar o preço ao redor do mundo.
Escalada dos juros
Em resposta à pressão inflacionária, o BC deve prolongar o aumento dos juros brasileiros, que já ocupam a liderança nas taxas mundiais. No início de fevereiro, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a Selic de 9,25% para 10,75% ao ano, e sinalizou novo aumento, apesar de em menor intensidade, no encontro agendado para o próximo mês. Em diversas oportunidades, o presidente da autoridade monetária, Roberto Campo Neto, afirmou que os juros vão subir até onde forem necessários para conter as expectativas de inflação em 2022 e 2023 — atualmente ambas estão acima da meta. O recado faz analistas preverem juros encostando em 13% ao ano no fim do ciclo de alta.
Economia em queda
A taxa de juros é usada como base para empréstimos e financiamentos, ou seja, quanto mais alta, mais difícil conseguir crédito. Este movimento freia os investimentos e prejudica as atividades essenciais para a economia, como o comércio e a indústria. A desaceleração da economia inflige na redução do consumo, queda da produção e aumento do desemprego. A recente escalada dos juros fazem analistas preverem que o Produto Interno Bruto (PIB) encerre esse ano com avanço de 0,3% — visões mais negativas estimam recessão com queda de 0,5%.
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