Cisternas no Sertão
Por Ivan Sousa – Poeta, cordelista, jacaraciense
Doutor eu sou lá do mato
Morador de uma grota
Onde tem uma linda serra
De onde uma água brota
Minha casa é de sapê
Se quiser pode ir lá vê
Onde minhas galinhas botam
Na frente lá do meu rancho
Tem um pé de umbuzeiro
Um cachorro bom caçador
Um galo índio no terreiro
Tanque pra lavar prato
Um gatim pra pegar rato
Pense num bicho ligeiro!
Certo dia lá em casa
Bateu palma no eitão
Sair para ver quem era
Deparei-me com um cidadão
Perguntou a minha Graça
Respondi, sou João Fumaça
Conhecido na região
Tirou foto de minha casa
Com uma máquina moderna
Sentou no meu banco velho
Descansou, cruzou a perna
Esticou o dedo com junta
Mim fez uma curta pergunta
O senhor já tem cisterna?
Pensei! minha Santa Maria
Nossa Senhora do Desterro
Meu sonho é ter uma dessa..
Deixa eu assinar esse termo
Aqui nessa terra sofrida
Ela é assim conhecida
Como a caixa do GOVERNO
Fez mil e uma pergunta
Se minha mulher era branca?
Se na casa tinha banheiro?
Se a telha era cerâmica?
Passou trena em todo lado!
Deu 200 metros quadrados
Porque a bicha tem anca
Perguntou se eu tinha zap?
Respondi, claro patrão
Esse bicho é importante
Igual carne no feijão
A tecnologia nos ensina
Qual o preço da gasolina
E o resultado da eleição
Participei de um curso
Longe de onde morava
Passei a perna na jumenta
Logo cedo lá estava
Pensa num curso bacana
Se fosse pra durar uma semana
Por mim eu lá ficava
Abri um buraco no chão
Parecendo uma sepultura
Gastei quase um enxadão
Queimei um pouco de gordura
Mas era um empreendimento
Importante para meu sustento
Que fiz com desenvoltura
Ela foi criando forma
E eu olhando encantado
Enfeitou a minha casa
Foi um sonho realizado
Branquinha igual uma neve
Esperando que em breve
Caia chuva no telhado
Bem no final de outubro
A cigarra abriu o bico
Eu pensei e logo logo
Mas será o Benedito?
Começou a invernada
E eu com água armazenada
Eu vendo nem acredito!
Ficou só pra os animais
Aquela água amarelada
Hoje eu tenho mais saúde
Tomando uma água tratada
Acabou a dor de barriga
Causada pela lombrigas
Que tanto me castigava
Meu sítio valorizou
Valendo quase um trilhão
Mas é claro que não vendo
Ele é minha diversão
Hoje aqui na minha terra
A bendita da cisterna
É a rainha do *Sertão*.
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