André do Amaral
Não serei arrastado na lama que rompeu a barragem que impedia a barbárie.
O país não é só isso.
Para cada Gilmar Mendes, tem um Manoel de Barros.
Para cada Aécio Neves, tem um mestre de Congada resistindo à opressão nas mesmas terras mineiras.
Para cada Michel Temer, um Mário de Andrade na paulicéia.
O país não é só um branco de gravata ou toga.
É vermelho na pele indígena.
É preto potente na pele da menina.
É um guri, um piá, um curumim.
É trans!
É trem bão, é da hora, é sinistro, é massa! Ainda que não pareça, passa.
E eles passarão.
Desanima, não.
Menos preocupação e mais ocupação.
O país, novamente, está sendo saqueado. Seu povo pobre dizimado.Mas, até por uma questão de lógica, enquanto estivermos vivos não dá pra decretar derrota.
Minha energia.Meu pensamento e meu afeto se movem pela transformação e pela justiça social.
Para que pessoas não morram pela cor da pele.
Pela orientação sexual.
Por denunciarem injustiças.
Por serem quem são.
O país não é só o Planalto.
A injustiça suprema.
Homens asquerosos.
Um país reacionário.
Quadrado.
É também roda.
De samba.
De capoeira.
De poesia.
É uma espiral.
É a mata, os bichos, as ervas, a arte, o povo.Tudo que nele brota.
É uma idosa distribuindo sopa e cuidando de pessoas em situação de rua.
É uma benzedeira curando as crianças da comunidade.
É um professor mal pago e apaixonado mudando a vida de crianças e jovens.
É um poeta desconhecido.
Uma dançarina sonhadora.
Uma enfermeira incansável.
Um músico genial.
Um gari cantarolando enquanto varre.
Um garçom simpático.
Uma cozinheira incrível.
Um sábio pajé.
Uma mulher quilombola líder comunitária.
Uma criança alcançando o paraíso na amarelinha.
Um bando de gente linda e anônima.
O Brasil é imenso!
Desistir dele é deixar de perceber a beleza que nele contém.
Abrir mão da potência que dele provém.
Vamô junto!
Contra a perda de direitos e o desmonte do país, o lema do povo guerreiro:
“Só a luta muda a vida!”
André do Amaral, 30 anos, paulistano. Escritor e arte-educador formado em Letras pela Universidade de São Paulo (USP). Investiga a potencialidade criadora da escrita. Trabalhou em diversos projetos de arte-educação que lhe ensinaram a importância de “desaprender”. Atualmente, é orientador de dramaturgia no Projeto Espetáculo do Programa Fábricas de Cultura, mantém um blog de publicação semanal, ministra encontros de criação literária e desenvolve uma dissertação de mestrado no Instituto de Artes da UNESP. Ver todos os posts de André do Amaral
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