Por que chuvas no Sudeste ficaram tão intensas no Litoral Norte de São Paulo; entenda

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A meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) explicou o que aconteceu com a chuva prevista para o Rio de Janeiro, mas que se intensificou no Litoral Norte de em São Paulo. As chuvas torrenciais foram resultado de uma combinação de fatores. Segundo o Inmet, havia um fenômeno comum a essa época, de um corredor de ar quente e úmido que vem do Atlântico Equatorial, passa pela floresta Amazônica e chega ao Sudeste. A chegada dessa frente ao litoral se somou à ação de um sistema de baixa pressão no Atlântico, onde a temperatura do mar está elevada. Esse fenômeno “soprou” evaporação do mar para o continente, que no Litoral Norte de SP foi de encontro aos morros, gerando as tempestades vistas.

— As chuvas no Litoral Norte ficaram mais retidas porque teve um conjunto de padrões meteorológicos que afetaram e influenciaram. A previsão para o Rio de Janeiro estava com características do verão, tanto que aconteceram. Houve pancadas de chuvas, trovoadas e rajadas de ventos. — afirma Andrea Ramos, que acrescenta que a chuva deve persistir nesta quinta e sexta-feira no sul do estado e na capital carioca, pois há uma frente fria favorecendo as precipitações.

Segundo Marcio Cataldi, que coordena o laboratório de monitoramento e modelagem do sistema climático na UFF (Universidade Federal Fluminense), “tinha a previsão de fechar um sistema de baixa pressão (como se fosse um mini ciclone) no litoral do Rio de Janeiro”. No entanto, essa era a previsão de segunda-feira, e como a água próximo de São Paulo estava relativamente mais quente ao longo da semana a previsão foi mudando.

— Na quinta já dava para ver o posicionamento desta baixa próximo do litoral norte de SP e o CEMADEM enviou alertas. Essa baixa é muito perigosa porque tinha uma frente fria no litoral e com isso, estava descendo umidade vinda da região Amazônica para o interior do estado de São Paulo, chegando até o litoral— ressalta Cataldi, que acredita que a Prefeitura “tenha ignorado os alertas ou não tenha tomado as medidas necessárias”.

De acordo com o Centro Nacional de Previsão de Monitoramento de Desastres (Cemaden), as chuvas que caíram no último sábado e domingo resultaram no acumulado de 682 mm em Bertioga e 626 mm em São Sebastião, maiores valores acumulados já registrados no país. Antes, o recorde histórico tinha sido computado em Petrópolis, no Rio de Janeiro, quando a cidade foi castigada com uma chuva de 530 milímetros em 24 horas, na tragédia que vitimou 241 pessoas no ano passado. No litoral paulista, também foi registrado durante o fim de semana um acumulado de 337 mm em Ilhabela, 335 mm em Ubatuba e 234 mm em Caraguatatuba. Um milímetro de chuva equivale a um litro de água por metro quadrado.

Alerta para risco e prevenção de desastre

Dados do boletim do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) com dois dias de antecedência já constava informações sobre os riscos de desastre na cidade, em razão de fortes temporais, como mostra no mapa.

Para o especialista, as autoridades já sabiam dos riscos, mas não reforçaram a prevenção. Ele pontua ainda, que nas localidades mais afetadas pelos deslizamentos não há sirenes, por exemplo. Cataldi ressalta que tragédia em São Sebastião é resultado de falta de planejamento urbano e que não há um plano para escoar a população em momentos de crise.

—Lamentável o que aconteceu. As perdas materiais iriam acontecer mesmo, mas as perdas humanas poderiam ter sido evitadas. O ideal é que a Defesa Civil possua um quadro técnico para auxiliar nesses eventos com equipe de meteorologistas, hidrólogos e geotécnicos. Depois ela precisa ter um mecanismo eficiente de enviar os alertas a população, de acordo com a gravidade do evento. Além de ter uma boa rede de monitoramento, possuir sirenes e critérios para o acionamento delas e também ter um plano de crise. Onde a população deve saber para onde ir no caso de eventos extremos, quando as sirenes forem acionadas, por exemplo — pontua o professor.

Em nota, a Defesa Civil Estadual de São Paulo afirmou ter emitido alertas à população a respeito das chuvas que atingiriam o litoral, bem como apoiado e articulado ações com as defesas civis municipais, desde a última quinta-feira, 16 de fevereiro.

“Os primeiros avisos divulgados pela Defesa Civil do Estado, que ocorreram ainda de forma preventiva, foram publicados por volta das 15 horas de quinta-feira, nas redes sociais da Defesa Civil e do Governo com informações sobre o volume de chuvas estimado para o período, bem como as medidas de segurança que poderiam ser adotadas pela população em áreas de risco. Tais publicações tiveram um alcance de mais de 730 mil pessoas. “, diz trecho da nota.

Segundo a Defesa Civil, ao todo, foram enviados 14 alertas por mensagens de texto (SMS). “À 00:52 de sexta-feira, acompanhando a evolução da análise das imagens de radares e satélites realizada pelo meteorologista da Defesa Civil Estadual, o órgão enviou a primeira mensagem de texto via SMS. No estado todo, são mais de 2,6 milhões de usuários cadastrados. Como o envio ocorre de acordo com o CEP cadastrado, na região do Litoral Norte 34 mil celulares inscritos receberam as mensagens. “, afirma o órgão estadual.

Questionado sobre a existência de sirenes, não tivemos resposta da Defesa Civil.

São Sebastião em Estado de Atenção

A Defesa Civil de São Sebastião informou que o município está em estado de atenção devido ao alerta de forte chuva na cidade e região, com previsão de acumulado de cerca de 200 mm, até sexta-feira. A cidade está em Estado de Calamidade Pública.

Segundo Climatempo, com o avanço de uma frente fria pelo oceano, as regiões do Vale do Ribeira, do Litoral Sul e da Baixada Santista também permanecem em alerta para chuva forte em forma de temporais, assim como a capital do estado. Há riscos de transtornos como alagamentos, inundações e deslizamentos de terra nestas áreas.

Na quinta-feira, o ar quente continua atuando em grande parte de São Paulo, mantendo o alerta para temporais ativo na maioria das áreas, inclusive na capital paulista. Segundo o Climatempo, as condições topográficas também influenciam para que a chuva intensa e volumosa ocorra na Serra da Mantiqueira e no Vale do Paraíba.

No litoral do estado a situação é de atenção em relação aos volumes menores previstos comparando com as demais localidades, mas ainda assim há previsão de pancadas de chuva com moderada a forte intensidade acompanhada de raios e rajadas de vento consideráveis.

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