CASO JOÃO DE DEUS

Por Thiago Braga

A 15 dias atrás, fomos surpreendidos com o “caso João de Deus”, famoso “milagreiro” em Abadiânia, interior de Goiás. O homem que se dizia dotado por poderes especiais, auxiliava na cura de dezenas de pessoas, vindas de várias partes do mundo. Grande era o movimento de gente, em “trânsito livre”, pelos corredores do centro espírita, na busca por respostas para enfermidade, doença crônica, família, casamento, perca de ente querido, etc. Vale dizer que crianças, jovens e idosos, passaram pelo tratamento espiritual, recebendo o lenitivo desejado. “A primeira vista”, dentro da paz e da harmonia presentes no lar.

O Mentor abusava sexualmente de mulheres indefesas, quando postas em seu consultório, (sala fechada), sujeitando – se aos caprichos dele. Elas tinham medo e receio de possíveis atitudes violentas. O silêncio, por vezes, escondia aquele momento de fragilidade, sofrido pelas vítimas, presas sob “quatro paredes”. Não exprimiam nenhuma reação. Há 04 décadas, ações dessa natureza, aconteciam no local. Mar de acusações. A polícia conta com 200 denúncias formais, além de relatos de supostas vítimas entre 09 e 60 anos de idade. A doutrina espírita, em nota, “repudia” tais atos praticados pelo médium, lembrando que os atendimentos não devem ser cobrados mas, feitos de modo solidário, acrescentando ao Kardecismo, três pilares fundamentais: caridade, união e partilha.

A Casa Dom Inácio de Loyola, guarnece de móveis, objetos, material de trabalho e pequena livraria seguida da produção de frascos de remédios para cura (boa fé). Um conjunto de edifícios, cujo espaço linear abriga salas, ante – salas, recanto de oração, lanchonete e área de serviço. Verdadeiro oásis em pleno serrado. O ponto de encontro de fiéis, seguidores e simpatizantes da obra, “ganhou fama” nos últimos anos. Inspira histórias de cura e liberdade. “Seu” João, figura altamente respeitada no Brasil. Realizou pequenas cirurgias. Há inúmeros exemplos de curas, “feitas ali mesmo”, diante de quem quer que fosse o paciente. Filas de espera ocupavam o vão principal da casa, tomando assento nas cadeiras, ou de pé nas dependências da construção adaptada, havendo ajudantes para atividades em geral.

Força tarefa foi montada para apurar o caso, sendo que PM apreendeu no última terça feira dinheiro em espécie, (origem duvidosa), revólveres com numeração raspada e pedras preciosas (esmeralda), no fundo falso de guarda roupa que dá acesso à quarto de 3 m². “João de Deus” gozava de vida de conforto, possuindo propriedade rural, tida como “lugar de descanso”, alta quantia no banco e larga influência na região. Conta com 76 anos, parte deles vividos no município onde fixou residência, desenvolvendo o que considera “tarefa sagrada”. “Cidadão ilustre” de Abadiânia, desde cedo, tornou – se conhecido pelo país afora, num prestígio sem tamanho, no qual ninguém podia imaginar tais absurdos. Acumulou riquezas. Patrimônio estimado em mais de meio milhão de reais. No entanto, o passado obscuro, veio a tona, mostrando o velho pai, avô, ex – garimpeiro de infância difícil.

A dita cidade, no interior de Goiás, está povorosa! A venda de produtos, caiu 90% no comércio que amanhece vazio, inclusive hotéis e pensões, que não mais recebem caravana de visitantes. O prefeito José Diniz, teme pela queda na economia que se mantém ativa, devido a presença da Casa Branca. “Tudo corre ao redor de Dom Inácio”. Desde a venda de um cafezinho, ao acerto de taxa de hospedagem. O João está preso, em Aparecida de Goiânia, até conclusão do rito. A justiça investiga fatos envolvendo abusos, valores não declarados a Receita Federal, crimes de coação, ameaça à testemunhas e demais atentados, (alguns já pescritos em razão do tempo). Espera “por fim” no caso, penalizando o responsável, uma vez idoso e de saúde frágil, a responder dentro da lei. Esta passagem, entra para os anais do Direito brasileiro.

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