Dilma rebate declaração de Temer sobre impeachment: ‘História não perdoa a traição’

Luísa Marzullo e Marlen Couto

Michel Temer então vice-presidente da presidente Dilma Roussef

A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) rebateu, nesta sexta-feira, declarações feitas pelo também ex-presidente Michel Temer (MDB) sobre o impeachment sofrido pela petista em 2016. Em entrevista ao portal Uol publicada na quinta-feira, Temer afirmou que não houve golpe e que Dilma foi retirada do cargo por “problemas políticos”, como a dificuldade de diálogo com a sociedade e com o Congresso. O emedebista também frisou que a considera “honestíssima”. Diante da repercussão, a ex-presidente postou uma carta aberta em resposta ao seu antigo vice na qual diz que “a História não perdoa a prática da traição”.

“O senhor Michel Temer não engana mais ninguém. O que se conhece dele é mais que suficiente para evitá-lo, razão pela qual não pretendo mais debater com este senhor”, complementou a ex-presidente na nota divulgada nas redes sociais.

No texto, Dilma também diz que “agradeceria que o senhor Michel Temer não mais buscasse limpar sua inconteste condição de golpista” utilizando sua “inconteste honestidade pessoal e política”. A ex-presidente destacou ainda que Temer é “alguém que articulou uma das maiores traições políticas dos tempos recentes” e que a dificuldade de diálogo com o Congresso “não é razão legal e constitucional para impeachment em um regime presidencialista, como ele bem sabe”.

“É de todo inócuo afirmar que não houve um golpe, pois este personagem se ofereceu como vice-presidente por duas vezes. E, assim, sabia por duas vezes qual era o programa político das chapas vitoriosas que foram eleitas em 2010 e 2014”, argumentou Dilma, citando a PEC do Teto de Gastos, a reforma trabalhista e a aprovação do PPI como exemplos de projetos descolados do programa político eleito.

“Não merece resposta”

Pelo Twitter, Temer comentou nesta sexta-feira o posicionamento da ex-presidente: “É tão desarrazoada a manifestação da ex-presidente Dilma Rousseff que não merece resposta”, escreveu. Em entrevista ao Uol publicada na quinta-feira, Temer rejeitou que o impeachment contra Dilma tenha sido um golpe.

“Não houve golpe. Eu quero dizer que a ex-presidente é honesta. Eu sei, e pude acompanhar, que não há nada que possa apodá-la de corrupta. Ela é honestíssima. Mas houve problemas políticos. Ela teve dificuldades no relacionamento com a sociedade e com o Congresso Nacional. Esse conjunto de fatores levou multidões às ruas”, afirmou ao site.

As declarações de Dilma e Temer ocorrem após o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) receber o apoio de lideranças do MDB de 11 estados. No dia seguinte, parte desse grupo se encontrou com Temer e conseguiu do ex-presidente apoio para tentar adiar a convenção do partido, marcada para o dia 27 com o objetivo de oficializar a candidatura da senadora Simone Tebet (MS) à Presidência da República.

Como mostrou O GLOBO, delegados do PT aprovaram esta semana um documento com ataques ao governo Michel Temer e que chama o impeachment de Dilma Rousseff de “golpe”, durante o encontro que confirmou a chapa Lula-Alckmin para a eleição. Em paralelo, a ala lulista do MDB quer convencer o partido a desistir da candidatura própria e apoiar Lula. Há intenção até de promover um encontro entre os dois ex-presidentes. De acordo com aliados, Temer se incomoda com as críticas que os petistas fazem ao seu governo e também quando os integrantes do partido de Lula se referem a ele como “golpista”.

Leia a carta da ex-presidente Dilma Rousseff:

“Eu agradeceria que o senhor Michel Temer não mais buscasse limpar sua inconteste condição de golpista utilizando minha inconteste honestidade pessoal e política. É justamente essa qualidade que despreza, rejeita e repudia uma avaliação que parte de alguém que articulou uma das maiores traições políticas dos tempos recentes.

É de todo inócuo afirmar que não houve um golpe, pois este personagem se ofereceu como vice-presidente por duas vezes. E, assim, sabia por duas vezes qual era o programa político das chapas vitoriosas que foram eleitas em 2010 e 2014.

As provas materiais da traição política estão expressas na PEC do Teto de Gastos, na chamada reforma trabalhista e na aprovação do PPI para as quais não tinha mandato. Nenhum desses projetos estavam em nossos compromissos eleitorais, pelo contrário, eram com eles contraditórios. Trata-se, assim, de traição ao voto popular que o elegeu por duas vezes.

Lembro ainda que a “dificuldade de diálogo com o Congresso” não é razão legal e constitucional para impeachment em um regime presidencialista, como ele bem sabe.

Tal “dificuldade” era uma integral rejeição às práticas do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, criador do Centrão, que queria implantar com o meu beneplácito o “orçamento secreto”, realizado, hoje, sob os auspícios de um dos seus mais próximos auxiliares na Câmara Federal.

Finalmente, relembro que a História não perdoa a prática da traição. O senhor Michel Temer não engana mais ninguém. O que se conhece dele é mais que suficiente para evitá-lo, razão pela qual não pretendo mais debater com este senhor.

Dilma Rousseff”

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