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Por Nando da Costa Lima

Minha mãe tinha comprado meu primeiro velocípede… Eu estava passeando na porta da igrejinha e parei pra escutar aquele homem gordo que vivia elogiando Pedral, tinha muita gente em volta quando ele disse na maior altura que o Prefeito era comunista, o exército tinha as provas; o padre mandou ele ir falar de política na porta do batalhão, ali não era lugar! Eu corri pra casa e disse pra Dinda que tinha um homem falando que “Zé Pedral” era comunista, ela ficou retada e disse que devia ser algum safado vira folha, aí que eu notei que o homem gordo daquela vez não estava elogiando! Fiquei sabendo no mesmo dia que comunista era vermelho e gostava de comer criancinha, esta revelação me intrigou:

Zé Pedral não era vermelho, disso eu tinha certeza! Eu estudava na escola de Tia Lícia, sua primeira esposa, e das vezes que ele entrou lá deu pra ver que era branco. Quanto ao churrasco de criança, disso eu não podia ter certeza.. .Da terceira vez que indaguei sobre comunismo me cortaram definitivamente falando que política era coisa de gente grande e dava cadeia. Mas por mais que eu ten­tasse aquilo não me saia da cabeça…, fiquei mais confuso ainda quando fui com meus pais buscar J. Pedral, ele tinha sido solto. Não dava pra entender porque prenderam o homem se todo mundo da cidade gostava dele, nem porque soltaram já que era um comunista. Mesmo na dúvida não perguntei nada, era coisa de gente GRANDE.. .mas ficava sempre ligado nas conversas dos adultos, uma vez eu escutei um político cassado falar pra meu pai que Castelo era um bosta.

Lembro-me que gostei de escutar aquilo, acho que foi porque ele tinha cassado São Jorge, um dos santos preferidos de Dinda, a imagem que eu tinha de Castelo era a pior possível! Mas quando o avião dele explodiu fiquei com pena, achei até ruim quando soube que aquele político cassado tinha soltado uma caixa de foguetes pra comemorar. Pensei que a revolução tinha morrido com Castelo, aí meu irmão mais velho falou que o exército continuava mandando. O exército passou a ser o vilão da minha infância. Além de ter prendido o marido de minha professora, cassou o São Jorge de Dinda e o Cosme e Damião de minha mãe.

Em nossa casa raramente se falava de política, meu pai evitava, eu imaginava que era porque médico tinha que tratar e ser amigo de todo mundo, até de comunista! A visita que eu mais gostava era seu Gilberto, nosso vizinho, ele sempre comentava sobre a revolução, segundo ele o exército já tinha tomado “as rédeas do poder”, sô uma revolta popular podia conter aquele processo. Eu não entendi bem aquilo, mas uma vez eu vi o dono da venda falar pra um freguês na hora que ele passou pela porta -“Aquele ali se fudeu com a revolução”.

E isso qua­se me fez levar uma surra, é que um dia logo depois que seu Gilberto saiu lá de casa, eu virei pra minha irmã e falei crente que tava abafando “Esse aí se fudeu com a revolução”. Dinda me deu um beliscão e ameaçou contar pra meu pai caso eu re­petisse; Vô Almirante tava na hora e não falou nada, eu senti que ele deu as costas só pra não ri em minha frente. E mais uma vez me pediram pra parar com aquela bobagem de revolu­ção, política era coisa de gente GRANDE…

O tempo passou, e do menino que andava de velocipede e estudava pré-primário na época da revolução só ficou a famosa foto que todos tiravam sentados na escrivaninha de Tia Lícia folheando um livro e ten­do ao lado um globo terrestre e a bandeira brasileira. Vieram os filhos, e hoje quando eles procuram explicação para a situação atual do país. Dessa revolta sem líderes nem partidos. Não tem como deixar de imaginar:

Se as forças cujo dever é manter a ordem e proteger nossas fronteiras resolverem punir os vândalos e unirem-se às concentrações passivas reivindicando junto a eles??? Seria coerente que nossos politicos de direita, de esquerda e até os que ficam em cima do muro, ao invés de aproveitarem da situação, analisassem esta probabilidade com mais veemência, sem esquecer que democracia não é só um termo para ser usado em frases de efeito ditas em palanques. Deixa a politica de lado “minimo”, politica é coisa de gente…

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