Impeachment sem crime, poder sem povo
O Brasil vive momentos importantes da sua história. Temos uma vida democrática recente e essa democracia, que tanto custou ao povo brasileiro, está seriamente ameaçada. Há uma conjunção de forças políticas e de interesses, dentro e fora do Brasil, que conspiram contra uma presidente eleita com 54 milhões de votos há pouco mais de um ano. Um consórcio oposicionista, formado por setores que exigem o retorno da ditadura militar, por órgãos da mídia monopolista e partidos derrotados nas últimas eleições, ancorados num poder paralelo existente dentro da própria estrutura do Estado e, numa maioria parlamentar fisiológica, desenvolve campanha sem trégua para justificar o afastamento da presidenta. Almejam eles interromper o mandato e alçar ao poder o vice, representante do partido que está há doze anos ocupando parcelas significativas dos ministérios, cargos públicos e direção de estatais. Querem tirar uma presidenta séria, honesta e coroada pelas urnas para colocar no lugar o vice sem voto, denunciado em vários inquéritos da Lava-Jato e cercado de personagens processados por corrupção.
Sabidamente a presidenta não cometeu crimes de responsabilidade, não tem contas nos paraísos fiscais, não praticou corrupção e não responde a processos de qualquer natureza. Por que querem então os que perderam as eleições e os que estavam a seu lado até pouco tempo tirá-la do poder? Qual seria então a razão do golpe contra a presidente Dilma?
O impeachment sem crime é apenas o pretexto dos setores derrotados nas últimas eleições presidenciais para impedir a continuidade do projeto de mudanças em curso no país sem que seja necessário recorrer às urnas, mesmo porque eles sabem que não ganharão as eleições de 2018. Este atalho autoritário, impeachment sem crime, criaria um poder sem povo, que nada mais é que um crime contra a democracia brasileira.
A segunda razão para o golpe contra Dilma é impor o retorno da agenda neoliberal ao país, através da aplicação da plataforma de Michel Temer, intitulada Ponte para o Futuro. Que, por sua vez, é a cópia dos programas neoliberais de Serra, Alkmin e Aécio. Programas estes que já foram derrotados pelo povo brasileiro em quatro eleições presidenciais seguidas. Será um presidente sem voto, um poder sem povo, aplicando um programa rejeitado nas urnas.
A Ponte para o Futuro trata-se da premissa neoliberal do Estado mínimo, cujo receituário é a privatização das estatais; fim do ensino público nas universidades federais; fim da política de valorização do salário mínimo; entrega do Pré-sal às petroleiras internacionais; fim da previdência pública; precarização completa do trabalho através da supremacia do negociado sobre o legislado, que reduz a CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) a letra morta; terceirização ilimitada do emprego; retomada da escalada dos juros; fim do Mercosul e do Brics e o fim paulatino dos programas sociais; além de retração completa nos investimentos públicos na infraestrutura e nas políticas urbanas. Sem dúvidas a Ponte para o Futuro é um salto para o abismo.
Com essa plataforma, o Michel Temer jamais seria eleito presidente do nosso país ou de coisa alguma no Brasil. O consórcio oposicionista conservador que lhe apoia sabe que somente através de um golpe eles podem impor esta agenda neoliberal à nação brasileira. Nosso povo resiste, a intelectualidade e os artistas já se posicionaram, os estudantes e a juventude estão nas ruas, os trabalhadores não esqueceram os anos de FHC e retomam a luta. As mulheres, os quilombolas, os negros, a população LGBT não querem uma onda conservadora no país. Esta é a garantia que a nação não será governada por um presidente sem voto, não aceitará um poder sem povo e não aceitará a tragédia social de uma plataforma neoliberal já derrotada nas urnas.
Precisamos avançar na construção da democracia, retomar o crescimento econômico, retomar os investimentos públicos, valorizar o trabalho e fazer as reformas democráticas que o país precisa. Quanto aos golpistas, estes a história não os perdoará.
Everaldo Augusto é vereador de Salvador pelo PCdoB
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