VILA DE JOÃO AMARO-BAHIA: O JORNAL DE SEU ACURSO
Por Antonio Novais Torres
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Acurso Ciríaco de Lima – Seu Acurso – aposentado da RFFSA tinha um Q.I. (sigla de Quociente Intelectual), muito elevado. Tratava-se de uma pessoa inventiva, de muita diligência, de grande iniciativa, de atitude irrequieta e estava sempre à procura de algo para inventar ou fazer. Aquietando-se na senectude, seu Acurso, que sempre professou o catolicismo, aderiu-se à seita Adventista do 7º dia e nela feneceu.
Possuía uma caligrafia invejável e traçava as letras com perfeição. Era um calígrafo e um bom desenhista das formas e caricaturas das pessoas e o fazia muito bem. Era um retratista de figuras, inspiradas na realidade ou na imaginação, apesar de nunca ter estudado as características, as formas e os traçados geométricos. Além de exímio desenhista era um humorista sagaz, uma expressão artística do seu talento vocacional, adquirido sem mestre.Antes da religiosidade, incentivado, lançou um “jornal” intitulado ‘ O descobridor’, esporádico, escrito em papel almaço, feito à mão, com críticas às vezes difamatórias, cujo teor representava mais um pasquim que propriamente um jornal. O escrito tinha o objetivo de difundir as notícias boas e más do local. Exigia que os “repórteres interessados” lhe levassem não só o papel, como canetas, além de informações das novidades locais, incluindo as fofocas e notícias picantes que envolviam as pessoas.
Os políticos locais, ele os nominava por apelido. “O Xerife”, por exemplo, era um político poderoso, que mandava e desmandava, segundo a sua conveniência, e assim os outros tinham a sua alcunha, que era do conhecimento do povo.
Investia contra os políticos criticando as suas ações quer administrativas ou sociais. Avaliava os desregramentos morais e éticos de algumas pessoas da comunidade, atitudes que trouxeram-lhe grandes dissabores e revoltas dos que se sentiam injustiçados pelas notícias “inverídicas” publicadas, as quais Acurso atribuía aos “repórteres” que informavam-lhe o fato noticiado, isentando-se da responsabilidade pelo divulgado.
Entre outras histórias, a de um sujeito que tornara-se “amigo” de uma jumenta e, às escondidas, andava a tocar a dita cuja pela várzea, à procura de um local ideal para copular (Zooerastia ou bestialidade). Nesse episódio, o protagonista foi retratado, através de desenho que facilmente se identificava o personagem copulando com o animal e, por ter baixa estatura, serviu-se de auxílio de tijolos para ficar em posição adequada. Por conta desse noticiário, arranjou muitos inimigos da família e amigos do indigitado, visto que alguns não aceitaram a divulgação do ocorrido, alegando ser uma manifestação maledicente, inventada, embora muita gente confirme a veracidade do caso.
O “jornal” de tiragem única e esporádica era lido pelos fofoqueiros e curiosos que tinham acesso ao noticiário publicado. “O DESCOBRIDOR”, esse era o nome do periódico, que divulgava as notícias políticas e sociais verossímeis ou não, cujo teor o autor não se responsabilizava pela veracidade das informações e não divulgava a fonte que considerava sacrossanta.
Consideremo-lo um editor que divulgava os assuntos com a perfeição de um profissional tarimbado. Assim surgiu o primeiro “jornal”, “O DESCOBRIDOR”, escrito à mão, do distrito de João Amaro. O nome descobridor fora dado pelo responsável por motivos óbvios.
Desse modo foi-me contado e assim o reproduzo. Qualquer exagero é responsabilidade dos “repórteres”.
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