Naná Vasconcelos morre aos 71 anos

O músico tratava um câncer de pulmão desde 2015, quando iniciou o tratamento de quimioterapia e radioterapia

Credito: Rafael Martins/ Esp. DP- VIVER- Nana Vasconcelos, musico instrumentista.
Credito: Rafael Martins/ Esp. DP- VIVER- Nana Vasconcelos, musico instrumentista.

O percussionista pernambucano Naná Vasconcelos não resistiu a complicações de um câncer de pulmão e faleceu, nesta quarta-feira (9), às 7h39, aos 71 anos. O músico tratava a doença desde 2015, quando chegou a se submeter a sessões de quimioterapia. Na época, Naná enfrentou a situação com bom humor, e gravou vídeo com poesia. O velório teve início às 14h, na Assembleia Legislativa do Estado, na Boa Vista. O sepultamento foi confirmado para o cemitério de Santo Amaro, às 10h desta quinta-feira (10).

O percussionista premiado estava internado desde a semana passada, quando teria passado mal após show em Salvador (BA). O quadro do músico piorou no último sábado. Em dezembro de 2015, Naná recebeu título de doutor honoris causa pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Autodidata, nunca frequentou escola de música, nem se graduou, mas logo se firmou como um dos mais respeitados instrumentistas do país, tendo colaborado com nomes como Egberto Gismonti, Pat Metheny, além de ter produzido o primeiro álbum do Cordel do Fogo Encantado.

Detentor de oito Grammys, o percussionista costumava quebrar protocolos e substituía, sempre que permitido nas cerimônias, os discursos por apresentações musicais.

03/02/2016 - Credito: Nando Chiappetta/DP - Local - Ensaio da abertura do Carnaval no Marco Zero com Nana Vasconcelos e Lenine.na foto -Nana Vasconcelos
03/02/2016 – Credito: Nando Chiappetta/DP – Local – Ensaio da abertura do Carnaval no Marco Zero com Nana Vasconcelos e Lenine.na foto -Nana Vasconcelos.

Naná, que aos 12 anos tocava profissionalmente em bares e clubes noturnos (onde lhe exigiam até autorização judicial), ao lado do pai, aprendeu a tocar sozinho, usando os penicos e as panelas de casa, ainda na infância. Não frequentou aulas de música, não ingressou na faculdade. Em entrevista concedida ao Viver, ele afirmou: “Quando você aprende teoria musical por livros, precisa sempre consultar os textos. Quando você aprende com o corpo, é como andar de bicicleta. Seu corpo se lembra.”

Em 2015, ele passou quase um mês internado para tratar do câncer no pulmão esquerdo, no mesmo centro médico onde veio a falecer. Um de seus últimos projetos foi o Café no bule, em parceria com Zeca Baleiro e Paulo Lepetit. Compostas a distância, por telefone e e-mail, e em encontros em São Paulo, as 10 faixas mesclam referências de vários ritmos, como jazz, afoxé, samba, maracatu e jazz. Entre elas, três vinhetas, espécie de “gole d’água ou de vinho”, ideia de Naná, que gostava de brincar com construções onomatopeicas.

O pernambucano não esteve nos primeiros shows do disco, em Varginha, interior de Minas Gerais, no início do mês. Foi representado pela gravação realizada em estúdio e homenageado com música composta pelos outros dois.

Após receber alta, Naná começou a preparar o retorno aos palcos, que ocorreu em setembro, em Maceió. Neste ano, ele comandou a abertura do carnaval do Recife, coisa que fazia há mais de 15 anos. No palco do Marco Zero, recebeu Lenine e a cantora caboverdense Sara Tavares como convidados, após comandar cortejo de maracatus e caboclinhos pelas ruas do Bairro do Recife.

A inclusão dos caboclinhos na cerimônia era projeto de Naná, a fim de dar maior visibilidade ao grupo folclórico, que ele considerava esquecido pelos pernambucanos. O percussionista inovou, ainda, ao se apresentar no polo Rec-Beat, no Cais da Alfândega, com programação mais alternativa.

Naná deixa duas filhas, Jasmim Azul e Luz Morena. Em entrevista ao Viver, em dezembro passado, chegou a declarar: “Minha maneira de pensar a percussão vai continuar viva depois de mim.”

O governador Paulo Câmara decretou luto oficial de três dias no estado. “Pernambuco acordou triste. O silêncio causado pelo desaparecimento de Naná Vasconcelos em nada combina com a força da sua música, dos ritmos brasileiros que ele, como poucos, conseguiu levar a todos os continentes. Naná era um gênio, um autodidata que com sua percussão inventiva e contagiante conquistou as ruas, os teatros, as academias. Meus sentimentos e a minha solidariedade para com os seus familiares”, diz o documento assinado pelo político.

O prefeito do Recife, Geraldo Julio, também lamentou o falecimento do mestre Naná Vasconcelos, homenageado do Carnaval do Recife 2013 e lembrou que, por 15 anos, o percussionista fez a abertura oficial da folia do Recife.

Repercussão
Nas redes sociais, amigos e artistas de Naná Vasconcelos prestaram as últimas homenagens, incluindo o rapper Emicida, que colaborou com Naná na trilha da animação O menino e o mundo, e Gilberto Gil, que publicou uma foto antiga dos dois juntos.

“Descanse em paz grande Naná Vasconcelos. Obrigado por compartilhar seus sons conosco! Dia triste para a música”, escreveu Emicida no Facebook.

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