Tebet no Jornal Nacional: senadora critica ‘caciques do MDB’, reclama de ‘puxada de tapete’ e foca no eleitorado feminino

A senadora e Última presidenciável entrevistada pelo Jornal Nacional, da TV Globo, Simone Tebet (MDB)
Última presidenciável entrevistada pelo Jornal Nacional, da TV Globo, Simone Tebet (MDB) criticou, ainda que sem citar nenhum nome diretamente, algumas das principais figuras do próprio partido, chamadas por ela de “caciques do MDB”. A senadora reclamou do que chamou de uma “puxada de tapete”, referindo-se ao apoio de emedebistas de peso à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Lideranças da legenda como o também senador Renan Calheiros, Eunício Oliveira e Edison Lobão, entre outras, tentaram retirar Tebet formalmente da corrida eleitoral para firmar um acordo formal com o petista.

— O MDB é muito maior do que meia dúzia de seus políticos e seus caciques. É o maior partido do Brasil, um partido que vem da base, da redemocratização — afirmou a candidata, enumerando em seguida personalidades históricas emedebistas, que disse “ter como espelho”, como Ulysses Guimarães, Pedro Simon e Jarbas Vasconcelos: — É um partido ético, que tem, sim, uma meia dúzia que esteve envolvida no petrolão do PT, e hoje não estão conosco. Inclusive, tentaram puxar o meu tapete há pouco tempo atrás.

Tebet alegou que os correligionários que se aliaram a Lula tentaram impedi-la de mostrar que “o partido não é mais fisiológico”. Presente na base governista de todos os governos do PSDB e do PT — e titular do Executivo com Michel Temer após o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016 —, o MDB, pela primeira vez nas últimas décadas, não está na situação desde que Jair Bolsonaro (PL) foi eleito presidente, em 2018.

— Precisamos mostrar a importância que o centro democrático tem para o Brasil. E vamos governar com os partidos que se somam conosco, porque ninguém governa sozinho — disse Tebet, que prometeu adotar um “presidencialismo de conciliação”: — Temos que deixar de esse lado esse presidencialismo de coalizão, que na verdade é de coação.

Tebet também negou que irá ceder cargos em troca de apoio no Congresso. Ela garantiu que serão necessárias apenas duas características para estar em um eventual ministério: “Ser honesto e competente”.

Ao longo da entrevista, em um aceno para o eleitorado feminino, Tebet frisou várias vezes ser “mulher” e “mãe”. Ela lembrou que foi relatora do projeto que destina mais recursos do fundo eleitoral a siglas que elegerem mulheres e negros e prometeu que, se for eleita, sua primeira iniciativa enviada ao Congresso tratará da garantia de igualdade salarial — “é um projeto que aprovamos no Senado e está parado na Câmara”, frisou.

— Hoje, mulheres ganham 20% menos do que homens. Se for negra, ganha 40% menos. Estamos há 20 anos lutando por um projeto como esse e não conseguimos, mas, se eu for eleita, essa será a prioridade número 1 da pauta feminina — assegurou.

Questionada pela bancada sobre o fato de que somente 33% das candidaduras do MDB nas eleições deste ano serem de mulheres, mesmo patamar do último pleito, Tebet pontuou que esse cenário não acontece apenas no partido. A senadora argumentou que a conquista de direitos por parte das mulheres “é uma escada”.

No campo da economia, Tebet admitiu que, apesar de defender uma agenda liberal, será preciso “extrapolar” o teto de gastos no próximo ano para garantir uma transferência de renda permanente de R$ 600 à população mais pobre:

— Em relação à transferência de renda permanente, isso já está precificado, o mercado já sabe que vamos ter que, no ano que vem, extrapolar o teto em algo em torno de R$ 60 bilhões para cobrir essa transferência de renda. É inadmissível nós não garantirmos pelo menos R$ 600 para quem tem fome.

A candidata disse ainda que irá “construir um milhão de casas” apenas acabando com o orçamento secreto, artifício adotado no Congresso durante o governo de Bolsonaro que prevê o repasse direto de verbas por parlamentares. Ela ressaltou que o eixo de seu programa será a “agenda social”:

— Erradicar a miséria, diminuir a pobreza e acabar com a fome do Brasil — enumerou.

Ainda dentro da esfera econômica, Tebet também afirmou ser favorável à taxação de lucros e dividendos. Segundo ela, é preciso isentar o máximo possível a classe média no Imposto de Renda:

— Nós temos que garantir mais espaço para a classe média. Ou seja, fazer com que ela possa não pagar o Imposto de Renda. Para isso, só tem um caminho: tirar (o peso tributário) dos mais pobres e pedir para os mais ricos. Eu sou a favor da taxação de lucros e dividendos. É uma discussão madura — afirmou ela. — É a Lei Robin Hood, mas não vamos roubar de ninguém, só vamos pedir a eles (ricos) que contribuam minimamente para um país que é o mais rico do mundo com o povo mais pobre.

Aliados da emedebista apostam na entrevista ao Jornal Nacional para tornar a candidata mais conhecida do grande público. A última pesquisa Datafolha apontou que 73% dos brasileiros não sabem quem é a senadora. A expectativa é que, a partir da sabatina no principal telejornal do país, Tebet ganhe fôlego nas pesquisas. Ela tem marcado 2% de intenções de voto.

Apesar da importância dada à entrevista pela campanha internamente, a propaganda eleitoral de Tebet veiculada na tarde desta sexta-feira errou o horário de exibição do programa. Na primeira inserção na TV, foi anunciado que ela estaria no JN a partir das 20h30, momento em que começaram as sabatinas anteriores, de Bolsonaro, Ciro Gomes e Lula. O telejornal, contudo, teve início às 20h55, justamente por causa da abertura da propaganda eleitoral gratuita nas TVs e rádios.

Ao abrir a série de entrevista no telejornal, na segunda-feira, Bolsonaro foi cobrado a assumir um compromisso de respeito ao resultado das urnas, mas condicionou o aceite à realização de “eleições limpas e transparentes” e repetiu dados incorretos e distorcidos sobre o sistema eletrônico de votação. Bolsonaro também mentiu ao negar ter xingado ministros do STF, desinformou sobre o combate à pandemia da Covid-19 e inflou dados da economia brasileira para defender seu governo.

Já Ciro Gomes afirmou no JN que não concorrerá à reeleição caso saia vitorioso em outubro. Questionado sobre o isolamento político de sua chapa, que não conta com nenhuma aliança em âmbito nacional, o pedetista acrescentou que se valerá do mandato único para facilitar as negociações com o Congresso e que recorrerá a plebiscitos para aprovar propostas que não consiga viabilizar junto aos parlamentares.

Nesta quinta-feira, Lula se apresentou em tom conciliador mirando uma ampliação de seu eleitorado, citando diversas vezes o vice Geraldo Alckmin (PSB), e terceirizou erros ao ser questionado sobre corrupção e crise econômica nos governos petistas. Sobre o primeiro tema, confrontado com a admissão dos esquemas na Petrobras por parte de delatores, Lula respondeu que “você não pode dizer que não houve corrupção se as pessoas confessaram”, mas emendou o raciocínio com uma crítica às delações na Lava-Jato, acusando a força-tarefa de “premiá-las” por “falar o que o Ministério Público queria”.

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