Condeúba/Irundiára: Maracás, o mito da dança dos facões “Folia de Reis”
Fizemos esta matéria com o objetivo de resgatar uma memória mirabolante que estava aparentemente esquecida. Por isso, resolvemos homenagear esse grande talento popular condeubense com pseudônimo de “Maracás”, pelo personagem que ele representou durante toda sua vida.
Maracás trouxe muitas alegrias em vários seguimentos e muitos momentos de sua vida, como profissional, hora como amigo, ou porque não como esposo e como pai, que de certa forma ele deu um exemplo mirabolante à sociedade, mesmo com tantas alternâncias em suas diversas uniões conjugais.
Mas, Maracás ficou coroado de êxito por toda a população que o assistiu durante sua vida, foi nas Folias de Reis, quando ele dançava com os facões, essa sim, sempre foi a atração maior de sua Frota de Reis.
Colaboradores: – Colaboraram muito nesta matéria, nos passando informações sobre a vida de Maracás, os amigos: Eduardo Lima Viana músico – SP. Elton Soares de Oliveira historiador e contista – Guarulhos/SP., as três ex-esposa de Maracás todas em Irundiára Sras. Jovenita Alves de Lima, Alvina Lima dos Santos e por último Dallina Duques Soares, além do seu filho o grande parceiro Emanuel Sousa Lima – Irundiára. Nós do Jornal Folha de Condeúba, agradecemos imensamente a todos pela colaboração e grande parceria.
A HISTÓRIA DE MARACÁS
Osvaldo Lima Sousa popular “Maracás” nasceu no dia 6 de junho de 1936 no município de Condeúba/BA., ele era filho de Joaquim Ferreira e Maria Rosa de Jesus, faleceu no dia 3 de março de 1997 no Distrito de Irundiára Jacarací/BA., com 61 anos de idade. De origem negra, não era alfabetizado, deixava a barba sempre a fazer, era calvo, fumava o tempo todo, mascava fumo, gostava de tomar umas pingas no final de semana, namorador, mas com tudo, foi um grande homem fazendo coisas simples, porém verdadeiras, tudo que ele fazia cativava o povo pela qualidade do produto que vendia ou do serviço que ele prestava. Maracás marcou a infância de muitos jovens que tiveram a oportunidade de conhecê-lo.
Profissões: – Maracás foi um homem simples, mas muito inteligente, ainda muito jovem, ele aprendeu o ofício de celeiro, ou seja, fazia cela para montaria em animais cavalar e cangaia para uso em tropas, que na época era muito usual. Mas paralela a esses produtos, ele fazia uma infinidade de outros como, suador de cela, fazia chinelo de pneus, cinto, chapeu de couro, embornais de couro, chuteiras com trave de pregos, quando os jogadores encontravam na disputa pela bola, os adversários ficavam rasgados pelos pregos das traves das chuteiras feitas por Maracás, além de tantos outros serviços que ele fazia.
Curiosidade: – Maracás trabalhava os produto antes mesmo de usar, ele tinha as agulhas apropriadas para a costurar manualmente os objetos de couro, e usava uma linha tipo barbante, mas não era muito forte, então Maracás passava cera de abelha com o intúito de fortalecer mais a linha e facilitava também, a passagem dos pontos nos buracos do couro. Já o couro ele mesmo fazia o cortume do couro cru, transformando o em sola. Maracás pegava no mato casca de angico e colocava dentro de uma grande vasilha com sal grosso e água, deixava por alguns dias até que a coloração da água ficasse parecida com chá, aí ele jogava o couro cru dentro e depois de mais alguns dias estava pronto o cortume, o couro cru de antes se transformava em sola. Maracás fazia de tudo e um pouco mais, fazia ferraduras pra cavalo, ferrava carro de bois e fazia ferro para marcar os animais, consertava espingardas e prestava tantos outros serviços.
Cozinheiro: – Maracás aprendeu também desde muito cedo a arte de cozinhar, era um senhor profissional da cozinha, de tal modo que ele era sempre o escolhido para fazer as comidas das grandes festas.
Casamentos: – 1º) – Maracás foi um grande artesão pelas obras que ele fazia, mas também foi um grande conquistador de corações, de tal forma que ele casou-se pela primeira vez aqui em Condeúba sua cidade natal, com a Sra. Geralda Percilia de Jesus (in memorian), com quem teve quatro filhos Osvaldo Bento Coutinho (in memorian), Raimundo Bento Coutinho (in memorian), Lúcia Maria de Jesus (in memorian) e Maria Aparecida de Jesus Silva. É sabido em Condeúba que Maracás foi pai também de uma menina fora deste seu primeiro casamento ou seja, extra matrimonial.
2º) – Depois que Maracás se mudou para Irundiára casou-se mais três vezes, pela ordem com a Sra. Jovenita Alves de Lima e foram morar na zona rural, com a qual teve o filho, Aldo Alves de Lima Sousa.
3º) – Maracás pareceu não gostar muito de morar na zona rural, logo ele retornou para a sede do Distrito de Irundiára, casando-se com a Sra. Alvina Lima dos Santos com a qual viveu aproximadamente 13 a 14 anos e com ela tiveram 4 filhos uma menina recém nascida faleceu, hoje são 3 irmãos Emanuel Sousa Lima, Osvaldo Lima Sousa conhecido como flor, e Marcos Lima Sousa.
4º) – A seguir Maracás casou-se pela quarta e última vez com a Sra. Dallina Duques Soares, com a qual teve uma filha por nome de Luciene Duques Lima.
Folia de Reis: – Maracás tudo que pegava pra fazer, ele conseguia e fazia muito bem feito. Além do grande artesão que ele foi, também se notabilizou nas Folias de Reis com sua apresentação mirabolante, a dança dos facões, Maracás dançava junto com sua companhia de Reis, usando dois facões e fazia uma grande estrepolia, era o ponto máximo dos Reiseiros, a dança dos facões, ele sempre foi muito aplaudido pelo numero que fazia. Maracás ainda tocava flauta e batia caixa, ele marcou a vida cultural de Condeúba e de Irundiára.
Carnaval: – Maracás gostava muito de carnaval e quando chagava o dia dos desfiles, ele fundava dentro vestido a carater e com sua careta de fabricação própria. Ao mesmo tempo que Maracás era uma pessoa bondosa, ele não enjeitava brigas, não levava desaforo para casa, principalmente se já tivesse tomado umas cachaças.
Irundiára: – Em 1970 Maracás separou da sua esposa Geralda Percilia de Jesus que ficou em Condeúba e ele mudou-se para Irundiára a convite do seu amigo José Neto, para quem Maracás foi trabalhar na sua fazenda, a qual é localizada na Estrada do Arrudeio que fica na margem direita do Rio Gavião rumo a Condeúba. Maracás foi morar lá com a sua segunda esposa a Sra. Jovenita Alves de Lima. Logo Maracás separou dela e mudou-se para a sede do Distrito de Irundiára município de Jacaraci, onde construiu uma casa e se casou pela terceira vez com a Sra. Alvina Lima dos Santos. A seguir Maracás casou-se pela quarta e última vez com a Sra. Dallina Duques Soares.
Saúde de Maracás: – Já no final de sua vida, Maracás contraiu uma doença nos seus testículos, os quais não paravam de crescer, na época ele fez muitos exames e não foi descobrto a causa da doença, pouco tempo depois, ele não resistiu e foi a óbito em Irundiára no dia 3 de março de 1997, onde seu corpo foi sepultado.
De quem vem de Condeúba, chegando no Distrito de Irundiára, a primeira praça na chegada recebeu o nome de Osvaldo Lima Sousa popular “Maracás”, Foi uma iniciativa do vereador João Brito Dias que fez o Projeto de Lei e a Câmara aprovou essa grande homenagem feita pelo Legislativo Jacaraciense, a qual foi inaugurada no dia 2 de outubro de 2021.
Fotos: Acervo familiar
Eu Emanuel Sousa Lima, em nome dos meus irmãos, agradeço imensamente a todos envolvidos na matéria sobre meu pai Osvaldo Lima Sousa, conhecido como “Maracás, obrigado a todos por esse importantíssimo registro sobre a vida dele, que até então, não tinhamos a menor idéia que isso visse um dia acontecer. Agradecemos em especial ao jornal Folha de Condeúba pelo resgate histórico feito atrasvés do jornalista Oclides da Silveira que tanto dedica à nossa Cultura local e regional.
Seria seu pseudônimo retirado do Tupi mara’ka, uma espécie de chocalho? Um instrumento musical composto por uma bola ou cabaça oca que contém grãos, sementes ou areia, e que se agita ritmadamente pela haste? Certamente o seu gingado trazia o medo e a alegria de crianças, adultos e idosos, as suas danças certamente pareciam o dançar de uma cascavel.
Obrigada amigo Oclides pela matéria.
Homenagens ao meu sogro, que pouco conheci, pois quando cheguei em Condeúba ele já morava em Irindiára, não tinha mais relacionamento com os filhos da primeira esposa, com quem ele era casado no religioso. Fui casada com Raimundo, o filho mais velho dele. Obrigada pela bela homenagem à Maracás.
Conheci Maracá, trabalhei para ele costurando capa de sela. Morava na rua do Sobrado. Levava a semana toda para fazer uma sela. Era alegre e me pagava no final de semana pelo serviço. Cantador de reis, tinha o seu Terno. Dançava com dois facões com muita habilidade, destreza e evoluções
Comentário…
Maracá, do anonimato para o mundo! Condeúba, Jacaraci e Caculé é um polo cultural importante, da bacia hidrográfica do Rio de Contas. Muitas personalidades se destacaram no cenário nacional e regional. Entre essas pessoas, Maracá, filho natural de Condeúba e adotivo de Irundiara. Maracá trazia na pele, no cabelo, no formato do rosto os traços afro descentes. No canto, na ginga, nos hábitos e na dança dos facões toda expressão que corta, perpassa o tempo. O registro histórico feito por Oclides Silveira, imortaliza um homem pobre e rico ao mesmo tempo. Rico de cultura, desprendimento, síntese do povo brasileiro. Viva o registro histórico, destituído de preconceito! Parabéns, Oclides!
É de suma importância resgatar a história de artistas como Maracás, figura que muito representou Condeúba com o seu talento e a sua arte. Desejo que o Jornal Folha de Condeúba, continue fazendo memória de grandes nomes da arte e da cultura condeubense.
Um grande abraço!
Antônio Santana,
Escritor e poeta.