“Para a gente entender a sociedade brasileira, tem que se considerar a sua pluralidade, e a nossa sociedade é composta por um percentual significativo de afrobrasileiros. Nossos valores, nossa cultura, nossa língua, nossas tradições religiosas, têm uma presença e uma ancestralidade afrobrasileira bastante marcada”, explicou o professor da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), Flávio Gonçalves dos Santos. Nessa terça, 26, o docente apresentou a palestra “De um porto atlântico a outro: modernização, circulação de mercadorias e relações de gênero”, no campus de Vitória da Conquista. A atividade foi promovida pela Especialização em História: Política, Cultura e Sociedade, em parceria com o Departamento de História (DH), com o objetivo de fomentar nos alunos o interesse por pós-graduação.
Para a professora do DH e coordenadora da Especialização, Cleide Lima, o evento possibilitou a apresentação da linha de pesquisa do Mestrado em História recentemente implantado na Uesc. “No sentido de estreitar laços e trazer novas perspectivas de pesquisas para os nossos discentes aqui, tanto da pós-graduação quanto da graduação”, destacou.
De acordo com o professor Flávio Gonçalves, é preciso apresentar para a sociedade brasileira outras percepções da África e das relações que o Brasil manteve com o continente ao longo da sua história. “As pessoas sempre associam a história da África e dos africanos à noção de escravidão. Só que essa história é muito antiga, remonta à pré-história, aos reinos do Egito, e ela é bastante contemporânea, afinal de contas, a África está aí como uma potência em estado de latência que não se desenvolve, evidentemente, por um conjunto de interesses geopolíticos e geoeconômicos”, enfatizou. Nesse sentido, ele lembra: “as conexões atlânticas estão a todo momento ao nosso redor, é só perceber”.
Racismo – A base do distanciamento em relação ao continente africano está centrada em uma noção equivocada de superioridade e inferioridade racial. É o que refletiu o professor: “O racismo está na base da forma de como a gente percebe a sociedade africana. Não é um racismo exclusivo da sociedade brasileira, é um racismo ocidental, proposital, na medida em que o continente africano é subestimado naquilo que ele contribuiu para a sociedade de maneira geral”.
Exemplos dessa contribuição foram citados pelo pesquisador, como a astronomia, a matemática e a filosofia. Além disso, “na própria estrutura do catolicismo, você vai encontrar a raiz da filosofia ocidental na África, no Egito. Se você vai entender as grandes navegações, a construção desse processo de globalização, ou mesmo nos cenários de conflito hoje, boa parte de riqueza da humanidade, de reservas de minério e de água, há uma centralidade do continente africano. Nós precisamos nos humanizar, nos sensibilizar e desconstruir certos estereótipos”, concluiu.
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