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A “síndrome do bom-crioulo”

O ativismo de pessoas negras não foi feito para agradar pessoas brancas. E é aí que entra a “síndrome do bom-crioulo”.

Por Juliana Borges

É provável que muitos militantes e ativistas negros se identifiquem com as palavras ditas aqui. Situações “clássicas”, nas quais somos usados de escudo e, quando não mais servimos a propósitos para demonstrar o quão desconstruído um branco é ou o quão esforçado é para sê-lo, somos pintados como histéricas, arrogantes, intolerantes, raivosos e a lista só cresce. Tenho chamado isso de “síndrome do bom-crioulo”. A história meio que se parece entre muitos e muitas de nós.

No processo de tornarmo-nos negros, muitas são as descobertas que fazemos. Estas descobertas, por sua vez, vão constituindo um olhar cada vez mais clínico e crítico diante e sobre o racismo. As análises, portanto, vão se sofisticando. As propostas de ação vão sendo integradas, se aprofundando numa relação dinâmica entre a teoria produzida pela intelectualidade negra e a ação decorrentes desta apreensão de novos conhecimentos. Este processo faz com que lidemos de modo cada vez mais astuto, que identifiquemos o racismo de modo cada vez mais ágil e que percebamos as sutilezas, como dizia Beatriz Nascimento, do racismo de modo cada vez mais aprimorado. Este aprimoramento na percepção do racismo em todas as relações sociais, culturais, nas instituições políticas, jurídicas, legislativas, etc., faz com que a denúncia e a ação de nosso ativismo seja cada vez mais incisiva, inclusive porque captura as profundezas da problemática racial e como esta estrutura nosso país. Nada de absurdo, já que um processo absolutamente comum em quaisquer ativismos. Continue lendo