Condeúba: Biografia do Padre Waldemar

Por Antonio Novais Torres

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Biografia

Waldemar Moreira da Cunha, Padre Waldemar, nasceu em Caetité no dia 20 de abril de 1896 Filho de Manoel Fernandes da Cunha e de Amália Seixas Moreira da Cunha, tradicional família de Caetité. Faleceu em 13 de fevereiro de 1968 em São Paulo/SP. Foi enterrado no Cemitério Municipal da Consolação e depois transferido para o Cemitério do Morumbi em São Paulo-Capital.

Viveu a sua infância em Caetité, onde estudou o primário e o seminário em Salvador-Bahia. Ordenou-se em 02 de outubro de 1921. Comemorou bodas de prata em 02/10/1946, com o título de Cônego Waldemar Moreira Cunha.

São seus irmãos: Alice, Judite, Rosalvo, Clóvis, Ioiô e Marinho, todos falecidos, com informação da Professora Teresinha Teixeira de Caetité. Em sua homenagem dominaram-lhe a Rua de sua residência – Rua Padre Waldemar.

Foi nomeado vigário da freguesia de Condeúba em 25 de dezembro de 1921 por Dom Manoel Raimundo de Melo, primeiro Bispo da Diocese de Caetité. A posse ocorreu em 06 de janeiro de 1922. Condeúba (antigo município de Santo Antonio da Barra) foi a sua primeira e única paróquia do seu pastoreio. Residiu em Condeúba e prestou serviços religiosos e administrativos na Paróquia de Santo Antônio de Pádua e suas Capelas da sede e interior. Permaneceu como catequista na referida freguesia, por 45 anos de 1921 até 1966, afastando-se para tratamento de saúde em São Paulo.

Ele foi grande responsável pelas reformas da Matriz: levantamento da torre com 28 metros de altura no ano de 1949. Reboco completo das paredes, assentamento do piso em ladrilhos e pintura de todo o templo, tornando-a em monumental Igreja Matriz de dimensões 30,5m de comprimento e 17m de largura. A Matriz é orgulho do povo condeubense. Outras reformas e benfeitorias se seguiram iniciado pelo Padre Giuliano Zattarin e está sendo finalizada pelo Padre Osvaldino Alves Barbosa (Pe. DINO).

O Padre Waldemar percorria todo o município visitando as diversas capelas para realizar as missões e práticas religiosas e catequistas dos moradores dos lugares. As viagens naquela época de poucas condições e recursos de transportes, as visitas às comunidades rurais e distritos eram feitas em lombo de burros. Era uma viagem cansativa e estafante que durava dias, uma obrigação eclesiástica que fazia com prazer e devoção, acompanhado de sacristão que conduzia os animais e o ajudava na sua missão eclesiástica.

O Padre Waldemar da Cunha foi grande incentivador dos festejos de Santa Rosa instituiu o costume que um grupo de pessoas do povoado ficasse como festeiro responsável pela organização dos festejos como missão religiosa das famílias encarregadas desse mister.

Em Guajeru havia os festejos de Nossa Senhora do Rosário, porém na Igreja não existia a imagem da Santa. Em 1958, um morador da vila, encomendou ao Padre Waldemar Moreira da Cunha a referida imagem e este fez o pedido a artesões de Salvador/BA, quando a recebeu em Condeúba, solicitou ao interessado que providenciasse um transporte para buscar a encomenda.

Com informação do Padre Osvaldino Alves Barbosa, pesquisando no arquivo paroquial de Condeúba, a atual secretária encontrou um importante documento que traz na capa o título ‘Histórico das freguesias de Condeúba e Tremedal escrito entre 1942 e 1946 por Padre Waldemar Moreira da Cunha. Nesse livro há informação de que o Pe. Waldemar acompanhou simultaneamente as freguesias de Santo Antonio de Condeúba e a do Senhor do Bonfim de tremedal, criada por Dom Manoel Raimundo de Melo em 21 de setembro de 1921.

Sobre o Pe. Waldemar, o livro do Pe. Gabriel Fantinati cita: “Pessoa de grande estatura moral, exímio orador e batalhador incansável, pessoa muito afável e paciente, concluiu seu ministério em Tremedal em 24 de abril de 1964 e deixou Condeúba em 1966 depois de 45 anos de ministério pastoral”. Ainda no Livro do Pe. Gabriel: “ O Pe. Waldemar depois da saída de Caetité do segundo bispo Dom Juvêncio de Brito, em 1946, foi eleito Vigário Capitular, passando a morar em Caetité e regendo a Diocese por um ano”.

“Em 1948, Com a chegada do novo Bispo Dom José Terceiro de Souza, o então Monsenhor Waldemar voltou para Condeúba. Quase metade da história da paróquia está ligada à figura desse homem de Deus que continua sendo o Padre mais lembrado pelos adultos tremedalenses. Soube fazer-se respeitar e amar. Quando ele estava na cidade de Condeúba, a casa dele, ao meio dia, enchia-se de pessoas para almoçar”.

O senhor Filomeno Santos Silva, entrevistado pelo Padre Osvaldino Alves Barbosa, (Pe. DINO), relatou, entre outras informações, “Que por ocasião de uma reforma da Matriz de Condeúba, o Pe. Waldemar enviou uma carta aos fazendeiros da região de Tremedal e Piripá pedindo uma cabeça de gado para um leilão a ser realizado naquela cidade. Disse ainda que levou para Condeúba trinta (30) garrotes, ao vir essas doações o Pe. Waldemar se emocionou.

A história registra que a Coluna Prestes, os “Revoltosos”, entraram em Condeúba no dia 15 de abril de 1926 e foi um alvoroço na cidade, no corre, corre, afugentando-se para o campo, escondendo-se dos Revoltosos, foi um deus-nos-acuda, salve-se quem puder, o seu João da Cruz fez o seguinte relato: “Os Revoltosos pediram ao Padre João Gualberto de Magalhães para celebrar uma missa”. “Não posso celebrar a Missa porque o padre Waldemar levou as hóstias quando correu para o mato. “Mas Padre! Como é que esse povo deixa uma igreja desta e vai para o mato”. “Os senhores sabem, né? Os boatos que correram deixaram o povo com medo. E vou confessar a verdade, eu não fugi por causa da idade”.

Havia na sacristia da Matriz, uma cômoda de Jacarandá e uma imagem de Nossa Senhora da Piedade que foram vendidas pelo Mons. Waldemar para custear a reforma da Igreja, substituídos os móveis antigos por bancos modernos, introduziu outros melhoramentos, benfeitorias que transformou a Igreja em um dos cartões-postais da cidade pela monumental beleza.

Agnério Evangelista de Souza colocou em seu livro sobre Pe. Waldemar: “Quem dele fala muito bem e já diz tudo é Maria de Lourdes Souza Cordeiro Galvão, através de belas palavras. Vejamos, então:

‘O Padre Waldemar era um grande orador sacro, [suas discursos comoviam as pessoas pela ênfase do falar e do assunto proferido] de rara sensibilidade e esplendor. Ele possuía o dom da palavra que lhe fora dado por Deus. Pregava tão bem que, apesar de ser vigário de uma longínqua cidade do interior baiano, foi convidado pelo Monsenhor Manoel de Aquino Barbosa, vigário titular da Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia, na cidade do Salvador, para ser orador por ocasião das celebrações em que a Basílica comemorava seu bicentenário. Ele aceitou o convite e falou bonito, arrebatou! Foi muito aplaudido pelo seleto auditório da cidade de Salvador que estava assistindo à missa festiva das 10:00h na Igreja da Conceição da Praia’.

Agnério continua o seu relato: “Sozinho, Padre Waldemar tomou conta de uma Freguesia de 6.635Km². Fazia o “Giro do Padre” três vezes ao ano: janeiro, maio e setembro, em época fora das grandes festas do ano litúrgico e das principais festas de Condeúba, durante 45 dias nas atuais paróquias de Cordeiros, Piripá, Tremedal, Pres. Jânio Quadros, Maetinga, Caraíbas e Guajeru. Acompanhavam-no o sacristão João do Padre e o irmão João Bento, membro da Irmandade do Santíssimo, encarregado de conduzir as mulas com as cargas para passar os dias de viagem missionária que o vigário fazia naqueles tempos’.

Em setembro de 1958, Dom José Pedro Costa (1957-1959), Bispo da Diocese de Caetité, realizou o retiro com os 16 padres da Diocese, sendo um dos participantes o Mons. Waldemar Moreira da Cunha, vigário de Condeúba.

No apostolado do Padre Waldemar (1962) foram construídas as capelas Senhor Bom Jesus em Cordeiros e Senhora Santana em Piripá, no arcebispado de Dom José Pedro Costa.

Breve Notícia sobre o Município de Condeúba de Nestor Evangelista Carvalho, Anexo ao livro Memória descritiva do município de Condeúba de Dr. Tranquilino Leovigildo Torres:
“O atual vigário da Freguesia é o Padre Waldemar Moreira da Cunha, exímio orador sacro. Todos os seus paroquianos lhe rendem verdadeira veneração, tais os predicados do seu coração ainda juvenil.

Na comemoração do centenário de Condeúba (1823-1923) com a presença de grande número de fiéis foi celebrado pelo virtuoso sacerdote Padre Waldemar Moreia da Cunha, num suntuoso altar adredemente preparado para a solenidade.

Após a benção Sacramental o Padre Waldemar, eloquente orador sacro, fez uso da palavra e deixou a multidão extasiada com a sua peça oratória, perorando em congratulações com Condeúba pela aliança dos seus ideais cívicos aos sentimentos religiosos.

Sob a presidência do Padre Waldemar Moreira da Cunha, o presidente e comissão após serem recebidos com o Hino Nacional cantado por alunos das escolas, ladeado por várias personalidades da elite social: Juiz de Direito, Intendente e outras pessoas, abriu a sessão e franqueou palavra, inicialmente ao orador oficial o Sr. Mário Cordeiro ao qual outros oradores discursaram em comemoração ao evento”.

MENSAGEM DO PADRE WALDEMAR AOS CONDEUBENSES:

“Sentindo-se muito doente, foi afastado do cargo, indo tratar-se em São Paulo, de onde enviou a seguinte mensagem aos condeubenses: ‘Devendo deixar, por motivos inteiramente alheios à minha vontade, depois de 45 longos anos e com o coração oprimido pela mais penetrante dor, a direção da paróquia de Santo Antônio de Condeúba, apresento, por meio desta humilde mensagem, a todos, até há poucos (sic) paroquianos, as minhas cordiais despedidas, de vez que não tive coragem de fazê-las pessoalmente. Tentá-lo desse modo um como arrebentarem-se-me os olhos em lágrimas.

Quanta recordação, hoje, do dia 06 de janeiro de 1922, data inesquecível de minha posse na única Paróquia do meu pastoreio, ineficiente, embora! Naquele dia era o prazer avassalando a alma; hoje é a tristeza tingindo de nuvens carregadas o caso de uma vida: saudade da paróquia, saudade dos paroquianos, amigos, diletos do coração. Na verdade, como já se disse, o coração é livro que, não raro, só é dado ler nas letras roxas que a lágrima escreve. Sob esse impacto cumpro o sagrado dever de vir agradecer toda a caridade da vossa contínua e ininterrupta atenção, colaboração, docilidade, gentileza e espírito público.

Essa a situação em que me acho nesta hora de desolação, de ter que significar e intensidade de minha gratidão imorredoura para convosco; de ter que externar os meus melhores agradecimentos pelos favores imensos recebidos das vossas mãos dadivosas, durante 45 anos vividos nos vosso meio. Deus vos pague tanta bondade!

Este meu agradecimento estende-se a toda Condeúba: às suas associações religiosas, às suas classes, às suas autoridades federais, estaduais e municipais, aos corpos docentes e discentes de seu Ginásio, das suas escolas, enfim, a todo o seu bom, ordeiro, dedicado e prestigioso povo. Em Santo Antônio, nosso excelso e vigilante Padroeiro vos abençoe, dirija e norteie todos os passos na caminhada, através do tempo, para a Eternidade.
São Paulo, 06 de janeiro de 1967.
Mons. Waldemar Moreira da Cunha”.

O Padre Waldemar fez grandes amizades não só com os paroquianos como, também, a sociedade condeubense de modo geral, todos foram seus amigos. Esta carta mensagem foi a despedida íntima do Pe. Waldemar Moreira da Cunha, preparando-se para a eternidade. Substituiu em 14 de março de 1968 ao Monsenhor Waldemar Moreira da Cunha o Padre Homero Leite Meira.

O padre Waldemar Moreira da Cunha, padrinho do condeubense Djalma da Silveira Torres, nascido em 12/08/1926, filho de José da Silveira Torres e Ana Amélia da Silva.
Consta que o Padre Waldemar, pároco de Condeúba administrou o sacramento do batismo a Altino José da Silva, Medonho, nascido em 1926, filho de José Altino da Silva e Ana Maria de Jesus.

FONTES:
Osvaldino Alves Barbosa – Pe. Dino, por nossa solicitação, prestou informações, pesquisas e orientações;
Livro Condeúba sua história, seu povo (2ª edição revisada e ampliada, autoria de Agnério Evangelista de Souza e colaborador com informações complementares.
Livro: 100 anos de Fé e Missão nas Terras Sagradas do Sertão-Bahia (Diocese de Caetité) em parceria com a UNEB de Caetité em comemoração ao centenário da Diocese (1913-2013);
Memória descritiva do município de Condeúba, autoria de Tranquilino Leovigildo Torres e Anexo: Breve notícia sobre o Município de Condeúba, pelo Secretário da Intendência, Nestor Evangelista de Carvalho, editada em livro pelo Intendente João da Silva Torres. Edição de 1924;
Declaração verbal de Djalma da Silveira Torres.

Antonio Novais Torres
[email protected]
Brumado, em maio de 2016.

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