Artigo: Minhas memórias
Por Levon NascimentoEm janeiro de 1985 – com oito anos de idade – vi pela TV, sem entender direito, a eleição indireta no Congresso que elegeu Tancredo Neves e pôs fim à ditadura militar (1964-1985).
Em 1986, a professora da 3ª série trabalhou uma revista em quadrinhos publicada pelo Governo de Minas Gerais que falava sobre Democracia, Assembleia Constituinte e Constituição. Encantei-me com as três expressões e elas nunca mais saíram de minha vida.
Depois fui compreendendo mais, diferenciando “ditadura” de “democracia”, da 5ª à 8ª série, com uma excelente professora de História.
O Ensino Médio e a militância na Pastoral da Juventude me ajudaram a consolidar as intenções democráticas e as utopias da participação política e da igualdade social.
A graduação em Ciências Sociais me deu fundamentos para o caminho.
Entre 2003 e 2014, o Brasil viveu o seu melhor momento histórico: superação do flagelo da fome por força de políticas públicas de distribuição de renda, criação de muitas novas universidades, triplicação do número de estudantes em cursos superiores e pós-graduações, com inclusão de jovens pobres, negros e indígenas, programas habitacionais massivos, política externa altiva e ativa e as menores taxas de desemprego desde que se começou a medir, tudo isso sem retirar direitos, antes pelo contrário. Brasil, ator global de relevo.
Mas ingenuamente eu era um evolucionista social. Acreditava piamente que o atraso do arbítrio ditatorial estava sepultado e que nunca mais 1964 ou o nazifascismo se repetiriam. Ledo engano!
Vieram 2016 e um outro golpe, desta vez jurídico-midiático-parlamentar, contra a suposta corrupção de uns, preservando os de sempre, novamente depondo da presidência alguém que fora eleita com a maioria dos votos dos brasileiros sem que ela houvesse cometido crime de responsabilidade, conforme reza a Constituição de 1988. Como em todos os outros momentos, para interromper a macha do país ao desenvolvimento, à diminuição das desigualdades históricas e ao seu posicionamento como grande partícipe no palco mundial.
Foi assim também em 1889, 1937, 1945, 1954, 1964…
E depois dos golpes, sempre as ditaduras. Esta, não mais militar, mas novamente arbitrária, judiciária e fascista.
Seu estágio, no momento, é o do Estado de Exceção, dos julgamentos-linchamentos ideológicos conduzidos por agentes do Estado em conluio com a grande mídia (como o que levou o reitor Cancellier ao suicídio e o que pode impedir o maior estadista da história brasileira de disputar 2018), de escandalização da arte por moralistas sem moral, para desvio do foco da esbórnia neoliberal, e da venda de todo o patrimônio do Brasil por lésa-pátrias que se vestem da Bandeira Nacional e se fingem de patriotas e nacionalistas exaltados, enquanto condenam o povo, os pobres e os trabalhadores à eterna senzala, pena a qual estes tristes trópicos estão sempre a pagar.
Mas eu continuo a acreditar em Democracia, na Constituição e na Igualdade Social.
Levon é Professor de História, sociólogo, escritor e mestrando em Políticas Públicas.
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