A roda da vida

No Budismo existe um conceito chamado Samsara, ou roda da vida; que é composto por um círculo com 12 elos. Essa figura não foi uma criação do Budismo, mas eles incorporaram do Hinduísmo. O Samsara simboliza o mundo de sofrimento e ilusões que nós vivemos.

E em que mundo nós vivemos? Parecia que estava definido, havia um enorme marasmo e não havia muita perspectiva de mudanças: os ricos cada vez mais ricos, os pobres cada vez mais pobres. A política cada vez mais insipiente nas respostas aos desafios sociais e econômicos. Até mesmo crises econômicas vinham e voltavam, em intervalos de anos laboriosos e lucrativos. Em por falar em lucros e constância, os bancos cada vez ganhando mais e mais. Os empresários reclamando mais e mais (com certa razão e com certa esquizofrenia). E os trabalhadores recebendo cada vez menos e tendo cada vez menos direitos, afinal de contas, para quê ter direitos se não têm empregos? Os juízes sempre julgando em favor dos mesmos, seja nos tribunais ou nos campos.

Pois bem, a cada elo do círculo do Samsara, aumenta a turbidez da visão humana, partindo da ilusão inicial: avidya, ou seja, a não visão. E quando o círculo se completa, inicia-se então um novo ciclo. E nosso mundo ia seguindo o caminho que nós escolhemos. Mas será que realmente nós temos esse controle? Essa escolha?

Já dizia o filósofo alemão Nietzsche: “Deus está morto” (e isso precisamos de um banho de corpo, mente e alma de filosofia para compreendermos isso, não vem ao caso agora). Mas então outro filósofo vem a nossa ajuda, o italiano Giogio Agamben, e completa: “Deus não morreu. Tornou-se Dinheiro”. O Deus dinheiro vinha bem, sendo galanteado entre estadunidenses, chineses, europeus e sultões de cada canto do mundo. Tudo isso debaixo de uma leva de imigrantes: famílias inteiras fugindo de guerras, misérias e fomes. Os mares se cingindo de tinto e as praias recolhendo delicados e inocentes corpos que não vão mais brincar. Quem não tem a oportunidade de migrar e ainda nutrir alguma esperança, fica sofrendo por onde está mesmo. E quem não tem fome, mas um teto e algum provento ou soldo; segue o canto das sereias dos cifrões.

Lembram-se do Samsara? Pois bem, existe uma figura com uma aparência muito assustadora e até demoníaca que segura esse círculo: Maharaja. Ele representa algo que nós normalmente no esquecemos ou nos esforçamos para tal: a impermanência! Apesar de todo desconforto, prejuízo e desastres provocados pelas mudanças inesperadas; ela nos reduz ao que realmente nós somos: nada. E então, nesse aparente estado inferior, somos levados a refletir, a ressignificar as pequenas experiências, e nos damos conta do maravilhoso e precioso presente que é a VIDA.

Crises, terremotos, tsunamis, epidemias, pandemias e pandemônios são suáveis cantigas da impermanência que são entoadas de tempos em tempos. Para alguns, esse canto os levará a um novo patamar, um véu de ignorância será removido e uma visão mais limpa será apresentada: serão mais felizes com menos, mais engajados e conscientes politicamente (não necessariamente partidários ou militantes), mais alegres com as coisas mais simples, chorarão com o choro do outro, e a felicidade alheia será sua própria felicidade. Para outros, mais um elo será engrenado na roda da vida.

Nilo Garcia Silveira, Graduado em Ciência da Computação, profissional na área de Tecnologia de Informação por 20 anos. Comentarista futebolístico, analista político e filósofo em nível amador. Ouvidor de histórias em nível profissional

 

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