— O MDB é muito maior do que meia dúzia de seus políticos e seus caciques. É o maior partido do Brasil, um partido que vem da base, da redemocratização — afirmou a candidata, enumerando em seguida personalidades históricas emedebistas, que disse “ter como espelho”, como Ulysses Guimarães, Pedro Simon e Jarbas Vasconcelos: — É um partido ético, que tem, sim, uma meia dúzia que esteve envolvida no petrolão do PT, e hoje não estão conosco. Inclusive, tentaram puxar o meu tapete há pouco tempo atrás.
Tebet alegou que os correligionários que se aliaram a Lula tentaram impedi-la de mostrar que “o partido não é mais fisiológico”. Presente na base governista de todos os governos do PSDB e do PT — e titular do Executivo com Michel Temer após o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016 —, o MDB, pela primeira vez nas últimas décadas, não está na situação desde que Jair Bolsonaro (PL) foi eleito presidente, em 2018.
— Precisamos mostrar a importância que o centro democrático tem para o Brasil. E vamos governar com os partidos que se somam conosco, porque ninguém governa sozinho — disse Tebet, que prometeu adotar um “presidencialismo de conciliação”: — Temos que deixar de esse lado esse presidencialismo de coalizão, que na verdade é de coação.
Tebet também negou que irá ceder cargos em troca de apoio no Congresso. Ela garantiu que serão necessárias apenas duas características para estar em um eventual ministério: “Ser honesto e competente”.
Ao longo da entrevista, em um aceno para o eleitorado feminino, Tebet frisou várias vezes ser “mulher” e “mãe”. Ela lembrou que foi relatora do projeto que destina mais recursos do fundo eleitoral a siglas que elegerem mulheres e negros e prometeu que, se for eleita, sua primeira iniciativa enviada ao Congresso tratará da garantia de igualdade salarial — “é um projeto que aprovamos no Senado e está parado na Câmara”, frisou.
— Hoje, mulheres ganham 20% menos do que homens. Se for negra, ganha 40% menos. Estamos há 20 anos lutando por um projeto como esse e não conseguimos, mas, se eu for eleita, essa será a prioridade número 1 da pauta feminina — assegurou.
Questionada pela bancada sobre o fato de que somente 33% das candidaduras do MDB nas eleições deste ano serem de mulheres, mesmo patamar do último pleito, Tebet pontuou que esse cenário não acontece apenas no partido. A senadora argumentou que a conquista de direitos por parte das mulheres “é uma escada”.
No campo da economia, Tebet admitiu que, apesar de defender uma agenda liberal, será preciso “extrapolar” o teto de gastos no próximo ano para garantir uma transferência de renda permanente de R$ 600 à população mais pobre:
— Em relação à transferência de renda permanente, isso já está precificado, o mercado já sabe que vamos ter que, no ano que vem, extrapolar o teto em algo em torno de R$ 60 bilhões para cobrir essa transferência de renda. É inadmissível nós não garantirmos pelo menos R$ 600 para quem tem fome.
A candidata disse ainda que irá “construir um milhão de casas” apenas acabando com o orçamento secreto, artifício adotado no Congresso durante o governo de Bolsonaro que prevê o repasse direto de verbas por parlamentares. Ela ressaltou que o eixo de seu programa será a “agenda social”:
— Erradicar a miséria, diminuir a pobreza e acabar com a fome do Brasil — enumerou.
Ainda dentro da esfera econômica, Tebet também afirmou ser favorável à taxação de lucros e dividendos. Segundo ela, é preciso isentar o máximo possível a classe média no Imposto de Renda:
— Nós temos que garantir mais espaço para a classe média. Ou seja, fazer com que ela possa não pagar o Imposto de Renda. Para isso, só tem um caminho: tirar (o peso tributário) dos mais pobres e pedir para os mais ricos. Eu sou a favor da taxação de lucros e dividendos. É uma discussão madura — afirmou ela. — É a Lei Robin Hood, mas não vamos roubar de ninguém, só vamos pedir a eles (ricos) que contribuam minimamente para um país que é o mais rico do mundo com o povo mais pobre.
Aliados da emedebista apostam na entrevista ao Jornal Nacional para tornar a candidata mais conhecida do grande público. A última pesquisa Datafolha apontou que 73% dos brasileiros não sabem quem é a senadora. A expectativa é que, a partir da sabatina no principal telejornal do país, Tebet ganhe fôlego nas pesquisas. Ela tem marcado 2% de intenções de voto.
Apesar da importância dada à entrevista pela campanha internamente, a propaganda eleitoral de Tebet veiculada na tarde desta sexta-feira errou o horário de exibição do programa. Na primeira inserção na TV, foi anunciado que ela estaria no JN a partir das 20h30, momento em que começaram as sabatinas anteriores, de Bolsonaro, Ciro Gomes e Lula. O telejornal, contudo, teve início às 20h55, justamente por causa da abertura da propaganda eleitoral gratuita nas TVs e rádios.
Ao abrir a série de entrevista no telejornal, na segunda-feira, Bolsonaro foi cobrado a assumir um compromisso de respeito ao resultado das urnas, mas condicionou o aceite à realização de “eleições limpas e transparentes” e repetiu dados incorretos e distorcidos sobre o sistema eletrônico de votação. Bolsonaro também mentiu ao negar ter xingado ministros do STF, desinformou sobre o combate à pandemia da Covid-19 e inflou dados da economia brasileira para defender seu governo.
Já Ciro Gomes afirmou no JN que não concorrerá à reeleição caso saia vitorioso em outubro. Questionado sobre o isolamento político de sua chapa, que não conta com nenhuma aliança em âmbito nacional, o pedetista acrescentou que se valerá do mandato único para facilitar as negociações com o Congresso e que recorrerá a plebiscitos para aprovar propostas que não consiga viabilizar junto aos parlamentares.
Nesta quinta-feira, Lula se apresentou em tom conciliador mirando uma ampliação de seu eleitorado, citando diversas vezes o vice Geraldo Alckmin (PSB), e terceirizou erros ao ser questionado sobre corrupção e crise econômica nos governos petistas. Sobre o primeiro tema, confrontado com a admissão dos esquemas na Petrobras por parte de delatores, Lula respondeu que “você não pode dizer que não houve corrupção se as pessoas confessaram”, mas emendou o raciocínio com uma crítica às delações na Lava-Jato, acusando a força-tarefa de “premiá-las” por “falar o que o Ministério Público queria”.
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