Planalto opta pela trapalhada na eleição do senado

Congresso Nacional

A desarticulação política do Planalto aproxima o governo de Jair Bolsonaro da frigideira na disputa pela presidência do Senado. Numa articulação que inclui lances de egocentrismo e megalomania, o ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil) imprime as digitais da Presidência da República na candidatura de Davi Alcolumbre (DEM-AP). Trata-se de algo muito parecido com uma opção preferencial pela trapalhada, pois até os aliados do governo avaliam que não há milagre capaz de fazer de Alcolumbre o próximo comandante do Senado.

No seu penúltimo lance, Onyx enviou um emissário para conversar com Simone Tebet (MS), que mede forças com Renan Calheiros (AL) pela vaga de postulante do MDB ao comando do Senado. Em nome do chefe da Casa Civil, o deputado não-reeleito Leonardo Quintão (MDB-MG) propôs que Simone abdicasse de sua pretensão em favor de Alcolumbre. Em troca, o governo apoiaria uma candidatura da rival de Renan para chefiar o Senado no biênio 2021-2022. A oferta, por risível, foi refugada.

Em vez vez de recuar, Simone avançou. Reuniu-se a portas fechadas, por exemplo, com Tasso Jereissati (CE), candidato do PSDB. Aproximou-se da obtenção do apoio do tucanato. Em privado, Tasso já acena com a hipótese de se juntar à adversária de Renan caso ela prevaleça na briga interna do MDB. De resto, Simone procurou aliados para informar que não cogita recuar

Além de exorcizar o flerte do Planalto, Simone Tebet desmontou uma trapaça que atribuiu a Renan. A senadora contou que o companheiro de partido espalhava o “boato” de que a candidatura dela seria de fachada. Coisa urdida com o propósito de simular uma disputa partidária e atenuar a onda de ataques a Renan. Nessa versão, Simone desistiria na reta de chegada. Como prêmio, levaria a presidência da Comissão de Constituição e Justiça.

Simone disse aos colegas que considera “inaceitável” qualquer tipo de composição com o cacique alagoano. “Do contrário, teria que mudar do Brasil”, ela exagerou. Quanto à sondagem encomendada por Onyx Lorenzoni, tachou-a de “ofensiva”. No esforço que empreende para inflar seus desastres, o chefe da Casa Civil conseguiu irritar até os hipotéticos aliados.

O senador eleito Major Olímpio (SP), lançado pelo PSL, partido do clã Bolsonaro, como alternativa na corrida pela poltrona de presidente do Senado, diz cobras e lagartos de Onyx. Acusa-o de meter o nariz onde não deveria. O deputado Rodrigo Maia (RJ), correligionário de Onyx no DEM, também está irritado.

Em harmonia com o óbvio, Rodrigo Maia concluiu que nem o Todo-Poderoso conseguiria convencer os demais partidos a admitir que o DEM presidisse simultaneamente as duas Casas do Congresso. Por isso, Maia enxerga o esforço de Onyx para emplacar Alcolumbre no Senado como uma espécie de sabotagem contra a sua reeleição na Câmara, já praticamente pavimentada.

Aos pouquinhos, Onyx vai conseguindo a proeza de unificar as forças políticas contra o Planalto. Azeda as relações a pretexto de empinar a anticandidatura do azarão Alcolumbre. Em condições normais, seria como pisar de propósito numa casca de banana. Num instante em que Flávio Bolsonaro, filho mais velho do presidente, chega ao Senado emporcalhado pelo Coaf, é como se Onyx estivesse decidido a impor ao governo a transposição de uma passarela recoberta de cachos de banana.

Blog do Josias

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