Bernardo Mello
A reta final das convenções partidárias, cujo prazo se encerra nesta sexta-feira, reserva impasses a serem resolvidos em palanques nos maiores colégios eleitorais e nas chapas de candidatos à Presidência. Nas convenções, os partidos devem apontar a formação ou não de coligações – permitidas apenas para candidaturas presidenciais, ao governo e ao Senado – e oficializar suas listas de candidatos, que depois serão registrados junto à Justiça Eleitoral até o dia 15 de agosto.
As indefinições incluem palanques do ex-presidente Lula (PT) e do presidente Jair Bolsonaro (PL) em estados como Rio e Minas Gerais, que aparecem no topo do ranking de eleitores. Também há questões em aberto ainda na chapa do presidenciável Ciro Gomes (PDT) e no palanque do pedetista no Ceará, seu principal reduto eleitoral.
Guia O GLOBO Eleições: Conheça os pré-candidatos ao governo e ao Senado em todos os estados
Veja a seguir oito impasses a serem resolvidos em alguns dos principais palanques desta eleição:
Vice de Ciro Gomes
Ciro deixou a decisão para o último dia do prazo de convenções, data-limite para que o PDT consiga atrair outras siglas para uma coligação nacional. Como atrativo nas sondagens feitas a legendas como PSD e União Brasil, o partido tem deixado o posto de vice em aberto na chapa de Ciro.
No entanto, como a possibilidade de uma aliança é considerada remota, o PDT já mapeou soluções caseiras para a composição da chapa de Ciro. O plano do partido é indicar uma mulher como candidata a vice-presidente, repetindo o desenho adotado em 2018, quando a então pedetista Kátia Abreu, hoje no PP, compôs a chapa presidencial. A senadora Leila Barros (PDT-DF) chegou a ser sondada, mas deve concorrer ao governo. Outra alternativa mapeada é a da ex-reitora da USP, Suely Vilela.
Candidaturas presidenciais de União Brasil, Podemos e Avante
Após a desistência de Luciano Bivar (União-PE) de concorrer à Presidência, o União Brasil estuda lançar a senadora Soraya Thronicke (MS) na corrida ao Palácio do Planalto. Thronicke, eleita em 2018 para seu primeiro mandato no Senado, era cotada como possível vice de Bivar.
Dono da maior fatia do fundo eleitoral, com quase R$ 800 milhões à disposição para campanhas, o União também vem sendo sondado para composições com outras siglas. Uma delas é o Podemos, que passou a avaliar internamente uma candidatura do senador Álvaro Dias (PR) à Presidência. Dias, por ora, tenta atrair apoios para concorrer à reeleição ao Senado, mas deixou a definição para esta sexta-feira.
Já o pré-candidato do Avante, André Janones, ensaia recuar da disputa presidencial para apoiar o ex-presidente Lula (PT). Janones marcou uma conversa com Lula em São Paulo para esta quinta-feira, e tem dito que abrirá mão da candidatura caso o petista incorpore suas propostas ao programa de governo.
“Guerra fria” entre Molon e Ceciliano
Ainda sem sinal de solução pacífica no horizonte, a disputa travada entre o deputado federal Alessandro Molon (PSB) e o deputado estadual André Ceciliano (PT) pela preferência para concorrer ao Senado no palanque do ex-presidente Lula no Rio passou a mobilizar lideranças de outros estados. Ceciliano foi escolhido candidato pelo PT após o partido fechar apoio ao pré-candidato do PSB ao governo, Marcelo Freixo. Molon, porém, que é o presidente estadual do PSB, tem refutado os pedidos para retirar sua candidatura.
O impasse levou o PT a insinuar uma eventual neutralidade de Lula na eleição ao governo de Pernambuco, uma das mais disputas centrais para o PSB, que tenta eleger o deputado federal Danilo Cabral contra a também deputada Marília Arraes (Solidariedade), cujo partido faz parte da coligação nacional petista. Com isso, lideranças do PSB em Pernambuco e São Paulo engrossaram o coro nos bastidores pela retirada de Molon.
Bolsonaro em Minas: Zema ou Carlos Viana
Uma reunião em Brasília nesta terça-feira, com a participação do pré-candidato do PL ao governo de Minas, Carlos Viana, deve definir se o partido manterá o palanque ao presidente Jair Bolsonaro (PL) no estado ou se buscará uma composição com o governador Romeu Zema (Novo). Zema tem recusado declarar apoio a Bolsonaro, sob o pretexto de que seu partido tem um presidenciável, Luiz Felipe D’Ávila.
Viana, contudo, sofre resistência de deputados mineiros do PL, favoráveis à aliança com Zema, e sua candidatura também é vista com ceticismo pelo comitê de campanha de Bolsonaro. Aliados do presidente avaliam que o apoio do PL a Zema, ainda que sem a reciprocidade do governador de Minas em relação a Bolsonaro, pode ajudá-lo a vencer em primeiro turno uma eleição em que seu principal adversário, Alexandre Kalil (PSD), fechou apoio ao ex-presidente Lula (PT).
Para sinalizar a viabilidade de sua candidatura, Viana procura atrair o apoio do União Brasil, o que aumentaria seu tempo de propaganda em rádio e TV. O União, que não chegou a um acordo com Zema, pleiteia indicar um candidato a vice-governador e chegou a manter conversas com o PSD de Kalil.
Chapa do PSDB em São Paulo
O governador Rodrigo Garcia (PSDB) tenta equacionar interesses conflitantes entre dois de seus principais aliados no estado: MDB e União Brasil. Ambos querem indicar o candidato a vice na chapa tucana, posto que inicialmente estava encaminhado com o MDB, que indicaria o ex-secretário de Saúde da capital paulista, Edson Aparecido.
O União, que inicialmente ficaria com a vaga ao Senado, vê dificuldade em emplacar uma candidatura competitiva ao Congresso e passou a pleitear a inversão de posições. O partido elevou a pressão sobre Garcia ao acenar para o PT, de Fernando Haddad. Entre os nomes cotados pelo União para a chapa de Garcia estão o ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o ex-secretário da Receita Federal, Marcos Cintra. Garcia tenta manter os dois partidos em sua coligação de olho no tempo de TV durante a campanha, fator considerado importante para torná-lo mais conhecido e impulsionar sua candidatura.
Palanques de Lula no Centro-Oeste e Norte
O petista ainda tenta costurar acordos para ampliar palanques em estados com forte presença do agronegócio, nos quais Bolsonaro venceu a eleição presidencial de 2018, como Mato Grosso e Tocantins. No estado do Centro-Oeste, após encaminhar um acordo com o candidato ao Senado pelo PP, Neri Geller, Lula tenta chegar a uma definição com o prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (MDB) – que deseja indicar sua mulher, Márcia Pinheiro (PV), como candidata ao governo.
Já no estado da região Norte, onde o PT apresentou a pré-candidatura de Paulo Mourão ao governo, há possibilidades em aberto para a corrida ao Senado. O ex-treinador de futebol Vanderlei Luxemburgo (PSB) tem feito acenos a Lula, que também tem diálogo com a senadora Kátia Abreu (PP), postulante à reeleição.
Há um impasse também no Acre, onde o ex-senador e ex-governador petista Jorge Viana não definiu a qual cargo concorrerá. O PSB, do pré-candidato Jenilson Leite, admite a hipótese de enfrentar Viana caso ele opte pelo Senado. Já em Goiás, a cúpula nacional do PT avalia uma composição com o ex-governador Marconi Perillo (PSDB), pré-candidato ao Executivo estadual – o partido já havia lançado a candidatura do petista Wolmir Amado ao governo.
Disputa entre PSDB e Cidadania no Distrito Federal
Após terem formado uma federação para a eleição deste ano, PSDB e Cidadania têm na capital federal seu principal conflito. Há uma disputa conflagrada entre o senador Izalci Lucas (PSDB) e a deputada federal Paula Belmonte (Cidadania), ambos pré-candidatos ao governo, com reflexos em outras chapas.
Na última semana, uma votação entre as Executivas dos dois partidos aprovou a candidatura de Izalci em meio a discussões e bate-boca. Belmonte segue costurando uma aliança com a pré-candidatura de Reguffe (União), que mantém seu posto de vice em aberto de olho na composição. A parlamentar criticou o vazamento de um atestado médico psiquiátrico em seu nome após a reunião das Executivas.
Chapa do PDT no Ceará
Após o rompimento da aliança com o PT, que lançou o ex-governador Camilo Santana para disputar o Senado, o PDT de Ciro Gomes tenta articular uma candidatura ao mesmo posto. Lideranças pedetistas tentam convencer o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que vinha recusando disputar a reeleição, a concorrer contra Camilo. Tasso também recebeu sondagens do ex-presidente Lula, que tentou marcar um encontro em São Paulo para atrair seu apoio a Camilo e ao candidato do PT ao governo, Elmano Freitas.
Comentários