Presidenciáveis dão largada na campanha com foco no Sudeste

Jeniffer Gularte, Sergio Roxo, Jussara Soares, Camila Zarur e Gustavo Schmitt

Alguns candidatos a presidencia do Brasil Lula, Bolsonaro, Ciro Gomes e Simone Tebet

Os candidatos à Presidência iniciarão a campanha eleitoral nesta terça-feira com propostas, obstáculos e pontos de partida distintos. Em comum, além do objetivo, os principais concorrentes ao posto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o presidente Jair Bolsonaro (PL), o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e a senadora Simone Tebet (MDB), darão a largada na temporada de caça a votos por estados do Sudeste, região onde vivem 42,6% dos eleitores brasileiros.

A corrida pela cadeira mais importante do país neste ano promete ser uma das mais polarizadas desde a redemocratização. Apontados como favoritos, Lula e Bolsonaro concentram 76% da preferência do eleitorado, de acordo com o último levantamento feito pelo Datafolha — o petista tem 47% e o presidente, 29%. Por outro lado, o terceiro colocado, Ciro (8%), e a representante da chamada terceira via, Tebet, que amarga 2%, apostam na superlativa rejeição da dupla que lidera para surpreender durante a disputa.

A partir do dia 16 de agosto, data da abertura oficial da campanha, a legislação permite que os candidatos peçam votos ostensivamente, participem de atos como comícios e carretas e façam a divulgação de suas candidaturas na internet. Tais práticas voltam a ser vedadas em 1º de outubro, véspera do primeiro turno.

Lula vai começar sua caminhada voltando às origens. Na terça-feira, ele fará panfletagem na porta de fábricas, uma em São Paulo, no início da manhã, e à tarde no ABC Paulista, seu berço político. No mesmo dia, o PT programou caminhadas e bandeiraços em todos os estados, uma tentativa de demonstrar força e capilaridade. Haverá ainda um comício em Belo Horizonte durante a semana.

Inicialmente, o mote que a campanha pretende trabalhar é o “Brasil da esperança está de volta”, na tentativa de passar a mensagem de que Lula representa a estabilidade frente à intempestividade do atual presidente. Também serão usadas frases como “Bolsonaro chegou e a fome voltou”.

— Com Bolsonaro não existe planejamento e tranquilidade. Lula quer reconstruir ciclo de crescimento econômico com redução das desigualdades e saúde das contas públicas — afirma o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP).

O petista vai se apresentar como o único nome em condições de superar Bolsonaro, além de buscar colar no adversário a imagem de ameaça à democracia. Apesar disso, a campanha não pretende transformar esse tema no principal foco de debates. O plano é mirar nas questões econômicas, com o objetivo de demonstrar que a vida do brasileiro piorou desde 2019.

Uma das prioridades de Lula é conquistar votos e confiança entre a classe média. O PT desenhou um conjunto de propostas, apoiadas em quatro pontos, para atrair esse extrato da população: correção da tabela do Imposto Renda; reajuste do salário mínimo levando em conta a média de crescimento do PIB dos últimos cinco anos; reconhecimento da defasagem salarial sofrida pelo funcionalismo público nos últimos anos; e concessão de crédito a autônomos, pequenas e micros empresas por meio do BNDES.

Atual dono da cadeira cobiçada pelo demais, Bolsonaro vai focar na reconquista do eleitor que ele perdeu nos últimos três anos e meio, o brasileiro que ajudou a elegê-lo, mas se decepcionou com o atual governo. Para isso, o presidente vai apresentar a face oposta da moeda que seu principal adversário planeja exibir. Na trincheira dos temas econômicos, Bolsonaro levará à ribalta as políticas públicas que geraram impacto na ponta, como o aumento do valor do Auxílio Brasil para R$ 600 e as medidas de redução do preço dos combustíveis.

A campanha prepara estratégias para reavivar o sentimento anti-PT, aspecto fundamental para a vitória de 2018. O presidente vem sendo pautado para fazer comparações entre seu governo e os anteriores que favoreçam a atual gestão. Ele também deverá relembrar escândalos de corrupção ocorridos enquanto Lula e sua sucessora, Dilma Rousseff, davam as cartas no país.

Apesar disso, o presidente tem sido aconselhado a não fazer ataques pessoais ao petista no primeiro momento. O plano será reavaliado, porém, se Lula utilizar seu arsenal mais pesado logo na largada. Assim como vários conselheiros fazem há tempos, sem sucesso, a equipe de marketing está tentando convencer Bolsonaro a baixar o tom dos ataques ao sistema eleitoral. Internamente, porém, admite-se que não é possível moldar o presidente e que a espontaneidade também o ajuda a se reconectar com o eleitor de 2018.

— É mais fácil recuperar quem já votou do que conquistar quem nunca votou, e vamos focar em três estados: São Paulo, Rio e Minas Gerais — disse ao GLOBO o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, um dos coordenadores da campanha do presidente.

Na terça-feira, Bolsonaro vai a Juiz de Fora (MG), onde levou uma facada em 2018. A ideia é dar um tom emocional ao início da campanha e começá-la num estado estratégico. Desde a redemocratização, todos os presidentes eleitos venceram em Minas.

O candidato ao Palácio do Planalto pelo PDT, Ciro Gomes, estreia na campanha com eventos em São Paulo, em agendas que ainda estão sendo definidas. Depois, no fim desta semana, vai participar de atos no Rio. Ele vai trabalhar para cooptar os brasileiros indecisos e aqueles que estão dispostos a votar em Lula apenas por considerá-lo mais competitivo para derrotar Bolsonaro.

Inicialmente, Ciro pretende focar em dois perfis de eleitores: os jovens, por meio das redes sociais do pedetista, e os beneficiários do Auxílio Brasil. Para atrair esses últimos, a ideia é divulgar o programa de renda mínima, que pretende unificar os benefícios sociais e aumentar o valor do auxílio para R$ 1 mil reais por domicílio. A estratégia para se contrapor a Lula e Bolsonaro nesse aspecto é afirmar que o programa social terá caráter constitucional e não correria o risco de ser suspenso com futuras trocas de governo.

Preferido por uma parcela significativa do eleitorado que não abre mão do chamado voto de opinião, Ciro tem como principal desafio ampliar a capilaridade de sua candidatura mesmo sem ter conseguido atrair um partido sequer para o seu palanque. Presidente do PDT, Carlos Lupi, diz que as pesquisas internas vão nortear cada decisão estratégica tomada pela campanha.

— Teremos a cada momento avaliações e o retrato da realidade para traçarmos nossa prioridade. Tudo tem que ser feito no momento do retrato atual, isto se movimenta muito — diz.

Em um patamar distante dos principais adversários, segundo as pesquisas de intenção de voto, Simone Tebet entra na disputa com a expectativa de levar o apoio dos que consideram os favoritos dois representantes de extremos. Para isso, vai aproveitar o mote da chapa feminina — a vice é a também senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP) — para buscar votos das mulheres. Uma das propostas que será apresentada é a paridade de gênero nos ministérios em um eventual governo.

Aliados defendem que ela mantenha o tom duro de críticas tanto a Bolsonaro quanto a Lula. A tática é tentar “tirar” do petista e do presidente algo que a campanha considera como 40% de eleitores não convictos. A largada da emedebista também terá como foco o eleitorado de Sudeste, Sul e Centro-Oeste, regiões onde os estrategistas avaliam que há mais espaço para crescer.

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