Novidade na poesia concreta brasileira: a videoantologia “Poesias Multileituras de Paulo Esdras”
Na tarde do dia 29 de janeiro o poeta e escritor baiano Paulo Esdras lançou no YouTube o vídeo Poesias Multileituras de Paulo Esdras com o objetivo de expor a arte poética tecida por ele. O nome faz jus à arte literária do autor que, com maestria, manipula as palavras, a semântica e a sintaxe para compor poemas que permitem várias possibilidades de leitura.
O vídeo é uma bela antologia poética em que o autor apresenta diversos poemas concretos muito bem arquitetados. Alguns poemas diferem da poesia concreta tradicional? Caracterizada pelo laconismo? Para um texto mais rico de palavras, porém mantendo a polissemia e imagética natural de toda a poesia concreta. Assim, num estilo singular o poeta amplia a semântica, viola as estruturas silábicas e sonoras das palavras e as intercala geometricamente até compor um signo poético que agrada ao nosso paladar intelectual.
O poema Lar é um belo exemplo dessa arquitetura: palavras, ritmo e geometria se unem para compor a figura de uma casa simétrica em que perfil, portas, janelas e alicerce se destacam no desenho, tudo arquitetado com palavras e espaços vazios. O poema vai além da plasticidade porque pode ser lido e sentido de duas formas. A leitura pode começar pela cumeeira e seguir na horizontal encaminhando-se pelos versos casa afora, para compor o primeiro discurso poético. Também pode ser lido apenas pela fachada, a começar pelo topo, formando assim um novo discurso.
No poema Sentido, partindo da polissemia que essa palavra oferece e do amor, enquanto sentimento, o autor compõe um desenho abstrato formando um poema romântico cuja temática lembra a poesia da Segunda Geração poética do Romantismo brasileiro. E por falar em amor e romantismo convém destacar o poema O ciúme é uma flecha preta, uma composição que vai além da distribuição geométrica das palavras porque o poeta inseriu sinais visuais para formar um belo signo poético.
Mas há poemas que seguem a tradição da poesia concreta como o poema em forma de um quadrado em que as palavras “poesia” e “sapo” bem plasmadas evidenciam uma homenagem à Semana de Arte Moderna e faz referência ao famoso poema Os sapos escrito por Manuel Bandeira em 1918 e declamada por Ronald Carvalho na Semana de 22 como crítica aos poetas parnasianos.
Esdras nos mostra que é possível romper a estrutura imagética de um poema e musicá-lo, a exemplo do poema Jasmim que além das duas possibilidades de leitura, transformou-se em uma encantadora música composta em parceria com o intérprete e compositor Cléber Eduão.
A obra poética Poemas Multileituras de Paulo Esdras, que nos é apresentada no canal do próprio autor, reaviva e abrilhanta a poesia concreta brasileira com novos talhes e se insere como nova preciosidade no cabedal da poética de nosso país.
Vald Ribeiro
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