* Levon Nascimento
A busca pela resposta da pergunta acima precisa ser cuidadosamente pensada por quem deseja uma Taiobeiras melhor e mais justa.
No segundo turno da eleição presidencial de 2018, diante da campanha política mais escandalosa e viciada que o Brasil já viveu na era democrática, Fernando Haddad, do PT, alcançou em Taiobeiras 34,7% dos votos válidos, contra 65,3% do ex-capitão expulso do Exército, candidato da extrema-direita.
Parece pouca a votação de Haddad, sobretudo em comparação com o resultado norte-mineiro, região em que está Taiobeiras, onde o candidato petista venceu em mais de 90% dos municípios.
No entanto, estamos a tratar de Taiobeiras, município fortemente alinhado à visão aristocrática da sociedade, historicamente dominada por um alinhamento a princípios de direita.
Não custa lembrar de que em Taiobeiras não venceram Vargas, Juscelino e Lula, os três presidentes mais populares da história brasileira.
Na política local, em linha do tempo, prevaleceram sucessivamente a UDN, a ARENA e o PSDB, os partidos em que periodicamente se organizaram as oligarquias brasileiras anti-povo, mesmo com metade da população vivendo com uma média de menos de meio salário mínimo per capita, segundo dados do CadÚnico em 2016. Com a crise econômica persistente, nada faz supor que esse indicador tenha melhorado na atualidade.
Além do mais, praticamente não houve campanha orgânica de Haddad no município. Daí que a sua votação quase que espontânea revela que há um público de cerca de 5.600 pessoas (e suas respectivas famílias) que não se deixou dominar pela avalanche de fake news e ódio fascista.
Também, nada faz supor que os votos dados ao ex-capitão expulso do Exército são necessariamente expressões do pensamento fascista. O mais correto seria entender que uma grande parte da população se deixa guiar pelo pensamento hegemônico no município. Uma candidatura diferenciada na proximidade municipal poderia despertar a atenção de parte desse público para uma agenda de conquistas coletivas, retirando-o da bolha bolsonarista.
Em que pese a fragilidade da representação de esquerda no município, admito, esse quadro revela que há espaço para uma candidatura à prefeitura alinhada aos princípios de igualdade social e econômica para a maioria do povo.
O eleitorado de Haddad não se deixou encabrestar e há chances de crescer entre os votos de Bolsonaro, explorando a identidade de classe trabalhadora e sofredora, que une a maioria dos taiobeirenses.
Penso além: acredito que seria a oportunidade de politizar temas que dizem respeito às condições da maioria do povo, que vive em situação de vulnerabilidade social, econômica, racial e de gênero.
O candidato da esquerda poderia furar o bloqueio da falta de debate das candidaturas tradicionais, que invariavelmente focam em ataques pessoais e comparações de personalidade dos competidores. Seria a chance ideal de qualificar a disputa política, dando-lhe o que deveria ser comum: opção de fato ao eleitor.
Resta organização, desprendimento e coragem a quem sonha com uma Taiobeiras do século XXI, distante do pensamento escravocrata do século XIX.
* Levon Nascimento é professor de História e mestre em Políticas Públicas.
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