Gordini
Por Nando da Costa Lima
E a roda foi formada no jardim da praça central, era ali que Teodoro, o solteirão, contava suas aventuras e matava o povo de inveja. Ele tava falando da vez que foi num cruzeiro na costa brasileira e pelo que ele contou, comeu o navio quase todo, até a mulher do capitão! Começou pegando as arrumadeiras, depois as noivas que estavam em lua de mel (17, segundo suas contas), duas viúvas e nove divorciadas. Pra um cruzeiro de dez dias, ele caprichou.
Um dia, Teodoro “das Cavada”, no meio de uma farra, anunciou que tava pensando seriamente em se casar. A mulherada da região ficou toda assanhada, teve até gente que terminou noivado e namoro. Todas sonhavam entrar na igreja e se tornar esposa do maior bom partido daquelas bandas da caatinga, o homem tinha até uma ruralzona Willys e já tinha um Gordini novinho na garagem pra presentear a noiva, é mole?! Teo não era o que se podia chamar de homem bonito, mas dava pro gasto. Era baixinho, branquelo, mas sabia fazer dinheiro. Era comerciante, criava bode e tirava leite de umas vaquinhas. Era o homem rico das redondezas. E é claro que pra casar teve que fazer umas compras na capital, inclusive uma dentadura com novinha e tudo.
Tinha o povo do contra, os invejosos que falavam que Teodoro não era homem para casamento, pois, além de beber muito, só andava acompanhado de macho. Parece que nunca tinha namorado sério. Quanto a ir pra cama com alguém, nisso ninguém se metia, era um problema particular que nem as putas comentavam. Mas ele era gente boa, até o puteiro funcionava em uma de suas residências e não pagava aluguel nem nada. Sendo assim, mulher nenhuma ia cair na besteira de comentar o desempenho dele na cama. Quando falavam, era pra elogiar. Tonhão, que administrava o puteiro, tava sempre elogiando o caráter e a humildade do amigo de vários anos.
Só que Tonhão era noivo da moça mais cobiçada do trecho, e até ela se entusiasmou com a notícia de que Teodoro estava querendo casar. Já pensou, o homem além de ter tudo, ainda ia dar um Gordini “novim”. Marycler tava pensativa, aquele negócio de ser noiva de dono de puteiro nem pegava bem pra ela… Tonhão foi quem primeiro notou que a noiva tava querendo dar de banda. E agora? Quando Marycler falou que tava pensando em “dar um tempo”, ele quase saiu do sério. O que o dinheiro não faz? Mesmo assim, tentou se conter e argumentou.
– Por que isso, minha linda? Nós sempre nos demos tão bem, até as alianças eu já encomendei.
Marycler estava irredutível, sempre quis ter um carro.
– Mas isso não quer dizer nada, nós ainda nem marcamos a data do casamento, da muito bem pra dar um tempo.
Tonhão, quando viu que a noiva não ia mudar de opinião, resolveu contar a verdade sobre Teodoro das Cavadas, só assim pra resolver aquele impasse. Não queria perder nem a noiva e nem a amizade, mas pelo visto ia ter que sair perdendo alguma coisa…
Marycler quase morre de raiva quando soube da verdade, se descabelou de ódio. Aquele sacana tava iludindo as moças da cidade só porque tinha dinheiro. Adeus Gordini, sem falar o tempo que ela perdeu com o mala do noivo…
Pra resumir a história, porque se eu for falar muito sobre o caso dos dois vão me chamar de homofóbico. Tonhão foi quem ganhou o Gordini!
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