Um país se faz com homens e livros
Por Ezequiel Sena
Para iniciar 2016, quero dar ênfase à leitura. Sou apaixonado por livros e me encanto com a beleza manifestada na perfeição de uma frase bem construída.
E nada é mais instigante do que começar um texto com uma frase edificante,
conhecidíssima e atual do notável José Bento Monteiro Lobato (1882-1948);
escritor altamente opiniático e que nos deixou esta recomendação exemplar:
“Um país se faz com homens e livros”.
Paradoxalmente, outro que sequer pertence ao meio literário, Bill Gates, o
multimilionário da informática, que, sem nenhum constrangimento,
afirmou: “Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros”.
Realmente, os gênios são vanguardistas, enxergam muito além de suas
épocas, talvez seja essa a explicação do grande sucesso desse monstro
sagrado da informática.
Lembro-me que, em meados de 1977, estive em férias no Rio de Janeiro e a
curiosidade me levou à Rua Marquês de Olinda, em Botafogo, para conhecer a
famosa Livraria José Olympio Editora. Fiquei admirado com a imensa
quantidade de livros. Felizes tempos – e não há nisso nenhum saudosismo.
Nunca me esqueço da frase em destaque (talvez continue ainda grafada no
alto da parede da editora, justamente no hall de entrada), que aproveitei para
dar o título a este texto.
Para você ter ideia, a Editora José Olympio foi a responsável pelo lançamento
da maioria dos escritores renomados e outros desconhecidos do grande
público leitor brasileiro. Muitos deles ainda neófitos surgiram graças à
sensibilidade do proprietário e editor – José Olympio Pereira Filho.
Foi assim com a Rachel de Queiroz que, com apenas vinte anos de idade,
estreou com seu livro O Quinze – a primeira mulher a ocupar uma cadeira na
Academia Brasileira de Letras; Graciliano Ramos, com Vidas Secas, seu livro
de estreia; o paraibano José Lins do Rego, torcedor doente do Fluminense,
autor de Menino de Engenho; João Guimarães Rosa com Sagarana; o José
Américo de Almeida com A Bagaceira; e, o nosso poeta maior, Carlos
Drummond de Andrade.
Enfim, uma lista enorme de autores de todos os rincões deste país passara
pelas mãos do “mecenas” da literatura.
Evidentemente que o mundo moderno nos retira quase todo o tempo. As 24
horas do dia se tornam insuficientes para absorver tanta coisa. E, se não
tivermos disciplina, o tempo passa tão rápido, que nem percebemos.
Nesse corre-corre diário, nós, pais, quase não temos tempo para ler – e o que
é pior, para perguntar se os filhos leem. Podem até dizer que os tempos são
outros, de que não discordo.
Até porque, aquele velho hábito de ler livro de historinhas para as crianças
antes de elas dormirem é coisa do passado, ultrapassado, caducou. Foi
substituído pelas horas à frente da televisão, do computador, do celular, do
smartphone, do tablet e etc.
O resultado disso é refletido nas escolas: alunos que não sabem interpretar,
porque leem mal. Falam mal e se expressam pior ainda.
É difícil, quase impossível, querer formar cidadãos sem o mínimo de
capacidade argumentativa, por falta de conhecimento, ou melhor: sem
educação. E, na trilha de suas vidas, irão entender muito pouco das
adversidades que o mundo tem a lhes oferecer.
Por outro lado, dizer isso à garotada e não lhes oferecer condições adequadas
é “chover no molhado e desvanecer no tempo”. O ambiente ideal requer
exemplos. Pais que não leem não podem exigir esse hábito dos filhos. Muito
menos da escola para fazer alguma coisa por eles.
Enquanto a disposição para a leitura ficar restrita a trabalhos exigidos por
disciplinas escolares, perderemos a guerra para a ignorância. Quem não lê,
não aprende. Não formula, não avalia, nem distingue o certo do errado. Vacila
até na hora de desatar os liames da vida.
Por isso, senhores pais e senhores professores nossas crianças e os nossos
jovens precisam ser estimulados a ler mais, mesmo virtualmente, para poder
melhor encarar a vida. Está mais que comprovado que não existe outro
caminho a seguir senão pela educação, e esta só nos chega através dos livros.
Feliz 2016!
Ezequiel Sena
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