Condeúba: ALERTA MÁXIMO
Por Paulo Oliveira
Elias nosso popular “Pola” faz duas marcações do nível da barragem por dia. Foto: Paulo Oliveira 2 DE OUTUBRO DE 2018 – Paulo Oliveira Meus Sertões, Reportagens
As cidades de Condeúba, Piripá e Cordeiros, no sertão baiano, enfrentam a pior crise hídrica de suas histórias devido à estiagem e à drástica redução do volume de água da barragem de Champrão, construída em 1955 e responsável pelo abastecimento de cerca de 40 mil moradores. A capacidade do açude é de 5,9 milhões de metros cúbicos, mas nos dias de hoje não chega a 11% do total.
Segundo o fiscal Elias Azevedo da Silva, 51 anos, prestador de serviço da Agência Nacional de Águas (ANA) e responsável pelas medições diárias do nível de água, há 60 dias a barragem atingiu o “volume morto”. Este é o termo técnico que designa a reserva mais profunda do açude, abaixo dos canos de captação, e que não deveria ser usada por se tratar de água de má qualidade com acúmulo de sujeira e substâncias tóxicas.
“Este é o menor nível em 63 anos. Nesta segunda-feira (dia 1º de outubro), as réguas de marcação mostraram que o nível está 6,81 metros abaixo da cota normal e que a profundidade média é de 19 centímetros. A cada dia, o volume diminui, aproximadamente, dois centímetros” – explica Elias.
Apesar da água estar imprópria para consumo, caminhões-pipas continuam a se abastecer no local, utilizando bombas adquiridas pelos pipeiros. Há pelo menos 26 veículos em atividade. Cada um transporta até 10.500 litros. Os motoristas recebem R$ 3 por quilômetro rodando.
Elias também controla a entrada dos caminhões a serviço do Exército. Eles retiraram 688 pipas em três meses. No entanto, de acordo como o fiscal estes veículos deixaram de se abastecer em Champrão. O Exército é o responsável pela maior parte da distribuição de água no Nordeste durante a seca.
Elias informou ainda que a Agência Nacional de Águas (ANA) notificou a Empresa Baiana de Águas e Saneamento S.A (Embasa), concessionária de água e esgoto cujo principal acionista é o governo estadual, por ela não ter apresentado plano de contingência para evitar o colapso do abastecimento.
O Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS) poderia ter aproveitado o momento para consertar registros rompidos e conter os vazamentos na linha de distribuição. No entanto, alegou não dispor de verbas.
MEDO DE BEBER ÁGUA
Elias diz que sua família – dois netos e a mulher que fez transplante de rins – não consome água da barragem há meses. A alternativa é a cisterna de consumo, abastecida com água da chuva, que ganhou de um programa de convivência com a seca. Este ano, choveu 36 mm na região, segundo ele.
O professor e integrante do Conselho Municipal de Educação de Condeúba, Agnério Evangelista, 72 anos, é outra voz crítica com relação à Embasa. Ele diz que a ganância fez a concessionária construir adutoras para Piripá e Cordeiros e não tomar providências para mitigar a crise hídrica.
Agnério conta que a população sugeriu racionamento de água em uma reunião com representantes do DNOCs, da ANA, da Embasa e do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), mas não foi atendida
A falta de fiscalização sobre o consumo, a princípio sob a responsabilidade do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS), é outro fator de agravamento da situação. Há anos, não há funcionários do departamento em Condeúba. O escritório mais próximo está a 200 quilômetros. Diante disso, este ano, a entidade ligada ao Ministério da Integração Nacional repassou para a prefeitura a função de fiscalização, mas quase nada é feito.
Elias informa que há 98 bombas de irrigação, puxando água da barragem, mas atualmente algumas suspenderam a atividade.
PAULO OLIVEIRA EDITOR
Jornalista, 56 anos, traz no sangue a mistura de carioca com português. Em 1998, após trabalhar em alguns dos principais jornais, assessorias e sites do país, foi para o Ceará e descobriu um novo mundo. Há dez anos trabalha na Bahia, mas suas andanças não param. Formou comunicadores populares nas favelas do Rio e treinou jornalistas em Moçambique, na África. Conhece 14 países e quase todos os estados brasileiros. Suas reportagens ganharam prêmios de direitos humanos e de jornalismo investigativo. Fonte: meussertoes.com.br
Em resposta a Agnério – Deixa secar ninguém tem nada a ver, aqui o povo desperdiçou muita água já e outra, quem tem que correr atrás é a praga sangue suga chamada de Embasa.
Parabéns ao jornalista Paulo Oliveira pelo artigo publicado na Folha. Nunca se falou tanto de recursos hídricos em Condeúba como agora. Quem diria que nossa Barragem, cantada em prosa e versos, ponto turístico número 1 de Condeúba, chegasse ao estado crítico que chegou. Estamos gastando duas verbas com água: uma para a EMBASA, outra para o mercado na compra de galão de água. Gente, vamos aproveitar as novenas de Nossa Senhora, e pedir a Jesus misericórdia.