Artigo: O oprimido e a opressão
HOMENAGEM À SEMANA DA CONSCIÊNCIA NEGRA
Por Levon Nascimento
A opressão não seria tão violenta e persistente se não contasse com o conformismo ou, até mesmo, a colaboração dos oprimidos frente aos opressores.
Os 350 anos da brutal e desumana escravidão negra no Brasil não teriam durado tanto se, num dado momento da história, muitos escravizados não tivessem começado a achar que aquilo era destino (sina) e, outros, a navegar no próprio sistema escravocrata, passando a colaborar com seus senhores em troca de pequenos favores, à forma de migalhas: os capitães do mato.
A dominação feminina em diferentes tempos ou em diversos tipos de sociedade, só foi possível graças ao fato da maioria das mulheres aceitarem a condição de submissas ao poder discricionário dos homens.
Igualmente, a exploração da mais-valia dos trabalhadores por seus patrões só se efetiva por que a grande parte do proletariado não toma consciência de classe e, efetivamente, não luta unida pela superação das relações capitalistas de trabalho.
No Brasil dos dias atuais, esta constatação se faz ainda mais evidente. Depois de um período de quatorze anos (curto interregno diante de sua longa história de espoliação pelas oligarquias),no qual um governo de origem popular (ainda que marcado pelo tal presidencialismo de coalizão, o qual desfigurou o projeto original das personagens principais deste período de poder), a população beneficiária de uma série de avanços sociais, que conquistou direitos e alcançou empoderamento real, foi conduzida ideologicamente, por força da grande mídia cartelizada, a desejar o impeachment do governo legitimamente eleito e a ansiar pela entronização no Palácio do Planalto de plutocratas que absolutamente em nada representam seus reais interesses de classe.
Desta forma, jovens foram às ruas contra a corrupção, por mais escolas e saúde. Recebem do novo governo a nomeação de velhos ministros que sempre defenderam justamente o oposto e, de quebra, sinaliza com o desmonte das políticas de inclusão na educação e na cultura. Mulheres com rosto maquiado de verde e amarelo bateram em panelas contra o governo da primeira mulher eleita para a presidência da República brasileira. Como pagamento, veem a extinção do ministério especial que tratava de políticas públicas para o sexo feminino, bem como um ministeriado totalmente composto por homens, fato que nem mesmo o último governo da ditadura militar tinha ousado. Assalariados de carteira assinada bradaram contra o primeiro governo oriundo das classes trabalhadoras. Em troca, veem o novo governo acenar para a flexibilização dos direitos tão arduamente conquistados e contidos na CLT, flertar com as cruéis terceirizações e acenar ao aumento da idade mínima para a aposentadoria, além da possibilidade do trágico fim da política de valorização real do salário mínimo.
Nenhuma das constatações anteriores retira a responsabilidade das costas da classe que historicamente se fez opressora sobre as demais. Atualmente, ela se encontra assentada nos barões da grande mídia, organizada em cartel de poucas famílias; nas grandes empresas dos capitais financeiro (bancos), industrial e comercial; na política tradicional das velhas oligarquias (partidos políticos de direita); e em setores do próprio Estado nacional, tradicionalmente ocupados por estratos da classe média identificados com os interesses da alta burguesia, a exemplo do que ocorre, em grande medida, no Poder Judiciário, no Ministério Público e nas corporações, como a Polícia Federal.
Porém, não invalida a análise de que é necessário investir para que o oprimido não mais se identifique com o opressor que lhe explora. Se isto não vier a ocorrer com urgência, o Brasil estará sempre sujeito a golpes daqueles que não se contentam em esperar as próximas eleições para ascender ao poder pelo voto democrático, configurando-se numa gigantesca república bananeira. Esta consciência se fará na Educação: teórica, ofertada nas escolas, e prática, no calor das lutas encampadas pelos movimentos sociais.
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