Artigo de autoria do Poeta Camillo de Jesus Lima sobre o Paço Municipal de Condeúba, está completando hoje 89 anos
No dia 7 de março de 2024, resgatamos do túnel do tempo um artigo publicado nesta mesma data, em 1935, por tanto está completando hoje exatamente 89 anos de publicação. O artigo de autoria do renomado escritor e poeta baiano de Caetité, Camillo de Jesus Lima. O texto, originalmente veiculado no prestigioso jornal carioca da época “O Combate”, lança luz sobre o imponente Paço Municipal de Condeúba. Este edifício monumental, construído no estilo Barroco, é mais do que uma estrutura arquitetônica; é um testemunho vivo de inúmeras narrativas que permeiam a história da cidade de Condeúba/BA.
O autor, com sua prosa habilidosa e sensibilidade poética, captura a essência única desse marco histórico. O Paço Municipal, ao longo dos anos, tornou-se o epicentro de muitas histórias, um refúgio de memórias que ecoam pelos corredores imponentes do prédio. Sua arquitetura barroca não apenas testemunha o passar do tempo, mas também encapsula a identidade e o legado de Condeúba.
Ao republicar esse texto, prestamos uma homenagem merecida a Camillo de Jesus Lima, cuja contribuição à literatura e à preservação da história local é incalculável. Através de suas palavras, revisitamos não apenas o Paço Municipal, mas também a riqueza cultural e as raízes profundas que formam o tecido desta cidade. Esta republicação é um tributo não somente ao prédio histórico, mas à alma pulsante de Condeúba, perpetuando a herança cultural por meio das palavras atemporais de um grande poeta baiano.
Buscamos, reescrever o artigo de autoria do Poeta Camillo de Jesus Lima na sua excência, respeitando o vocabulário da época, para facilitar aos nossos leitores e, que se identifique cada vez mais com a riquíssima história da nossa querida Condeúba, conforme seguem abaixo o texto original e a cópia na íntegra que subscrevemos.
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
UM EDIFÍCIO HISTÓRICO
O Paço Municipal de Condeúba é um edifico histórico. Solitária, atirada a um canto, o mais alto da Praça do Mercado, a mole de adobes, em estilo antigo, se bem que artisticamente acabada, dá uma nota grave à Cidade. Ajuda construída na época dos platibandas, encima-lhe o frontispição, pousada sobre as armas da republica uma grande águia de azas abertas, ladeada por duas cariátides. No andar inferior, ficam as prisões. No superior, (Hoje denominado de Salão Coluna Prestes), as salas do Fórum e do Conselho, sendo esta última, destinada também às funções da Prefeitura, decorada, há doze anos, pelo Progenitor do autor destas linhas.
Tendo como “cicerones” o inteligente condeubense Aureliano Néto e o Cel. Gustavo Fagundes de Lima, visitei, ainda há poucos dias, o Paço Municipal de Condeúba.
Aquelas paredes guardam também a voz daqueles brasileiros que alguns anos, após a epopéa de Copacabana, largaram-se pelo Brasil em fóra como uma cavelgata de fantasmas, protestando contra a tirania de um governo inimigo do Exercito, fugido como magistralmente se expressou Plínio Salgado. À semelhança de uma serpente de fogo que coleasse no dorso da pátria adormecida; fugindo desse governo que combatiam, numa arrancada de bravura e sacrifícios, única da História do Brasil, o Estado Maior hospedou-se no Paço Municipal,- o edifício maior e mais confortável da cidade.
Subiu aquelas longas escadarias, nos braços vigorosos dos soldados requeimados do sol sertanejo, o saudoso Cônego João Gualberto de Magalhães já quase paralítico, velho, alquebrado, para a visita dos chefes da Coluna. Ali, o velho padre,- (Valdemar) alma simples e boa,- encontrou os soldados afeitos, tal como um São Francisco que sorrisse e falasse á leões exasserbados, de fogo nos olhares, e jubas hirtas.
Já no dia 16 Abril de 1926 nas oficinas de “O Condeúba”, (Jornal) de propriedade do senhor José Vieira, haviam os rebeldes preditado o “Boletim d’ O Libertador”, no qual os chefes da Coluna se dirigiam ao povo sertanejo, em palavras de fé o fogo, já as topas legalistas, sobre o comando de Horacio de Matos. Capitão Atalpa e outros, se aproximavam. Eram preciso sair. Romper marchar. O Sertão cheio de mistérios, chamava os soldados da revolução, mostrando-lhes a estradas amarga do exílio. A munição era minguada. Não havia conveniência em lutar.
E, na véspera da saída de Condeúba. Siqueira Campos resolveu a deixar ali no Paço Municipal que tão bem impressiona uma lembrança daquela passagem atropelada pela Cidade Sertaneja com uma escova de dentes molhada com tinta verde escreveu, em letras garrafais, em uma das paredes da sala do Fórum, as seguintes palavras: …”No meio de uma aglomeração desorganizada, um, BANDO decidido a tudo”, penetra a fundo como cunha de ferro em montão de ferragem. (Taine) Ruy.
E, abaixo do relógio de parede grafou, também em letras verdes, as datas seguintes:
7 – 9 – 822
7 – 4 – 831
5 – 7 – 922
24
Disseram-me que, sobre o retrato do Dr. J. J. Seabra, o mesmo Siqueira de Campos escrevera: Viva a Revolução!.
A frase de Rui e as datas ainda la estão no Paço Municipal de Condeúba. Quanto a inscrição sobre o retrato do Dr. J. J. Seabra por se achar este colocado no recinto do Juri, em frente à angustiada imagem de Cristo na Cruz, foi apagada, em sinal de respeito a “mais democrática das nossa instituições…”
Não me cabe aqui aplaudir ou reprovar ato da prefeitura. Destinado sempre a tomar parte nos movimentos que se desenrolam no país, o Paço Municipal da cidadezinha provinciana guardou, durante algumas noites e alguns dias, prisioneiros, os senhores Moreira Lima e Silio Meireles, capturados em Condeúba convinentes da revolução comunista que tanto ensanguentou o Brasil em novembro de 1935.
Entre aqueles paredões do Paço Municipal de Condeúba palpita alguma da nossa História.
Ali estive comovido, em frente ao passado vivendo algumas horas que o Brasil viveu, de amarguras e heroismos obiscuros.
Seria por isso que o lápis tremia entre os meus dedos nervosos, ao tornar algumas notas para este despretencioso trabalho?…
Camillo de Jesus Lima.
O belo texto de Camilo Lima, além de histórico é também lírico. Isso muito enriquece a nossa história. Sinto-me agraciado de ter em meu livro, texto tão significativo, tão brilhante como este.