Os cubanos diante do fim da era Castro
Posteres do ex-líder Fidel Castro e do presidente de Cuba Raúl Castro em escola em Havana, capital do país, em 9 de abril de 2018
Eles são agricultores, dançarinos, músicos, ou pescadores, e têm esperanças com a transição qPosteres do ex-líder Fidel Castro e do presidente de Cuba Raúl Castro em escola em Havana, capital do país, em 9 de abril de 2018
Depois de 48 anos de controle por parte de Fidel Castro, falecido em 2016, seu irmão Raul, que iniciou uma tímida abertura econômica, cederá a Presidência em 19 de abril. Uma transmissão de poder histórica que alimenta muitos debates nessa grande ilha caribenha e até mesmo fora dela.
– ‘Melhorar a produção’ –
Filho de camponeses pobres, para os quais Fidel distribuiu terras após a Revolução de 1959, Fernando Hernandez passou quase 40 anos a cultivar seus campos de tabaco de Vuelta Abajo, na província de Pinar del Rio (oeste), de onde saem os melhores charutos do mundo.
“Desde a Revolução, o produtor de tabaco é um privilegiado”, reconhece esse “guajiro” (como é chamado o camponês cubano) de 50 anos, que lamenta, às vezes, a insuficiência de recursos fornecidos pelo Estado.
Segundo ele, em plena colheita de primavera, o novo governo “deveria intervir um pouco mais (…) para melhorar a produção”.
Hernandez está convencido de que o novo presidente será, como esperado, o número dois do regime, Miguel Diaz-Canel, de 57 anos, “bem formado”, comenta ele.
Mas a velha-guarda “deve continuar no gabinete, para vigiar os novos”, afirmou.
Porque, completou, “o que foi conquistado não deve se perder”.
– ‘Dar chance aos jovens’ –
Esmerido Morales, de 45 anos, abriu mão do emprego público em Matanzas (100 km ao leste de Havana), porque o salário não era suficiente para cobrir as despesas da família. Hoje, ele vive da pesca.
“O problema é que (os dirigentes) falam muito de Cuba. (…) O que nós queremos é que eles façam, em vez de falar”, disse ele, que não hesita em criticar o sistema de eleição indireta do presidente ainda em vigor na Ilha.
“Também é preciso dar uma chance aos jovens. Isso não pode ser assim: toma, é você o presidente! É preciso que o povo decida também”, acrescenta Esmerildo.
Ele diz ter confiança em Diaz-Canel, uma “pessoa culta”, mas ressalta que “o que é fundamental é a economia, o salário que não dá mais”, em um país onde o vencimento mensal dos funcionários públicos não passa de 30 dólares.
– ‘País da música’ –
Lázaro Bernal, de 57 anos, diz sentir-se orgulhoso de ter nascido e de ganhar a vida como músico de rua no porto de Cienfuegos (centro-sul), região que viu crescer um dos mais ilustres músicos cubanos, Benny Moré.
“Eu espero que a revolução continue em Cuba, como disseram Raul Castro e nosso comandante Fidel Castro”, afirma ele.
“Como cubano, espero que tenha um melhor contexto econômico para o próximo governo”, reforça Bernal, que diz esperar, muito seriamente, que “Cuba permaneça, sobretudo, o país da música”.
– ‘Avanços’ –
Lisset Suarez, de 29, celebra o fato de poder seguir sua formação de dança contemporânea em Ciego de Avila (centro), o que lhe permite exercer seu talento no exterior.
“Muitos, como eu, achavam que as coisas não funcionariam por causa da rigidez de Raul Castro, mas (…) nesses últimos dez anos nós vimos progresso”, destaca a jovem, preparando-se para a turnê de sua companhia pela China.
Ela ressalta, contudo, que, em sua cidade de Ciego de Avila, “precisamos de melhoria nos transportes, de habitação e de alimentação, insuficiente e muito cara”.
“Honestamente, eu espero que eles levem nossas demandas em consideração”, desabafou.
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