Oito dos presos nos atos golpistas de 8 de janeiro receberam para fazer campanhas de aliados de Bolsonaro

Ao menos oito pessoas presas por participarem dos atos golpistas do dia 8 de janeiro trabalharam para candidatos nas eleições de 2022. Deste, seis atuaram para eleger nomes do PL, mesmo partido do ex-presidente Jair Bolsonaro. Os detidos tiveram suas prisões em flagrante convertidas para preventiva — em que não há prazo determinado para acabar — nesta semana por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

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Como os processos correm em sigilo, não é possível saber os crimes imputados a cada um deles. Mas, de acordo com o gabinete de Moraes, eles envolvem atos terroristas, associação criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, ameaça, perseguição ou incitação ao crime.

Entre os que receberam para trabalhar nas eleições e, meses depois, foi preso por participar de atos que contestavam o resultado eleitoral está Wenderson Luiz Brandão Barros. Ele foi contratado pelo deputado federal eleito André Fernandes (PL-CE), atualmente deputado estadual. De acordo com a prestação de contas do candidato, Fernandes pagou R$ 2 mil pelos serviços de Wenderson.

O parlamentar é alvo de pedido de inquérito da Procuradoria-Geral da República sob suspeita de promover os atos antidemocráticos que resultaram na invasão e depredação das sede dos Poderes, em Brasília. Dois dias antes dos ataques, Fernandes fez uma publicação nas redes sociais sobre o tema: “Neste final de semana acontecerá, na Praça dos Três Poderes, o primeiro ato contra o governo Lula. Estaremos lá!”, escreveu.

Depois, no próprio domingo, o deputado postou uma foto da porta arrancada de um armário do ministro Alexandre de Moraes e ironizou: “Quem rir vai preso”. Após o pedido da PGR, Fernandes disse que não convocou ninguém para o ato e disse que não sabia que haveria “quebra-quebra nem vandalismo”.

A defesa de Barros afirmou que ele não tem “qualquer ligação” com Fernandes e que a empresa de segurança dele prestou serviços para o deputado. Os advogados ainda afirmaram que Barros estava acampado no Quartel-General do Exército e não foi para a Praça dos Três Poderes, “logo não há o que se falar em qualquer tipo de participação nas depredações dos prédios públicos”. Fernandes também foi procurado, mas não retornou.

Coordenadora recebeu R$ 5 mil

Entre os presos, quem recebeu a maior quantia para trabalhar na campanha eleitoral foi Tatiane da Silva Marques, que atuou como “coordenadora de equipe” deputado federal reeleito Bibo Nunes (PL-RS): ele pagou R$ 5 mil pelos serviços dela. O GLOBO entrou em contato com o deputado, mas não foi respondido.

Ex-secretário de Cultura do governo Bolsonaro, André Porciúncula (PL-BA) pagou R$ 2.600 para Antonio Luis da Silva, também preso por ordem de Moraes. Procurado, Porciúncula informou que não conheceu pessoalmente Antonio e que ele foi contratado para entregar panfletos.

— Minha coordenação disse que ele trabalhou, sim. Era responsável por entrega de panfleto. Mas eu não o conheci. Toda essa parte operacional era feita pela coordenação, não tinha contato com as equipes de panfletagem contratadas.

Outro ex-secretário do governo Bolsonaro, o senador eleito Jorge Seif (PL-SC), gastou R$ 840 com Ademar Guinzelli. Em sua conta no Facebook, Guinzelli fez diversas publicações de apoio a Bolsonaro. Em uma delas, de dezembro, dizia que queria entregar o diploma de eleito ao ex-presidente, mesmo após ele ter sido derrotado. Seif foi procurado pela reportagem, mas não respondeu.

O deputado federal Abilio (PL-MT), por sua vez, contratou Helio José Ribeiro por R$ 800. Ele afirmou que não conhece Ribeiro e que orientou todos seus funcionários a não participarem dos atos.

— Não apoiei os atos e manifestações, não estive em nenhum ato e manifestação e ainda orientei todas da minha equipe a não participarem. Qualquer pessoa que tenha participado não foi com o meu consentimento.

Abilio ganhou evidência por ter minimizado a destruição em partes da Câmara após os atos, declaração que foi criticada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Ele diz que a fala foi um mal-entendido e que já conversou com Lira para se explicar.

O coach Pablo Marçal (Pros-SP), que se lançou a deputado federal mas teve a candidatura barrada, contratou Magno José da Silva por R$ 780. Questionado pela reportagem por meio de sua assessoria, a campanha de Marçal respondeu que Magno foi um dos mais de 600 colaboradores que presetaram serviço na campanha de deputado federal, realizando entrega de material de campanha nas ruas, sem qualquer outro vínculo.

José Gomes (PP-DF), que não conseguiu se eleger deputado federal, pagou R$ 300 para Daniel dos Santos Bispo. Por meio de sua assessoria, ele informou que “centenas de pessoas” trabalharam em sua campanha e que não se lembra de Daniel. Gomes afirmou ainda que “os cidadãos brasileiros têm direito a manifestações democráticas, porém respeitando os limites impostos pelas regras constitucionais”.

Já Carla Xavier (PL), que ficou como suplente para deputada estadual na Bahia, desembolsou R$ 1.889 para pagar Renata Sousa Massa, que participou dos atos golpistas. O GLOBO entrou em contato com Carla, mas ela não respondeu.

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