Rui Costa tenta emplacar esposa enfermeira em tribunal de contas na Bahia
SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – Ao menos três ministros do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se empenharam na eleição de suas respectivas esposas para ocupar vagas de conselheiras em tribunais de contas nos estados, um cargo vitalício com remuneração equivalente ao teto do funcionalismo estadual.
Renata Calheiros, mulher do ministro dos Transportes Renan Filho (MDB), foi eleita em dezembro pelos deputados estaduais a nova conselheira do Tribunal de Contas do Estado de Alagoas. No cargo, será uma das responsáveis por julgar as contas do governador Paulo Dantas (MDB), aliado de seu marido.
Há duas semanas, a deputada federal Rejane Dias, mulher do ministro do Desenvolvimento Social Wellington Dias (PT), seguiu o mesmo caminho e foi indicada pela Assembleia Legislativa para uma cadeira no Tribunal de Contas do Estado do Piauí.
Caso seja indicada para uma cadeira no Tribunal de Contas, Aline Peixoto terá um salário mensal de R$ 41,8 mil e poderá permanecer no cargo até a aposentadoria compulsória aos 75 anos.
Aline Peixoto é enfermeira, nunca disputou cargos eletivos e nos últimos oito anos atuou nas Voluntárias Sociais, entidade sem fins lucrativos tradicionalmente liderada pela primeira-dama do estado.
A vaga para o tribunal está aberta desde maio de 2022, quando o conselheiro Raimundo Moreira se aposentou. Desde então, a Assembleia vem adiando a indicação de um novo nome. Para ocupar o cargo é preciso ter “reconhecida idoneidade moral e conhecimentos de administração pública”.
A articulação em torno de Aline Peixoto ganhou força nesta semana após o deputado estadual Alex Lima (PSB), aliado próximo a Rui Costa, desistir de concorrer a vaga para apoiar a ex-primeira-dama. Procurada, ela preferiu não se manifestar sobre a disputa.
A desistência acontece seis dias depois de o deputado estadual se encontrar com Rui Costa em Brasília. Na última terça-feira (24), Lima foi para capital federal, onde tomou café da manhã na casa do ministro e se reuniu com ele no Palácio do Planalto.
Procurado pela Folha, Alex Lima disse que declinou de sua candidatura ao perceber um “movimento silencioso” dos deputados estaduais em prol da indicação ex-primeira-dama para o Tribunal de Contas.
Disse que não tratou da candidatura de Aline Peixoto com Rui Costa e afirmou não ver qualquer tipo de conflito na indicação da ex-primeira-dama: “Ela não pode ser penalizada por ser esposa do ministro”.
Líder da maioria da Assembleia baiana, o deputado estadual petista Rosemberg Pinto diz que ainda não há discussão sobre a vaga para o Tribunal de Contas.
A Folha de S.Paulo apurou, contudo, que postulação da ex-primeira-dama causou constrangimento entre aliados e enfrenta resistências até mesmo em parte da bancada do PT.
O ministro, contudo, formou uma rede de aliados e pretende levar a disputa na Assembleia até o fim. Nos bastidores, há a busca de uma solução de consenso: a eleição de um deputado estadual para a vaga atual, com a promessa de indicação de Aline Peixoto para a próxima vaga.
Outros dois nomes pleiteiam o cargo de conselheiro. Na base aliada, o deputado estadual Fabrício Falcão (PC do B) anunciou a intenção de concorrer à vaga e diz que sua candidatura é inegociável.
Também se movimenta o deputado federal Marcelo Nilo (Republicanos), que foi presidente da Assembleia de 2007 a 2016, virou deputado federal em 2019 e não se reelegeu em 2022.
Marcelo Nilo era aliado de Rui Costa, mas rompeu com o então governador no ano passado para apoiar ACM Neto (União Brasil). Agora, quer concorrer ao cargo de conselheiro com o apoio da base e oposição: “Se sentir que tenho chances, disputarei”, afirma.
Líder da oposição na Assembleia Legislativa da Bahia, o deputado estadual Alan Sanches (União Brasil) critica a possível escolha da Aline Peixoto para ao cargo.
“Não tenho absolutamente nada contra a ex-primeira-dama. Mas, se ela realmente for candidata, cai por terra o discurso do PT de valorizar os quadros que têm uma militância no partido ou base aliada.”
Em Alagoas e no Piauí, as esposas de Renan Filho e Wellington Dias tiveram caminhos mais tranquilos para conquistar suas respectivas vagas nos tribunais de contas estaduais.
Na Assembleia de Alagoas, a disputa pelo cargo teve seis candidatos, mas Renata Calheiros foi eleita com folga: teve 22 votos dos 24 deputados estaduais presentes na sessão.
Com formação em administração, ela atuou na implantação de programas na área de educação na Prefeitura de Murici e Governo de Alagoas.
No Piauí, Rejane Dias foi eleita por unanimidade com os votos dos 25 deputados estaduais presentes após ter sido indicada para o cargo pelo governador Rafael Fonteles (PT). Com formação em administração, ela já foi deputada federal, deputada estadual e secretária na gestão de Wellington Dias.
O ministro da Integração Nacional, Waldez Góes, é outro nome do governo Lula que tem a esposa em um Tribunal de Contas. A indicação da então primeira-dama Marília Góes para o cargo aconteceu em fevereiro de 2022, quando Waldez ainda era governador do Amapá.
A senhora Aline Peixoto, que é enfermeira e esposa do ex governador tem idoneidade moral e conhecimento de administração pública para ser nomeada conselheira do Tribunal de Contas da Bahia?