Artigo: Os pingos nos is

José Rodrigues de Novais Alegre Condeúba Barra do Rio Zona Rural BahiaA casa de Arlinda e Zeca

Vi hoje uma casa abandonada na roça, no sertão da Bahia, divisa com Minas, de pessoas que eu conheci quando criança, que já partiram do planeta. Fica na Barra do Rio, perto do Distrito do Alegre, Condeúba.

Sem demagogia, deu pra sentir na prática que ninguém é dono de nada.

A propriedade privada, se é que existe, é da Terra sobre nós. O inverso, jamais.

Artigo: Os pingos nos is

* Levon Nascimento

Taiobeiras cobrança custeio iluminação pública zona ruralCoisa mais comum é a sociedade organizada divulgar nomes e retratos de deputados e senadores que votam contra ou a favor de medidas de grande repercussão para a vida das pessoas.

Agora mesmo, listas de quem salvou Michel Temer de ser investigado pelos crimes dos quais é acusado, pulam em nossas vistas nas redes sociais.

É assim que funciona o Estado Democrático de Direito. Se é que ainda temos um.

Espantoso é que alguns vereadores e ex-vereadores acionaram a polícia contra o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Taiobeiras porque a entidade fez um banner com as fotos dos parlamentares que, em 2016, aprovaram a cobrança de contribuição de custeio de iluminação pública para quem mora na roça, onde não existe iluminação pública em frente das casas.

Coisa feia! Com tanta criminalidade atormentando a vida do povo taiobeirense, esses políticos foram chamar a polícia para a representação dos trabalhadores, gente honesta, que luta dia e noite para por comida saudável na mesa de quem mora na cidade. Lembrando que são alguns. Não todos.

Cobrar iluminação pública onde não tem iluminação pública, mais uma chicotada no lombo de quem trabalha. “Ah, mas o pessoal da roça vem para a cidade à noite, onde tem poste na rua, por isso tem que pagar”: devem pensar os responsáveis por essa insensatez. Como são esquisitos os nossos liberais meritocratas!

Provavelmente dizem que o Sindicato está fazendo política. Estranho seria se não estivesse. Se até uma mãe ou um pai ao dizer um não ou proibir os filhos de realizarem qualquer coisa estão agindo politicamente, usando do pátrio-poder, por que uma entidade de classe não poderia pressionar os políticos para defender os seus associados? Errado seria se não fosse assim.

Eu vi o banner com a lista dos que aprovaram cobrar contribuição de custeio de iluminação pública de quem não a tem. Não há calúnia, porque não acusa nenhum dos listados de ter praticado crime. Não possui difamação contra eles, pois não afirma que cometeram algum ato desonroso. Também não é injúria, pois mostra o que é verdade, ou seja, o modo como os parlamentares – livre e soberanamente – votaram numa seção da Câmara Municipal. Não é ilegal.

Pelo contrário, a lista é um ato de liberdade democrática que merece aplausos, conforme resguarda o artigo 5º da Constituição brasileira. Ela dá publicidade aos eleitores de como agem as pessoas que eles colocam no poder. Ah, se o nosso povo tivesse mais coragem de exercer assim a sua cidadania, se pressionasse mais os políticos, se participasse mais da vida e dos rumos do Estado e da sociedade! Talvez, seríamos um país melhor e mais avançado.

Que a bronca dos vereadores e ex-vereadores, que não gostaram nenhum pouco da bela ação do Sindicato, seja arquivada de pronto por quem de direito. Afinal, quem paga a conta é o povo trabalhador, que tem o direito de se indignar.

Na terra em que o povo não pode reclamar de seus políticos ou sofre perseguições jurídicas por causa disso, o nome que se dá é ditadura.

* Levon Nascimento é professor de História e mestrando em Estado, Governo e Políticas Públicas.

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