Finados: A festa da esperança

Por Paulo HenriqueCemitério Municipal de Condeúba Barão José Egídio de Moura Albuquerque – Foto Oclides/JFC

A festa da esperança é também a festa dos fiéis defuntos: os homens e mulheres que adormeceram em Cristo para entrarem definitivamente na eternidade.
Celebrar finados, significa celebrar a esperança na vida que não tem fim e que não se acaba com o derradeiro instante da vida carnal.
Os que crêem no Cristo, são imersos no grande mistério pascal que ultrapassa a nossa compreensão limitada e nos coloca diante do mistério da fé e da grande esperança no Deus dos vivos e não dos mortos.
Quando compreendemos a dinâmica da morte, percebemos a beleza do morrer e do sofrer, pois, todo sofrimento, toda dor, em Cristo encontra um sentido novo e deixa de ser um fracasso para ser um calvário que liberta, salva, purifica, transfigura e ressuscita, porque, pelas chagas de Jesus fomos todos curdos como nos ensina as escrituras do Novo Testamento.
O dia de finados, tem uma liturgia própria que compreende a visita aos cemitérios, o depósito de flores, o acendimento de velas, a oração em sulfrajo e a celebração da missa pelas almas do purgatório. Todos esses gestos e práticas são carregados de um significado consolador e que nos faz entender a beleza de parar para homenagear todos aqueles que amamos e que já não mais existem fisicamente na dimensão material. Homenagear nos faz sentir a boa saudade e nos livra do saudosismo egoista de quem não tem a humildade de aceitar a vontade de Deus que recolhe os seus no tempo de sua providência.
Finados é a festa da esperança, quando celebramos a ressurreição de Jesus, a aurora da vida e a vitória do amor que tudo renova, pois Cristo ressuscitado faz nova todas as coisas.
São Francisco de Assis, homem reconciliado com a morte, nos ensina a chamar a morte de irmã e em sua oração ele nos diz que só morrendo viveremos para a vida eterna. De início, a compreensão de Francisco com a morte parece uma loucura sem nenhum fundamento, porém, ao contemplarmos a vida simples que ele levava, temos a certeza de que Francisco de Assis já estava totalmente abandonado nas mãos de Deus e sabia que só o Senhor poderia lhe fazer feliz em toda e qualquer situação, até mesmo na hora da sua morte.
São Paulo Apóstolo relata a sua morte como o fim de uma corrida completada e uma perseverança em guardar a fé para receber de Deus a coroa imperecível como prêmio de uma vida justa, doada e comprometida com Evangelho de Jesus.
Jesus também desejou passar pela escuridão da morte e dessa forma ele destruiu a nossa morte, inaugurando para nós um tempo novo, abrindo-nos o paraíso e nos preparando uma morada em seu reino definitivo. Em João 14, o Senhor nos diz que na caso do Pai existem muitas moradas e essa sim é a grande esperança de quem caminha com Jesus para o encontro com Deus. Mas qual a morada que estamos preparando para nós no céu? Será que realmente confiamos e acreditamos na eternidade? Como anda a nossa esperança diante de uma cultura que nos aprisiona tanto no mundo material e humano?
Essas perguntas nos ajudam a repensar algumas atitudes e algumas escolhas que vamos fazendo no decorrer de nossa caminhada. Às vezes, estamos mais apegados com as coisa de baixo e nos esquecemos de olhar para o céu, para o trono de Deus. Padre Léo que agora está junto a Deus, sempre nos aconselhava em suas palestras e pregações dizendo: “buscai as coisas do alto”
A comemoração dos fiéis defuntos não é uma cultura ou tradição, não é um feriado para passear nos cemitérios. Não, é algo maior, muito maior que essa visão limitada de muita gente… Comemorar os fiéis defunto é uma segunda festa da páscoa durante o ano litúrgico, pois, paramos para festejar os que vivem no céu e que já participam da ressurreição de Cristo. É a festa da vida e não da morte!
A Igreja peregrina reza pela igreja padecente do purgatório com o desejo de viver plenamente as alegrias da igreja triunfante. Essa é a dinâmica real sobre a nossa morte cristã.
Também o purgatório precisa ser melhor compreendido até mesmo pelos católicos que não buscam um aprofundamento no magistério da Igreja para serem catequizados pela verdade. Mas, o que é o purgatório? Existe esse lugar com quatro paredes? É uma instituição? É um tribunal? Onde está o purgatório na bíblia?
A palavra purgatório vem de purificação, purificar, limpar. Jesus nos fala de uma prisão no Evangelho e nos adverte sobre ela dizendo que dela só se pode sair quando pagar o último centavo. O fogo purificador que queima e que purifica, é o fogo da misericórdia de Deus que nos prepara para o encontro definitivo com Ele na eternidade. Enfim, a oração pelos falecidos é necessária para que exista uma comunhão com os que lá já estão a nos esperar.
Que a festa da esperança nos ajude a repensar a nossa vida carnal, para sermos dignos da dimensão espiritual. Que a ressurreição seja a base fundamental de nossa caminhada cristã e que nunca percamos a capacidade de olhar para as coisas do alto, com o desejo de ir ao encontro de Deus e contemplar a face do Senhor.
E que os fiéis defuntos, pela misericórdia de Deus descansem em paz, amém.

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