Conquista Assim Tudo Começou
Por Nando da Costa Lima
A mata estava nublada, não dava pra enxergar um palmo adiante do nariz, o frio gelava os ossos, mesmo cansados e congelados os homens continuavam a caminhada mata adentro, o capitão mor tinha dobrado o pagamento para que aquela empreitada se realizasse antes do sol nascer. Tinham que acabar com aqueles índios que estavam impedindo a entrada da civilização na melhor faixa de terra do planalto. Eram as terras dos mongoiós, uma gente pacífica que apenas reagia às invasões de sua terra, só queriam permanecer no lugar que era seu por direito , eles estavam a mais de uma légua da grande aldeia justamente para impedir a entrada dos desbravadores, estavam em maior número , mas as armas usadas pelos brancos desequilibraram a batalha. Era tanto índio , que os clavinotes explodiam de tanto serem recarregados. A briga foi feia, o mestre de campo quando viu que seus homens estavam fraquejando, prometeu ajoelhado que construiria uma capela naquele local, pra Nossa Senhora das Vitórias, se eles derrotassem os índios. O resto do pessoal se contagiou com a fé do chefe, lançaram mão dos facões e decidiram a batalha no combate corpo a corpo, a luta foi penosa, mas eles saíram vitoriosos. Os índios que não morreram foram capturados.
Para Taipi, teria sido melhor que fosse morto. Depois de capturado, ele teve que ajudar a construírem uma capela no lugar que seus irmãos foram aniquilados. Aquelas matanças não entravam em sua cabeça, por quê aquelas perseguições do branco. Eles deviam se bater com eles que vivem pra combater, nós Mongoiós somos descendentes dos Tupinambás. Somos como onças, só reagimos quando acuados.
Com o tempo, o mestre de campo cumpriu o prometido, conseguiu tomar a grande aldeia mongoió em menos de um ano. Os índios reagiram, mas logo cederam, era um povo tão pacífico que achou melhor tentar viver servindo o invasor, os que não concordavam com a submissão fugiram pra margem do rio Pardo.
Onde era a aldeia mongoió, nasceu o Arraial da Conquista. Iniciaram logo a construção da igreja para Nossa Srª das Vitórias, protetora dos fundadores da vila. Taipi já tinha mais de dois anos a serviço dos brancos, agora ele carregava pedra para construção da igreja. Um dia ele se revoltou, tinha que vingar-se daquela situação, seu povo não podia continuar vivendo como escravo, aquilo parecia até vingança dos deuses por eles serem pacíficos demais. A vingança de Taipi demorou de ser notada, ele atraía os homens brancos que trabalhavam na construção da igreja para dentro da mata e lá matava os invasores. O capitão mor descobriu o plano a tempo, como era um homem experiente, em vez de procurar o responsável, promoveu uma festa para todos os índios que viviam em volta da vila. Comida e bebida tinham de fartura, a mesa grande foi armada junto ao alicerce da igreja em construção. Quando os índios ficaram completamente embriagados, o mestre de campo cercou-os com homens armados e deu ordem de fogo. Foram poucos que escaparam, os que não morreram de tiro, morreram envenenados pelo aguardente.
Taipi escapou com vida, já estava “domesticado”, foi poupado por ser útil na lavoura. O pior foi enterrar os mortos do massacre, foi muito triste ter que enterrar seus irmãos de sangue no alicerce da igreja feita em louvação à protetora dos seus exterminadores. Ele nunca tinha visto Nossa Senhora, mas achava que ela não se dava muito bem com índio, mongoió então, nem se fala…
Estava triste, seu povo desaparecia junto a mata, morriam na mesma proporção que derrubavam as árvores. Desesperado e só, Taipi se sentia o último dos mongoiós, seu único desejo era sumir dali. Ninguém do arraial o viu sair no meio da noite , parece que criou asas e fugiu pras matas ainda virgens do Catolé Grande.
P.S. Não podemos julgar as atitudes dos homens sem ter vivido sua época.
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