Dois Julho: História da Independência da Bahia ainda é desconhecida pelos baianos

Apesar de ser uma data de grande importância, Dois de Julho, marcado pela Independência da Bahia, é uma parte da história pouco conhecida pelos baianos. Em conversa com os soteropolitanos e turistas, nas ruas de Salvador, há uma certa confusão sobre o contexto do feriado desta segunda-feira (2).

Ao BNews, a jovem Emile Lima, 23 anos, confessou saber da importância do feriado, mas não conhece a história. ‘’Eu sei que é a Independência da Bahia, mas não sei tanta coisa não. Não é muito divulgado e nem muito enfático nas escolas para gente. Foi uma coisa importante, né? Mas a gente só ouve mais falar no dia mesmo, o que os jornais passam, aquela coisa resumida’’.

O rapaz Lázaro Simões, 22 anos, compartilha da mesma situação de Emile, não estava sabendo da data e contou que vai aproveitar o feriado para relaxar. ‘’Eu sei muito pouco, quase nada, ou seja nada. Amanhã é um dia pra relaxar, tô de férias’’.

Além disso, parece que a Copa do Mundo contribuiu para tirar o protagonismo da Independência da Bahia que teve gente até que tinha esquecido da comemoração como a Patrícia Pamplona, 38 anos, ‘’Assim, na verdade eu nem me lembrava que era amanhã, a gente ta vendo o movimento, aí meu marido comentou do jogo…’’, relatou.

Para o turista, mineiro, Welington Vieira, 40 anos, que participa do evento tocando em uma fanfarra, admite que precisa saber mais do que o motivo da comemoração: a Independência da Bahia. ‘’Não estou muito por dentro, mas tem que ficar, né? Até porque a gente vem participar e tem que conhecer mais’’.

No entanto, a sabedoria dos mais velhos prevalece pelo menos entre os baianos. O idoso Carlos Vasconcelos de Souza, 67 anos, que é engenheiro químico aposentado e, atualmente, vendedor ambulante no Farol da Barra, fez um resumo desse marco histórico. ‘’Sei do Dois de Julho. O dois de julho de 1823 dia da Independência da Bahia, o do Brasil foi 7 de setembro de 1822. As forças leais ao imperador Dom Pedro vieram de cachoeira para cá, inclusive no dia dois de julho existe o trajeto que é feito de Cachoeira até salvador, Pirajá, e amanhã vai ter, a partir da Lapinha, um desfile com os símbolos nacionais até o Campo Grande, onde fica o caboclo.

Sem esquecer da participação de Maria Quitéria e Joana D’Arc, Fernanda Oliveira complementou ‘’A Independência da Bahia, foi dada em uma batalha juntamente com as heroínas Maria Quitéria e Joana D’Arc’.

HISTÓRIA DO BRASIL                                                         Independência da Bahia

A Independência da Bahia: um dos mais intensos episódios de luta contra a dominação portuguesa no Brasil

A declaração de independência feita por Dom Pedro I, em sete de setembro de 1822, deu início a uma série de conflitos entre governos e tropas locais ainda fiéis ao governo português e as forças que apoiavam nosso novo imperador. Na Bahia, o fim do domínio lusitano já se fez presente no ano de 1798, ano em que aconteceram as lutas da Conjuração Baiana.

No ano de 1821, as notícias da Revolução do Porto reavivaram as esperanças autonomistas em Salvador. Os grupos favoráveis ao fim da colonização enxergavam na transformação liberal lusitana um importante passo para que o Brasil atingisse sua independência. No entanto, os liberais de Portugal restringiam a onda mudancista ao Estado português, defendendo a reafirmação dos laços coloniais.

As relações entre portugueses e brasileiros começaram a se acirrar, promovendo uma verdadeira cisão entre esses dois grupos presentes em Salvador. Meses antes da independência, grupos políticos se articulavam pró e contra essa mesma questão. No dia 11 de fevereiro de 1822, uma nova junta de governo administrada pelo Brigadeiro Inácio Luís Madeira de Melo deu vazão às disputas, já que o novo governador da cidade se declarava fiel a Portugal.

Utilizando autoritariamente as tropas a seu dispor, Madeira de Melo resolveu inspecionar as infantarias, de maioria brasileira, no intituito de reafirmar sua autoridade. A atitude tomada deu início aos primeiros conflitos, que se iniciaram no dia 19 de fevereiro de 1822, nas proximidades do Forte de São Pedro. Em pouco tempo, as lutas se alastraram para as imediações da cidade de Salvador. Mercês, Praça da Piedade e Campo da Pólvora se tornaram os principais palcos da guerra.

Nessa primeira onda de confrontos, as tropas lusitanas não só enfrentaram militares nativos, bem como invadiram casas e atacaram civis. O mais marcante episódio de desmando ocorreu quando um grupo português invadiu o Convento da Lapa e assassinou a abadessa Sóror Joana Angélica, considerada a primeira mártir do levante baiano. Mesmo com a derrota nativista, a oposição ao governo de Madeira de Melo aumentava.

Durante as festividades ocorridas na procissão de São José, de 21 de março de 1822, grupos nativistas atiraram pedras contra os representantes do poderio português. Além disso, um jornal chamado “Constitucional” pregava oposição sistemática ao pacto colonial e defendia a total soberania política local. Em contrapartida, novas forças subordinadas a Madeira de Melo chegavam a Salvador, instigando a debandada de parte da população local.

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Tomando outros centros urbanos do interior, o movimento separatista ganhou força nas vilas de São Francisco e Cachoeira. Ciente destes outros focos de resistência, Madeiro de Melo enviou tropas para Cachoeira. A chegada das tropas incentivou os líderes políticos locais a mobilizarem a população a favor do reconhecimento do príncipe regente Dom Pedro I. Tal medida verificaria qual a postura dos populares em relação às autoridades lusitanas recém-chegadas.

O apoio popular a Dom Pedro I significou uma afronta à autoridade de Madeira de Melo, que mais uma vez respondeu com armas ao desejo da população local. Os brasileiros, inconformados com a violência do governador, proclamaram a formação de uma Junta Conciliatória e de Defesa instituída com o objetivo de lutar contra o poderio lusitano. Os conflitos se iniciaram em Cachoeira, tomaram outras cidades do Recôncavo Baiano e também atingiram a capital Salvador.

As ações dos revoltosos ganharam maior articulação com a criação de um novo governo comandado por Miguel Calmon do Pin e Almeida. Enquanto as forças pró-independência se organizavam pelo interior e na cidade de Salvador, a Corte Portuguesa enviou cerca de 750 soldados sob a lideranaça do general francês Pedro Labatut. As principais lutas se engendraram na região de Pirajá, onde independentes e metropolitanos abriram fogo uns contra os outros.

Devido à eficaz resistência organizada pelos defensores da independência e o apoio das tropas lideradas pelo militar britânico Thomas Cochrane, as tropas fiéis a Portugal acabaram sendo derrotadas em 2 de julho de 1823. O episódio, além de marcar as lutas de independência do Brasil, motivou a criação de um feriado onde se comemora a chamada Independência da Bahia.

Por Rainer Sousa
Graduado em História

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