Necessitamos de uma “Terceira Via”?

POR Nilo Garcia Silveira

A pesquisa do Instituto Datafolha divulgada na data de 12/05/2021, pelo jornal “Folha de S. Paulo” , com os índices de intenção de voto para o primeiro turno da eleição presidencial de 2022, apontam o seguinte cenário:

Lula (PT): 41%
Bolsonaro (sem partido): 23%
Moro (sem partido): 7%
Ciro (PDT): 6%
Luciano Huck (sem partido): 4%
João Doria (PSDB): 3%
Luiz Henrique Mandetta (DEM): 2%
João Amoêdo (Novo): 2%
Brancos/nulo/nenhum:  9%
Não sabe: 4%

Pesquisas são uma foto do momento, porém a eleição é um filme completo. Na atual conjuntura, estamos embarcando em uma máquina do tempo, voltando politicamente à 2016, numa revanche ao processo de impeachment; porém,com contexto econômico bem pior do que a crise que se iniciou em 2015 (PIB de -3,5% em 2015 e -3,3% em 2016) . Sem falar no mais complexo tabuleiro geopolítico dos últimos tempos.

Se continuarmos analisando os nomes que já partiram para a corrida eleitoral (como se não estivessem ocorrendo mais de 2000 mortes diárias no país), simplesmente pelos nomes em si, as suas personalidades e contradições; caminharemos para um ponto extremamente perigoso da nossa história, provavelmente sem retorno. Explico a seguir:

O esgarçamento das instituições republicanas, fez com que o sistema político/judiciário de pesos e contrapesos se fragiliza a tal ponto que, possibilitou um verdadeiro genocídio da nossa população; seja pela doença, pela miséria ou pela violência.Esse enfraquecimento abriu o caminho para a adoção do negacionismo da ciência e do charlatanismo médico como políticas públicas de saúde! No dia que escrevo (24/05/2021); os pais, mães, avós, filhos e amigos levados pela pandemia do COVID-19 são 449.858 . Segundo um estudo da USP , o cálculo dano número de óbitos no ano de 2020 chega próximo a 39%! Se aplicarmos esse índice ao total de mortes, estamos falando em mais de 630.000 brasileiros que tiveram suas vidas ceifadas!

Fora o trágico quadro sanitário do país, a situação econômica beira uma hecatombe nuclear! Temos 17 indústrias fechando por dia nos últimos 5 anos e 15000 restaurantes que faliram em São Paulo e Rio .Já os conservadores financistas e fiscalistas, que vociferaram contra um resultado negativo no ano de 2015, então de R$ 114,9 bilhões ; silenciaram-se contra o histórico déficit fiscal de R$ 743,1 bilhões em 2020 .O resultado de toda essa calamidade pública é o inédito contingente que vive à margem do sistema econômico :14,3 milhões de desempregados e 5,9 milhões de desalentados.Ou seja, 20,2 milhões de pais, mães e filhos que diariamente voltam para suas casas (ou barracas, palafitas, ocupações etc.) sem o sustento para sua família…

Mas como não bastassem a desintegração da economia, dos serviços públicos e do sistema político; parece que ainda temos mais alguns círculos de um inferno dantesco pela frente.Como uma grande parte dos brasileiros é expurgado do ciclo econômico e de uma sociedade minimamente civilizada, nossos irmãos estão à mercê do tráfico de drogas, organizações que se dizem “religiosas” e a milícia. O tráfico oferece um arriscado empreendimento para uma geração sem futuro, as “igrejas” (com várias aspas) fazem a subjugação mental e assistencial das almas desvalidas, e as milícias oferecem vários serviços como TV à cabo, internet, gás(inclusive a “segurança” contra eles mesmos),com um argumento bem persuasivo: a violência.

Dito tudo isso, vamos ainda discutir uma 3ª via eleitoral? Que tipo de crápulas insensíveis ao sofrimento alheio nos tornamos?

Primeiramente, por uma questão ética, precisamos afastar o atual presidente (registro que o cargo merece o P maiúsculo, mas o atual ocupante nunca cumpriu com o mínimo decoro para tal). A CPI já demonstrou e comprovou que o presidente se mobilizou para impedir a aquisição de vacinas, promoveu a aglomeração da população, receitou criminosamente remédios para um tratamento que não existe,lutou contra governadores e prefeitos que tentavam realizar políticas de isolamento social. Dessa forma, qualquer tentativa de combate à pandemia com esse governo é inócua! Sem o efetivo enfrentamento da doença, a debilitada economia não tem nenhuma chance em curto ou médio prazo de recuperação. E sem meios de se proteger, a população continuará a morrer feito moscas.

Em segundo lugar, o que desejamos para nosso país? Como vamos resolver nossos conflitos sociais? Vamos continuar com o mesmo sistema que gerou uma das mais desiguais sociedades do mundo ? Ou vamos manter uma das mais absurdas concentrações de renda ? Sem um projeto de país e, principalmente, um projeto de desenvolvimento; continuaremos bailando um nostálgico tango à beira do precipício! Temos conflitos distributivos (impostos!), sociais (herança da escravidão) e uma série de demandas históricas (educação, saúde, infraestruturas) que não vão se resolver espontaneamente. Precisamos sim de um plano para sair desse abismo infernal e alcançarmos os vales verdejantes, onde cada brasileiro possa claramente identificar sua justa porção e participação nessa nova coletividade.

Voltando brevemente ao quadro eleitoral, é muito difícil, mas um caminho alternativo é possível. Ciro Gomes, na minha singela opinião, defende minimamente um projeto para o Brasil e pode inaugurar essa discussão no país. Moro está “des-Moro-lizado” depois da Vaza-Jato. Luciano Hulk assinou um milionário contrato para assumir a programação dominical (obrigado Fausto!). Dória tem grandes dificuldades para se reeleger em São Paulo, quiçá se eleger nacionalmente. E caso o PDT consiga fazer uma aliança mais expressiva, provavelmente o DEM, ou pelo menos parte dele, estarão juntos; ganhando mais alguns pontos percentuais do Mandetta. Somando tudo isso à contínua broxada da aprovação pública do capitão reformado, Ciro Gomes pode alimentar uma pequena esperança.

Por fim, é muito grave a situação do Brasil e de nós brasileiros. O Brasil, sendo um país com todas suas potencialidades, não tem a opção de não exercer sua soberania. Se não tivermos nenhum plano para nós mesmos, não importa o resultado das próximas eleições. Estaremos fadados a ser desmembrados, prostrados sob interesses alheios e manchados com o sangue dos nossos irmãos.

“Se você não sabe onde quer ir, qualquer caminho serve.”
Lewis Carroll, em ‘Alice no País das Maravilhas’

Nilo Garcia Silveira,
Mais um brasileiro indignado

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